Um consórcio que ainda precisa dizer a que veio
Não é difícil constatar, por meio de uma enquete, que um dos principais problemas que aflige o brasileiro é a falta de um atendimento de qualidade na saúde pública. O que é uma realidade país afora ganha contorno de desespero em Itaguaí, cidade em que há uma Unidade de Pronto Atendimento fechada, mesmo com o Ministério da Saúde tendo sido enviado R$ 6 milhões para o seu funcionamento. Essa é apenas uma face de uma série de deficiências no setor, que se espalha por outros municípios de uma região que curiosamente possui um órgão destinado a tratar do assunto como estratégia para a consolidação do Sistema Único de Saúde.
A tarefa de qualificar a saúde na região inspirou a criação do Consórcio Intermunicipal de Saúde da Baixada Fluminense (Cisbaf), instituído em fevereiro de 2000, como esforço conjunto de 11 municípios para superar os problemas comuns na área de saúde. O órgão reúne as cidades de Belford Roxo, Duque de Caxias, Itaguaí, Japeri, Magé, Mesquita, Nilópolis, Nova Iguaçu, Queimados, São João de Meriti e Seropédica, onde, não raro, são noticiados casos de pessoas que buscam desesperadamente atendimento, às vezes peregrinando por várias unidades, com muita dificuldade para encontrá-lo e até não conseguir, em algumas ocasiões.
Uma consulta ao site do órgão permite conhecer que o Cisbaf é o maior consórcio de saúde do Brasil em termos de população abrangida, em torno de quatro milhões de habitantes. Mesmo oficializada com a missão de ser um instrumento de gestão regional na promoção de investimentos e na otimização de recursos a união dos 11 municípios não consegue dar respostas às demandas que surgem e só fazem crescer. Nesse sentido, permanecem no papel as ideias de buscar melhor custo benefício, fortalecer a prestação de serviços solidária e pactuada, promover a implantação de inovações na gestão da saúde, reestruturar a Rede Regional de Saúde, e, ainda, capacitar em caráter permanente os gestores, gerentes e demais profissionais de saúde.
A qualificação do atendimento de saúde na região é mais um desafio a ser tratado pelos que serão eleitos em outubro de 2018, pois embora o Cisbaf seja o resultado de esforços municipais, ele poderia ter um relevante incentivo estadual e até federal na construção, por exemplo, de um hospital geral regional; na criação de centros de referência em diferentes especialidades, de acordo com as vocações de cada município; ou mesmo no incentivo e coordenação de programas que exijam investimentos além da capacidade financeira dos municípios envolvidos.
A UPA de Itaguaí permanece fechada mesmo a cidade tendo recebido R$ 6 milhões para o seu funcionamentoPacientes de Itaguaí internados em Mangaratiba
Recentemente, num ato público, o então prefeito interino de Mangaratiba, Vítor Tenório dos Santos, informava que oito leitos recentemente inaugurados no Hospital Municipal Victor de Souza Breves estavam todos ocupados por pacientes oriundos de Itaguaí, numa demonstração da carência verificada na cidade vizinha, onde a principal unidade de saúde, o Hospital Municipal São Francisco Xavier, apresenta uma série de problemas, como falta de insumos, carência de profissionais, precariedade nas instalações e falta de remédio. Ali até mesmo um tomógrafo adquirido em 2015 continua adormecido dentro do hospital pela simples falta de instalação do equipamento.