ENTREVISTA: Alan Bombeiro, prefeito de Mangaratiba
Prefeito destaca que a equipe da Prefeitura colocou Mangaratiba num patamar de segurança confiável e estuda medidas para retomada da economia
MARCELO GODINHO
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WELINGTON CAMPOS
welington.campos@jornalatual.com.br
O prefeito de Mangaratiba, Alan Campos da Costa, o Alan Bombeiro, recebeu, na manhã desta segunda-feira (18), a equipe do Jornal Atual, fazendo um balanço das medidas adotadas pelo município no combate à covid-19, que vem assustando o mundo nos últimos meses. Ele disse que desde o início de registros de casos que testaram positivo para o vírus, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) adotou medidas mantendo constante acompanhamento do crescimento da pandemia, referendada por decreto que permitiu ao município ampliar as ações de combate e enfrentamento ao coronavírus, bem como, o atendimento à população.
Segundo Alan Bombeiro, as medidas adotadas pela Prefeitura de Mangaratiba estão dentro das expectativas no que se refere ao enfrentamento à pandemia nesses dois meses de restrições severas na guerra contra um inimigo invisível, que vem causando pânico pelo número de mortos. De acordo com o boletim do coronavírus municipal, divulgado pela SMS, na segunda-feira Mangaratiba registrava 417 casos notificados,106 confirmados, 10 pacientes internados, 111 pacientes em isolamento domiciliar, 34 casos descartados, 277 exames aguardando resultado, 278 pacientes em alta (após isolamento de 14 dias), cinco óbitos e mais dois em investigação.
Questionado sobre a reação da cidade e às medidas impostas para diminuir os impactos da covid-19, Alan Bombeiro disse que seguiu as orientações da Secretaria de Estado da Saúde e do Ministério da Saúde, pedindo que a população leve mais a sério o isolamento social. “Estamos há dois meses nesse combate ao coronavírus. Um combate que realmente é uma cena de guerra, onde estamos perdendo vidas para um ser invisível”, ressaltou. Confira abaixo outros tópicos da entrevista, acompanhada pelos secretários Roberto Castilho (Comunicação), Marcio Ferreira (Fazenda), Sandra Castelo Branco Gomes (Saúde) e Noberto Alexandre da Silva Marques Costa (Segurança e Trânsito).
RESTRIÇÕES AO MUNICÍPIO
Chegamos à conclusão de que não suportaríamos toda a demanda que vinha de fora da cidade com o que estávamos arrecadando naquele momento. Ou seja, de cada 10 pessoas que a gente atendia aqui, oito eram de fora. Então a saúde não aguentaria isso. Se já estava assim antes da covid-19, como seria durante e no decorrer da covid-19? Daí criamos as barreiras sanitárias nas entradas dos distritos. Cada distrito tem um posto de saúde, inclusive atendendo muita gente de fora. Claro que jamais deixaria de atendê-las, mas era questão de sobrevivência pelo que tínhamos. Era material hospitalar para seis meses que estava sendo gasto em um mês, então não aguentaríamos isso tudo.
ARRECADAÇÃO
Hoje, não mais do que nunca, a gente está entendendo como um autônomo que sobrevive do que ganha. Estamos fazendo cálculos mensais e nossa maior preocupação é como da maioria das empresas, que estão preocupadas com os seus funcionários. Estamos preocupados com a população como um todo. Ou seja, estamos preocupados em pagar realmente os salários dessas pessoas para que elas tenham o que comer em casa. Então, a arrecadação vai cair muito. Recebemos a notícia de que o nosso ICMS veio com uma redução de R$ 5 milhões para cerca de R$ 2 milhões. Se fala de uma ajuda de R$ 4 milhões do Governo Federal, mas ainda não chegou nada. Mesmo se chegar hoje empata com que a gente arrecada. Então a gente não ganhou nada, pelo contrário, a gente só perde a cada dia que passa.
REDUÇÃO SALARIAL
Com a perda na arrecadação foram reduzidos os salários do prefeito, vice-prefeito, secretários, subsecretários e, provavelmente, se continuarmos como estamos, todas as pessoas ligadas à prefeitura terão que colaborar de qualquer maneira. Não só na prefeitura como na Câmara de Vereadores também.
IMPACTO NA ECONOMIA
A redução é fato. Dos 92 municípios do estado do Rio, os únicos que estão sobrevivendo pela arrecadação que têm são Niterói e Duque de Caxias. Estamos realmente nos preocupando em reduzir os salários de alguns profissionais, porém temos que ter a sensibilidade em quem fazer essa redução. Melhora a questão de outros que estão de frente no combate à covid-19. A gente já faz isso com a Guarda Municipal, que recebe uma diária para atuar em pontos específicos, diária essa que não é a ideal que gostaria de dar, mas fico limitado por conta da arrecadação.
MONITORAMENTO
Nós acompanhamos a proliferação desse vírus. Quando ele chegou ao Brasil nós começamos a planejar, já sabíamos o que poderia acontecer. Tanto que, rapidamente, viramos referência na saúde. Fomos o primeiro município a doar cestas básicas para os alunos da rede municipal de ensino. Planejamento na compra de alimentos na agricultura familiar. A gente só foge desses mecanismos quando a Justiça diz que não pode. A gente segue leis a todo o momento. O Ministério Público nos cobra esses questionamentos e também o Tribunal de Contas do Estado, que orienta o que devemos fazer na compra de medicamentos, equipamentos e respiradores para combate a covid-19. Hoje, só não estamos dando uma resposta mais rápida devido às leis específicas do nosso país, que são leis para o controle de corrupção. A gente entende, o momento é delicado. Declarar calamidade é preocupante para quem é gestor.
TURISMO
Vamos tentar trocar experiências entre as cidades que estão sobrevivendo do turismo. Hoje as pessoas, por estarem em casa, estão vendo às águas mais claras, o verde mais verde, as cachoeiras mais limpas, ou seja, a covid-19 deu essa segurada no mundo para as pessoas entenderem que aonde a gente vive é o paraíso. A minha função como gestor é fazer essa percepção de vendas no mundo para que essas pessoas venham comprar aqui. Comprar beleza, qualidade de vida, do ar, das praias e cachoeiras. Tenho que negociar isso para que as pessoas possam vender de forma sustentável e controlada.
SITUAÇÃO ECONÔMICA DO MUNICÍPIO
Eu consigo ver a realidade do município, os gráficos mostram isso. Eu pretendo, em primeira mão, declarar, se for necessário, o lockdown na cidade. As coisas estão acontecendo tão rápidas que a gente tem que estar preparado para tomar decisões diárias, muito mais do que isso, decisões por horas. Hoje o município registra cinco óbitos por covid-19, mas a qualquer momento a secretária de Saúde pode receber uma mensagem de mais quatro que morreram. Estamos flexibilizando o comércio com fiscalização da Guarda Municipal, mas se as pessoas continuarem desrespeitando o isolamento, vou começar a endurecer as medidas. Aí, sim, a grande preocupação do gestor é com o colapso da saúde. Ainda não tivemos esse momento de decidir com vida ou morte. Não queremos passar por isso, mas no Brasil já está acontecendo isso.
LEITOS DISPONÍVEIS
Além dos leitos que temos, criamos mais 10 no Hospital Municipal Victor de Souza Breves, onde era o refeitório. Porém, somos parceiros de outros municípios para onde a gente consegue transferência. Se o município pudesse ter hospital de campanha, com certeza atenderia todo mundo sem ter que escolher quem vai morrer ou quem vem ou deixa de vir. Hoje a ocupação dos leitos no município chega a 15%.
PRIORIZANDO A SAÚDE
As pessoas estão adoecendo dentro de suas funções, seja ela chefe ou colaborador. Nós temos que estar readequando sobre isso. Das 76 pessoas confirmadas de covid-19 aqui, 34 são da Saúde. Estamos realocando algumas pessoas para dar suporte, priorizando a saúde.