Remoção de animais de grande porte nas ruas: convênio garante serviço, diz prefeitura
No último dia 12, Carla Abreu, moradora do Engenho, publicou em um popular grupo de moradores de Itaguaí no Facebook fotos e vídeos de uma égua no chão, visivelmente debilitada. A postagem, claro, gerou ampla comoção, com uma profusão das palavras “tristeza” e “covardia” nos comentários.
O caso da égua fragilizada, no entanto, não parece ser raro: “É fácil vê-los por aí comendo mato”, afirma Carla, ao ATUAL, reforçando que se consternou com a situação do bicho: “Me senti obrigada a ajudar, pois ela não sobreviveria sozinha daquele jeito”.
No entanto, além de tristeza, um animal de grande porte à solta por ruas e calçadas representa também riscos de acidente para a população, além de ser um grave problema de saúde pública, pois se um animal vem a morrer transmite doenças e atrai outros animais vetores de bactérias, vírus e demais organismos nocivos.
Responsável pelo recolhimento de equinos, bovinos, caprinos e afins em logradouros públicos, a Prefeitura de Itaguaí, por meio da Secretaria de Ambiente, Mudanças do Clima e Bem-estar Animal, até conta com um serviço específico para casos assim. Mas pela pouca procura (ou divulgação), muita gente parece desconhecê-lo.
O número para solicitar a remoção de um animal à solta (inclusive os sem condições de se mover sozinho, muito feridos, perseguidos por outros animais ou em condições semelhantes e cruéis) é (21) 97195-9944. O atendimento funciona via WhatsApp de segunda a sexta, entre 8h e 17h. Se possível, a pasta pede o envio de fotos do animal.
Já no caso dos mortos, a população deve ligar para o 193 do Corpo de Bombeiros.
DIVULGAÇÃO NAS REDES
A própria Carla conta que, ao ver a égua definhar perto de sua casa, tentou contato em diferentes números, como o 191 e o da Defesa Civil de Itaguaí. Uma opção que ela não tentou, por não ter conhecimento, foi o da central de denúncias da secretaria – o (21) 97195-9944 – para resgate de animais de grande porte soltos.
Essa central encaminha as denúncias para o Curral de Apreensão Seropédica, empresa da cidade vizinha que possui um convênio com a gestão pública itaguaiense desde novembro de 2023, período no qual recolheu das ruas apenas a égua encontrada por Carla – que teve o resgate viabilizado com apoio de equipes policiais, mas veio a falecer dias depois.
Mas apesar da incompatibilidade entre o relato da moradora, de que é comum ver estes animais pelas ruas, e o baixíssimo número de denúncias, a secretaria não acredita que falte divulgação: “A partir da assinatura do convênio, fizemos uma divulgação nas redes sociais da secretaria e da prefeitura. Vez ou outra sai uma postagem”, argumenta Grasiele Cabral, gestora de projetos da secretaria.
A reportagem acessou a página da pasta no Instagram e só identificou duas postagens sobre o serviço.
A primeira em novembro, quando o convênio foi sacramentado, que orienta o cidadão a acionar a secretaria pelo número (21) 97195-9944 para denúncias; e a segunda sobre o resgate recente da égua no Engenho.
Uma possível explicação para a defasagem, na visão da gestora, é uma cultura da população de ver um animal de grande porte em via pública e não buscar ajuda: “Muitas vezes as pessoas veem o animal, mas não tem o ímpeto de denunciar. Não existe esse hábito, e talvez por isso a demanda esteja baixa”, alega Grasiele, fazendo um mea-culpa ao reconhecer que esta reportagem pode ajudar a difundir um pouco mais o trabalho do curral: “Essa é uma informação que tem que ser batida, e acho que essa matéria vai ajudar a conscientizar a população”.
Outra razão seria o fato de o serviço ser recente: “O convênio tem pouco tempo ainda. Aos poucos, as pessoas vão ficar sabendo”, deduz Grasiele.
Antes da parceria com o curral, porém, a prefeitura já fazia o resgate, e a própria Grasiele salienta que a atual gestão municipal nunca recebeu uma denúncia. O curral informa que tem em seus registros apenas uma apreensão de cinco animais juntos, em dezembro de 2023, mas com iniciativa da PM.
CASOS RECENTES (E RECORRENTES)
Assim como Carla, a Dona Maria da Glória, moradora do Itimirim, em Coroa Grande, também viu um equino abandonado nas proximidades de sua residência há algumas semanas. Mas para ela, a situação foi ainda pior, pois o animal já estava sem vida: “Estava apenas a carcaça. Só descobrimos que estava morto devido ao mal cheiro e o excesso de urubus”, relata.
Na verdade, este foi o segundo animal a morrer abandonado na mesma localidade, segundo ela, em um ano e meio. E em ambos os episódios, Dona Maria e os vizinhos tiveram dificuldades por ajuda para a retirada do corpo – o mais recente, inclusive, não foi resgatado ainda.
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Estes exemplos, de acordo com as moradoras, só reforçam a ideia de que animais à solta ou sem o devido acompanhamento em Itaguaí são uma realidade: “Aqui nos fundos de minha casa, onde passa a cachoeira, os donos trazem os animais e os deixam aqui”, detalha Dona Maria.
Carla complementa: “Diariamente vemos animais por aí. Principalmente na Rio-Santos”.
A gestora Grasiele Cabral, que é formada em zootecnia, esclarece que animais na rodovia são responsabilidade da Polícia Rodoviária Federal.
Mas sobre ser cotidiano avistar os bichos de maneira inadequada em locais públicos, ela tem uma olhar diferente: “A população diz que é comum animais de grande porte à solta, mas a gente vê muito mais pets e até animais silvestres do que equinos e bovinos”, argumenta.
CONSCIENTIZAÇÃO DA POPULAÇÃO
Além do convênio com o curral – que não gera custo para o Município, pois o curral pode lucrar ao vender os animais apreendidos caso os donos não os busquem em sete dias –, Grasiele adianta que a pasta tem pensado em campanhas para conscientizar a população sobre os cuidados com os animais – política incorporada à pasta recentemente.
O objetivo é prevenir: “Na Expo do ano passado, nós fizemos palestras sobre o bem-estar animal. E estamos desenvolvendo mais ações, campanhas… Queremos trabalhar essa questão da conscientização da população para evitar acidentes com esses animais”, ressalta Grasiele.
E enquanto as campanhas maiores não saem do papel, a gestora dá algumas dicas para que proprietários mantenham seus animais sob os devidos cuidados: “É importante ter atenção para que o animal não ganhe as ruas. Tem que ver se as cercas não estão com defeito, se o local onde ele vai pastar é cercado…”.
Aos proprietários que não têm mais tempo ou recursos para cuidar do animal, Grasiele orienta a venda em vez do abandono: “Sinceramente, nunca ouvi sobre um caso de alguém que deixou o animal por não ter condições. Afinal, o animal tem um valor. Então é melhor vender, mesmo que seja por um preço baixo”. Já o Curral de Apreensão Seropédica sugere que se doe para uma outra pessoa.
DESTINO DE ANIMAIS APREENDIDOS
Mas para os animais à deriva pelas ruas, a orientação é mesmo acionar o Curral de Apreensão de Seropédica por meio da secretaria. A administração do local explica que, após o resgate, o primeiro passo é realizar uma avaliação do animal com a equipe veterinária.
Após essa etapa, ele passa pelos devidos exames e recebe as vacinas necessárias. Em seguida, fica isolado por sete dias à espera do proprietário. Se o dono não aparece dentro desse período, o curral continua deixando o animal à disposição do dono, mas também o coloca para venda na Internet. Interessados encontram o serviço pelo Instagram (@curral_piranema), Facebook (curral piranema) e WhatsApp (21 – 96725-7418).