Louça acumulada, banho em outro bairro… Moradores de Itaguaí criticam rotina sem água
Quem reside em bairros de Itaguaí como Coroa Grande e Somel tem compartilhado de uma dor de cabeça nos últimos meses: uma inconstância no fornecimento de água, que muitas vezes impede tarefas domésticas básicas, como lavar louça e até tomar banho. Eles alegam que o serviço nunca foi eficiente, mas piorou após a concessão em 2022.
Os transtornos renderam até uma reunião recente entre moradores e representantes da Rio+Saneamento, atual responsável pelo fornecimento de água no município, mas nada mudou. Este encontro, porém, serviu para alertar o ATUAL sobre a insatisfação com a empresa, principalmente daqueles que vivem em locais mais altos.
É o exemplo de Maria Cristina Rocha, que mora na subida para a Pousada Castelinho, em Coroa Grande. Em um print de uma conversa por WhatsApp com a concessionária, ela argumenta que as casas das ruas mais abaixo têm água, mas a sua, que fica acima, não.
Dependente das chuvas para acumular água na cisterna, a professora – que tem uma criança em casa – reclama: “A falta d’água é um transtorno para nós. Ou então a pressão baixa, que não faz a água chegar à caixa d’água”.
TRANSTORNOS
Morador de Vilar dos Coqueiros, sub-bairro do Somel, o aposentado Gilson Araújo também convive com a pressão baixa da água e, assim como Maria, lança mão de uma alternativa à caixa invariavelmente vazia. Ele conta que cavou em casa um poço artesiano a fim de ter água para que problemas como pilhas de louça e roupa sujas não se agravem.
A família – que vive na casa em quatro pessoas, sendo uma criança – só não usa a água do poço para beber e preparar alimentos, o que resulta em um gasto extra: “Tenho que comprar água potável no mercadinho, dois galões por semana por R$ 26”, detalha ele, apontando outro incômodo com a água da Rio+:
“Vem com uma coloração barrenta”
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADEGilson Araújo, cliente da Rio+Saneamento
Por falar em coloração barrenta, a psicopedagoga Mahara Queiroz, moradora do conjunto Frontal das Ilhas, também em Coroa Grande, chegou a gravar um vídeo (confira abaixo) que mostra a cor da água ao sair da torneira: “Quando fecham a água para manutenção, um ou dois dias depois, a água volta assim. Principalmente quando chove”, observa.
Ela, que vive com outras duas pessoas, cita outra adversidade na rotina de escassez: “Quando fecham a água, o primeiro lugar que fico sem é a bica da pia da cozinha, porque ali a água que vem da rua. Então nesses casos, tenho que lavar louça no tanque da área de serviço, usando aos poucos para economizar o que está na caixa”.
Maria enumera os problemas com os quais convive mais frequentemente: “A pia vive com louça acumulada, e as roupas, sujas, por não ter como lavar em casa. Tenho que lavar na casa da minha mãe, em outro bairro.
Muitas vezes também dou banho na criança na casa da minha mãe para tentar economizar em casa a pouca água que tem”
Maria Cristina Rocha, cliente da Rio+Saneamento
SITUAÇÃO PIOROU
Além das dores-de-cabeça provenientes da pouca ou nenhuma água, os moradores têm em comum também uma opinião: a situação piorou após a Rio+Saneamento assumir a concessão para fornecimento de água em Itaguaí, no segundo semestre de 2022.
Gilson é direto: “A situação começou a ficar ruim deste jeito logo após a Rio+ assumir”.
Maria Cristina corrobora com a declaração de Gilson, mas salienta que os problemas já existiam com a antecessora: “Piorou quando a nova administração assumiu. Já havia falta d’água com a Cedae, mas ficar oito dias sem água só aconteceu com a Rio+”.
Ela dá mais detalhes: “Quando era a Cedae, tínhamos vazão zero na residência, pois não chegava água na frente da minha casa. Sempre foi pela casa de terceiros, uma canalização que a Cedae nunca se mexeu para arrumar. E agora a Rio+ também não”.
Mas apesar das torneiras secas constantemente, a conta não deixa de chegar: “Chega todos os meses. Mesmo sem passar uma gota pelo hidrômetro”, acrescenta a professora.
RECLAMAÇÕES EM VÃO
Na esperança de mudar tal cenário, Maria Cristina já fez contato com a concessionária. Ela conta, no entanto, que mesmo com visitas das equipes, nada mudou: “Já estiveram por três vezes na minha residência pra verificar o hidrômetro”.
Gilson chegou a falar pessoalmente com técnicos da empresa: “Expliquei o que ocorre com o abastecimento. Disseram que encaminhariam ao setor responsável, mas nada”.
Já Mahara ouviu a mesma resposta quando tentou reclamar com a Rio+: “Alegam que estão trabalhando para trazer melhorias””, conta a moradora, insatisfeita também com a comunicação da empresa: “Param o fornecimento sempre com a desculpa das melhorias, mas nem sempre avisam. Quando vejo, já estou sem água”.
RESPOSTA DA RIO+
O ATUAL também procurou a Rio+ para tratar do caso dos entrevistados. Por nota, a empresa afirmou que opera trocas de tubulações em Coroa Grande e adjacências desde junho de 2023 e que realiza “estudos e estratégias para melhorias do abastecimento”.
A Rio+ fala ainda em um investimento de R$ 12 milhões em Itaguaí, ao longo de 2024, para instalar e substituir mais de 36 km de redes, além de implementar “novas bombas e pontos de monitoramento remoto de pressão e vazão no sistema de fornecimento”.
Sobre a coloração barrenta, a empresa assegura que realiza análises em toda a rede de distribuição e que, a partir dos resultados, elabora um relatório mensal e o divulga em contas e no site da empresa para conhecimento da população.
A concessionária encerra mencionando contato e encontros regulares com representantes de associações de moradores e disponibilizando os seguintes canais de contato: telefone 0800 772 1027 (WhatsApp) e site www.riomaissaneamento.com.br.
A Rio+, no entanto, não deu explicações específicas sobre os problemas de dois dos moradores entrevistados já que solicitou à reportagem os respectivos endereços.
AGENERSA ORIENTA
O ATUAL fez contato ainda com a Agenersa (Agência Reguladora de Energia e Saneamento Básico do Estado do Rio de Janeiro), que fiscaliza o serviço da Rio+.
Também por nota, a agência comunica que recebeu da concessionária a informação de que “a rede está em processo de substituição em alguns logradouros em Coroa Grande,”. O texto, entretanto, não cita prazo para a conclusão do procedimento.
Quanto à qualidade da água, a Agenersa afirma que também foi comunicada pela Rio+ da instalação de um filtro para reduzir a “carga de matéria orgânica e consequentemente diminuir a obstrução na rede”.
Na região de Itinguçu, há a previsão de instalação de aparelhos para “melhorar a eficiência da distribuição da água às residências e evitar falhas que comprometam o fornecimento” para moradores de Coroa Grande, Vila Geni e Itimirim. Não há menção a prazo de conclusão do serviço novamente.
Por fim, a Agenersa destaca que denúncias da população ajudam na fiscalização do abastecimento de água na região. Os canais disponíveis são: 0800 024 9040 (telefone), 21 2332-6457 (WhatsApp) e ouvidoria@agenersa.rj.gov.br (e-mail).