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Itaguaí: sufocos e soluções dos trabalhadores que sofrem mais com o calor

Se os privilegiados que trabalham sob a brisa de um aparelho de ar-condicionado têm reclamado do forte calor que tomou o Brasil recentemente, o que dizer daqueles cujos ofícios ajudam a elevar ainda mais a sensação térmica? Em Itaguaí, por exemplo, os últimos dias foram desafiadores para quem labuta debaixo de sol e até próximo do fogo.

Em uma semana em que os termômetros registraram temperaturas acima dos 32ºC todos os dias – segundo a AccuWeather – o ATUAL conversou com três profissionais que sofrem com a quentura. Um deles é Osvaldo Nascimento, de 63 anos, pescador há 30.

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Morador de Coroa Grande, ele já teve sérios problemas de saúde, em outras ocasiões, por conta da jornada a céu aberto, que tem durado cerca de seis horas diárias:

“Já fui acometido por um câncer de pele no rosto e outras enfermidades pela exposição ao Sol”

Osvaldo Nascimento, pescador

Figura frequente não só em Coroa Grande e na Baía de Sepetiba, em Itaguaí, mas também em Mangaratiba, Angra dos Reis, Maricá e Saquarema, Seu Osvaldo explica que é preciso encarar o calorão já que tem a pesca de mariscos, peixes e camarões como única fonte de renda: “É muito desgastante pescar nessas condições, porém, a necessidade nos faz cumprir com as obrigações”.

O pescador Osvaldo, de 63 anos, recorda que já teve um câncer de pele no rosto por conta do contato frequente com raios solares (Arquivo pessoal)

E O MAU HUMOR?

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Outro que vai atrás do ganha-pão debaixo de raios solares é Jonatas Rocha, de 29 anos, que há quatro trabalha como motofretista (ou motoboy), entregando cartões e documentos em todo o município. Com uma média diária que supera 10 horas sobre uma motocicleta, ele enfatiza que o desgaste não é só físico, mas também mental: “O calor embaralha nossa mente, dificulta a concentração nos endereços aonde precisamos ir, causa falta de ar… Fora o estresse no trânsito, que fica maior”.

Além da moto, o morador de Ibirapitanga – que também é mototaxista – tem o celular como uma ferramenta de trabalho indispensável. E em dias de “um sol para cada”, até o aparelho sofre:

“Trava toda hora (o celular), e o sistema pede para resfriá-lo”

Jonatas Rocha, motofretista e mototaxista

Já no caso de Edilene Sousa, de 55 anos, acima da cabeça não está o sol, mas, sim, um teto. Entretanto, em dias excessivamente quentes, o calor se agrava por conta da proximidade com o fogo. Chef há sete anos, ela fica na cozinha aproximadamente 13 horas por dia para preparar os pratos do Mamuska (refeições saudáveis) e do Bar do Pereira – que fica no bairro Ito, na Rua Augusto Costa Pereira, 110.

Apesar do superaquecimento, Dona Edilene – que ainda cozinha em casa – assegura que nunca teve problemas de saúde, mas admite mudanças de ânimo: “Trabalhar nesse calorão realmente não é fácil. Nunca passei mal. Às vezes bate um mal humor, mas passa rápido (risos)”.

MAS POR QUE TÃO QUENTE?

Meteorologistas e climatologistas explicam que os recentes recordes de calor no país – Guaratiba, na Zona Oeste da capital, por exemplo, registrou sensação térmica de 59,3ºC nesta sexta (17) – estão relacionados a um fenômeno conhecido como “domo de calor”.

O processo funciona como uma tampa de panela, pois mantém numa determinada região uma grande massa de ar quente e impede que entrem nesse mesmo espaço outros acontecimentos meteorológicos, como chuvas e frentes frias, que poderiam fazer a temperatura cair.

Ainda segundo especialistas, esse processo funciona na vertical, vindo de cima. Consequentemente, a massa de ar quente não consegue se dissipar e ainda sofre uma pressão para baixo, o que faz o calor se intensificar.

O motofretista Jonatas não abre mão do protetor solar enquanto roda pela cidade (Arquivo pessoal)

PROTEÇÃO E HIDRATAÇÃO

E como não há previsão de refresco, já que o verão se aproxima, o jeito é encarar o “maçarico ligado”, como se popularizou a expressão, com os devidos cuidados.

E recursos não faltam: “A cada 30 minutos, paro em uma sombra. Também tenho usado protetor solar duas a três vezes por dia. E o principal: a boa vontade dos clientes que nos dão água”, conta o Jonatas, garantindo que não dispensa o capacete para receber mais vento na cabeça: “A vontade de tirar é grande, mas a segurança vem em primeiro lugar”.

A propósito, a hidratação também está entre as táticas de Dona Edilene: “Bebo bastante líquido”, ressalta a chef, que também busca ar fresco quando o “bafo” eleva o nível de desgaste:

“Às vezes, temos que dar uma respirada na varanda para recuperar o fôlego”

Edilene Sousa, chef de cozinha

Já a dica do Seu Osvaldo para fugir do Sol soa simples, mas eficiente: “Pescar à noite ajuda”.

A dica de Dona Edilene para minimizar os impactos do forte calor é beber bastante líquido (Arquivo pessoal)

SUFOCO X LUCRO

Outro recurso para não sucumbir à sensação de se encarar uma labareda é pensar na renda que tende a aumentar em períodos de calor, quando cidades litorâneas recebem mais visitantes.

Para Dona Edilene é real a possibilidade de acréscimo nos rendimentos com Itaguaí mais cheia em meio ao calor: “Com certeza é um grande incentivo”, reforça a chef, que em outubro recebeu um reconhecimento junto à equipe do Bar do Pereira: o título de melhor receita salgada no concurso gastronômico da Festa da Banana – confira aqui um vídeo sobre o prato.

E para Jonatas, a expectativa por elevar os ganhos com o transporte de passageiros é semelhante: “Nesse calorão, a galera prefere a moto por ser mais barata e mais rápida, além de não ser fechada”, observa o mototaxista, sem perder o humor mesmo com as altas temperaturas: “É um dinheiro suado de verdade (risos)”.

Luiz Maurício Monteiro

Repórter com mais de 15 anos de trajetória e passagens por diferentes editorias, como Cidade, Cultura e Esportes.

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