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Seropédica: alunos da UFRRJ dizem ser comum ver milicianos armados pelas ruas

O tiroteio que vitimou o aluno de Ciências Biológicas Bernardo Paraíso, de 24 anos, na segunda-feira (8), na BR-465, repercutiu para além dos limites de Seropédica. Uma das razões, claro, foi o fato de se tratar de um estudante de uma instituição federal, a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, baleado e morto por volta das 15h.

Mas não é de hoje que confrontos entre milicianos só fazem crescer o medo de moradores e universitários. Segundo relatos, eles perambulam armados e encapuzados pelas ruas à luz do dia e já até obrigaram o cancelamento de uma festa de alunos.

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O pontapé inicial para os tiroteios constantes em bairros da Zona Oeste do Rio de Janeiro e municípios da Baixada Fluminense – que já mataram outras oito pessoas, além de Bernardo, só em 2024 – seria a disputa pela “herança” de Luis Antonio da Silva Braga, o Zinho, que se entregou à polícia em dezembro de 2023.

O estudante da UFRRJ Bernardo Paraíso morreu durante tiroteio entre criminosos no Centro de Seropédica (Reprodução)

Em Seropédica especificamente, a disputa sangrenta que opõe quadrilhas inimigas se intensificou com a morte de Tauã de Oliveira Francisco, o Tubarão, durante uma operação policial em fevereiro. Ele seria chefe de um grupo contrário ao Bonde do Zinho.

Desde então, o medo passou a ser mais assíduo para moradores da cidade ou quem está lá apenas por um futuro melhor. O ATUAL entrevistou três universitários, além de uma professora, sobre tal realidade. Por segurança, os nomes serão omitidos.

MEDO MAIOR

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Uma aluna de 20 anos do curso de Ciências Sociais, que mora em Campo Grande e estuda em Seropédica desde 2022, é direta ao relatar a percepção de que os tiroteios se intensificaram na cidade:

“Têm crescido bastante o número de tiroteios. Existe uma tendência de guerra”

Aluna da UFRRJ

Já uma outra universitária, de 23 anos, também de Ciências Sociais, confessa que os alunos já estão “acostumados” a pagar a milicianos para promover eventos: “Com o aumento da disputa por territórios em Seropédica, estamos vendo bares fechando em dias de pico e cancelamento do Êxodo (uma festa cultural de início de período)”.

HOMENS ARMADOS PELAS RUAS

Ela, que estuda e mora no município desde 2019, destaca que já testemunhou cenas de intimidação: “Já presenciei estar num bar e, do nada, aparecer muitas pessoas encapuzadas e armadas, obviamente nos fazendo querer ir embora imediatamente”.

A aluna de 20 anos também ressalta a rotina de medo:

“Não é incomum ver milicianos portando armas, até mesmo fuzis, em ruas específicas de Seropédica, pelos km 49 e 50”

Aluna da UFRRJ

A jovem conta ainda que mesmo da universidade é possível ouvir o som do crime: “Se o tiroteio for no km 49 ou no Coqueiral, dá para ouvir os barulhos do campus”.

SONHO MANTIDO

Mas apesar do convívio rotineiro com a violência, eles descartam abandonar a UFRRJ: “Continuo com os planos da minha graduação, mesmo que o cenário ao redor do campus não garanta minha segurança”, reforça a estudante de 20 anos de Ciências Sociais.

Já um aluno de 25 anos, do curso de Educação do Campo, e que reside no campus desde 2019, cita a violência como um problema comum a todo o estado para explicar sua opção: “Não penso em sair pois conflitos podem ocorrer em qualquer território”.

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A mesma linha de raciocínio vale para a outra estudante de Ciências Sociais: “A UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro, com campus na capital) cancela aulas frequentemente por operações na Maré. O que aconteceu na Rural acontece em outros territórios.

E eu não quero que a Rural seja conhecida como a universidade do medo”

Aluna da UFRRJ

Ela completa: “Como estudante comprometida com a construção da universidade dos meus sonhos na Rural, não posso sentir medo ou acreditar que o afastamento seja a solução porque não é por esse caminho”.

Assim como alunos, a professora no curso de Meio Ambiente desde 2011 (atividade da qual está afastada no momento) também integra o grupo dos que não vão arredar o pé da UFRRJ devido à violência: “Resido na cidade de Seropédica e acredito que o caminho para enfrentarmos esta situação é nos unirmos”.

MEDIDAS DA UFRRJ PÓS-TRAGÉDIA

Ao ATUAL, a docente, que também é pró-reitora de assuntos estudantis, detalhou medidas que a universidade começou a tomar horas após o tiroteio, que não só matou Bernardo Paraíso, mas também deixou outros três inocentes baleados: uma mãe e seus dois filhos, de 1 e 3 anos.

A propósito, a menina de 3 anos passou por mais uma cirurgia nesta quinta (11), no Hospital Municipalizado Adão Pereira Nunes (HMAPN), em Duque de Caxias, para retirada de um projétil que a atingiu na coluna cervical. Ela segue em estado grave, e a família pede doação de sangue, o que pode ser feito no Hemorio.

Após reuniões que envolveram a comunidade universitária, a gestão da Rural, diretores de institutos e o Cepe (Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão), o primeiro ato foi suspender as atividades acadêmicas por toda a semana.

Além disso, há planos para se criar um comitê de segurança, composto por professores, técnicos e estudantes; estabelecer protocolos para quem reside no município; e formar uma rede de profissionais e docentes para o acolhimento da comunidade universitária.

Também estão em curso a elaboração de documentos para envio às autoridades e ministérios de Educação e de Planejamento; e uma conversa com a Alerj (Assembleia Legislativa do Rio), que ocorreu na última sexta (12) – e da qual não se havia anunciado nenhuma novidade até o fechamento desta matéria.

GOVERNO E PREFEITURA

Além da UFRRJ, o ATUAL também procurou a Secretaria de Segurança do Governo Estadual e a Prefeitura de Seropédica com questionamentos sobre medidas práticas após o episódio de segunda.

Por exemplo, um maior efetivo policial enviado pelo governo ou uma adesão ao Proeis, programa de reforço na segurança que a gestão municipal poderia contratar para desafogar o policiamento já existente. Até o fechamento desta matéria, porém, nenhuma das duas havia respondido.

Sobre ações policiais, ao longo da semana, operações resultaram em oito suspeitos presos. Dentre eles, Carlos Alexandre da Silva, de 54 anos, aliado de Jefferson Araújo dos Santos, o Chica, chefe de um dos grupos que vêm espalhando temor em Seropédica.  

Luiz Maurício Monteiro

Repórter com mais de 15 anos de trajetória e passagens por diferentes editorias, como Cidade, Cultura e Esportes.

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