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Chuvas no Rio Grande do Sul: morador de Mangaratiba relata jornada como voluntário

Felipe conta ter participado diretamente do resgate de 36 pessoas com vida

Remédios, alimentos, uma moto aquática e o desejo de ajudar quem mais está precisando. Essa foi a bagagem do militar reformado Felipe Ribeiro e do geógrafo Carlos Ferreira, que deixaram Mangaratiba, onde residem, rumo a Porto Alegre para trabalho voluntário nos resgastes às vítimas das chuvas que castigam o Rio Grande do Sul há mais de duas semanas – confira imagens mais abaixo.

Durante um curto intervalo na sua jornada média de 12 horas atrás de sobreviventes, Felipe, de 45 anos, conversou com exclusividade com o ATUAL. Morador de Itacuruçá, ele contou que a saga ao lado de Carlos – que vive em nova Mangaratiba e tem 55 – começou no último sábado (11), quando pegou seu próprio carro com destino à capital gaúcha, onde se encontram até hoje.

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Nem mesmo a família – o militar tem esposa e seis filhos – e o Dia das Mães no dia seguinte à viagem o impediram de querer ajudar.

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E os motivos são rapidamente enumerados: “O sofrimento do povo gaúcho implorando por ajuda, além das minhas técnicas militar e com moto aquática”, comenta Felipe, lembrando que o amigo Carlos, que também é casado e tem dois filhos, tem colaborado com a experiência que adquiriu na tragédia da Região Serrana do Rio de Janeiro em 2011, quando mais de 900 pessoas morreram.

RESGASTES E DRAMAS

Sobre vítimas fatais, os óbitos registrados pela Defesa Civil devido às enchentes no Rio Grande do Sul, até esta quarta-feira (15), eram 149. Já as pessoas fora de suas casas, em abrigos ou residências de amigos e familiares, chegam a 615 mil.

Felipe Ribeiro durante uma das ações de resgate na capital gaúcha (Acervo pessoal/Felipe Ribeiro)

Desse total, também até quarta, Felipe e Carlos contabilizam participação direta no resgate de 36 pessoas com vida e 73 animais – dentre eles, um lagarto. Houve tempo ainda para fazerem “delivery” de mantimentos para aqueles moradores que, por diferentes razões, se recusaram a deixar seus lares.

Mas entre um êxito e outro, Felipe admite que algumas situações dramáticas o marcaram nestes dias passados na capital gaúcha: “Vi corpos boiando, pessoas desesperadas por socorro… Muitos animais abandonados à própria sorte dentro das casas. Na verdade, parece o fim do mundo”.

E dentro deste contexto apocalíptico, claro, Felipe e Carlos – que contribuem também com doações, como as de um caiaque e um bote – encaram uma estrutura precária para suas próprias saúdes enquanto tentam salvar a de outras pessoas: “Tenho dormido, em média, cinco horas por noite em um abrigo de uma empresa de Porto Alegre”, detalha o militar, resumindo a alimentação diária: “Super básica”.

RISCO DE CRIMES

Além disso, há ainda a preocupação com ações de criminosos: “O crime aterroriza a população com saques e estupros. Medo, não tive. Mas precaução, por conta da violência, já que não temos escolta, e os marginais não abandonaram os locais alagados”, detalha.

Outro problema é a contaminação da água com a qual a dupla de Mangaratiba e todos os outros envolvidos nos resgates têm tido contato. Afinal, dentre outros fatores, há incontáveis corpos de pessoas e animais em decomposição pelas ruas alagadas.

O risco de uma infecção abreviar o voluntariado, portanto, é real: “Pretendo ficar enquanto durar nossos recursos, e o corpo aguentar. Mas a água contaminada está causando baixas”, encerra.

Luiz Maurício Monteiro

Repórter com mais de 15 anos de trajetória e passagens por diferentes editorias, como Cidade, Cultura e Esportes.

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