VÍDEO: Nany People está animada para apresentação em Itaguaí
O stand-up comedy nasceu nos Estados Unidos no fim do século XIX, mas só foi conquistar espaço no Brasil há poucos anos. Mas apesar da chegada tardia, sua popularidade foi quase instantânea, o que faz com que seja cada vez mais numeroso o seu número de adeptos – tanto na plateia, quanto no palco. E embora os humoristas sejam majoritariamente homens, não para de crescer também a presença de mulheres. Entre elas, Nany People, um dos principais nomes femininos do subgênero do humor do país, que chega a Itaguaí para uma apresentação nessa quinta-feira (22).
Antes de subir ao palco do Teatro Municipal de Itaguaí (Marilú Moreira), a atriz e comediante deu uma entrevista para o ATUAL. Na conversa, ela falou, claro, sobre o espetáculo, no qual satiriza maus hábitos da sociedade contemporânea. Por exemplo, uso desenfreado do celular (e seus aplicativos); cirurgias plásticas em excesso; e horas em demasia na academia.
A artista ressaltou o sucesso que tais reflexões fazem com o público por conta da identificação que as histórias causam nas pessoas. Sem dar muito spoiler, Nany revelou um dos momentos que mais arrancam gargalhadas da plateia: “O momento crucial é quando faço uma análise do universo masculino por uma ótica feminina”, disse.
Além disso, Nany falou da expectativa por se apresentar em Itaguaí. Na sua opinião, é fundamental que artistas – independentemente de estarem contratados ou não por um canal de TV – levem seus trabalhos para fora das capitais para que a democratização da cultura. Confira a entrevista na íntegra abaixo:
Acha que esse consumo muitas vezes demasiado de novidades sempre existiu na humanidade ou é uma característica própria da sociedade contemporânea?
A minha geração, sobretudo, é dos tempos da rede telefônica e da fibra ótica. Então é muito engraçado ver pessoas da minha idade fazerem uso indiscriminado de Whatsapp, cirurgia plástica, academia… Sendo que nem tem preparo para isso. Por exemplo, existe um termo hoje que é “ginastocólatra”, que são pessoas viciadas em academia. E acabam rompendo ligamentos ou a musculatura por não estarem preparadas para isso. Já na tecnologia, a gente costuma brincar que algumas pessoas pensam que Whatsapp é confessionário. Não se manda áudio de minutos. Melhor ligar! Porque é muito complicado fazer um monólogo no Whatsapp. E os grupos? As pessoas esquecem que estão em público e contam a vida. E é divertido você fazer uma leitura sobre isso com humor. O stand-up possibilita isso. Dá aquela sensação de “isso acontece comigo!”. É a chamada catarse. Por isso que há uma identificação tão grande. Por isso, o stand-up teve essa democratização com humor porque toca no day-by-day das pessoas. E “Tsunany” é uma leitura dos bons e maus hábitos contemporâneos, que vão desde a sexualidade à tecnologia. É muito divertido.
A tendência é que abusos e excessos piorem com o avanço inevitável da tecnologia?
No primeiro momento, há um desbunde. Mas depois tem uma certa filtragem. As pessoas tendem a se reconhecer. Demora um tempo, mas acabam vendo que é loucura fazer uso indiscriminado de certas coisas. Por exemplo, tem amigos meus que nem entram mais em grupos de Whatsapp. Sobre cirurgia plástica, eu faço uma leitura no show, e as pessoas riem demais. Eu conto que foi uma amiga minha me visitar durante a pandemia. Ela estava de máscara, e eu perguntei “quem é?”. Ela tirou a máscara, e eu perguntei “quem é?” (risos). Mexeu tanto no rosto que ficou irreconhecível. Às vezes, é aterrorizante ver como as pessoas estão. Mas autocrítica chega para todo mundo. As pessoas pensam “isso não está legal”. Então, acredito que a tendência é normalizar.
Existe receita para tratar de assuntos sérios, como usos abusivos, com bom humor?
Acredito que levar a vida com humor é a melhor receita. Veja bem, quem tem humor como aliado não tem telhado de vidro. Na escola, a gente só decora a matéria de professores divertidos. Então, faço análises muito divertidas e pertinentes de situações pitorescas. Principalmente, da minha geração, que deitou no Ki-Suco e acordou no refrigerante. Assim, nos vemos juntos. Então, acho que a receita da vida é levar com leveza, com humor.
Você tem algum excesso na sua vida?
Acho que o excesso que tenho na minha vida é trabalhar (risos). Porque adoro o que faço. E quando você gosta do que faz, não pensa que está trabalhando, mas só se divertindo. Mas tenho tirado o pé um pouco porque tenho trabalhado muito. Estou no Rio de Janeiro há mais de 15 dias e só tirei um de folga. E tem aquela loucura de dormir meia-noite e acordar às 3h para pegar voo e assim por diante. Trabalhei na noite 22 anos e nunca tive nenhum vício. Nem bebida, nem drogas. Mas trabalho é meu grande excesso. Peco nisso. Até por isso, estou solteira (risos).
Sem querer spoiler, mas tem alguma piada ou momento no espetáculo que costuma arrancar mais risos da plateia?
O momento crucial é quando faço uma análise do universo masculino por uma ótica feminina. No stand-up, os homens sempre avacalharam o universo feminino. Quando faço essa leitura do universo masculino, as mulheres se sentem vingadas. É muito divertido. É o ponto alto. Eu falo, por exemplo, que os homens se desenvolvem psicologicamente até os 2 anos de idade. Depois, só crescem. A mulherada vem abaixo.
Qual sua expectativa para se apresentar em Itaguaí?
Acho que vai ser ótimo porque é muito bom levar cultura a outras grandes cidades, além da capital. É bom democratizar a cultura. Estou muito feliz por fazer em Itaguaí, Nova Iguaçu, São Gonçalo. Assim, você abre horizontes e tem um contato mais próximo com as pessoas. Afinal, é o povo que determina como está seu trabalho. Estou muito feliz por fazer o show em Itaguaí.
Acha que artistas que alcançam um determinado patamar, que ficaram conhecidos do grande público por meio da TV, poderiam se apresentar em cidades menores com mais frequência?
Acho que, independentemente do patamar do artista, depende de cada pessoa ser comodista ou não. Porque chega uma hora que fica muito fácil você se colocar em uma bolha e só fazer grandes espetáculos em grandes centros, onde está bombando. Eu nunca me contentei com uma coisa só. Aprendi que depender só de uma fonte para sobreviver é arriscado, porque essa fonte pode secar, e você fica sem água. Mesmo estando contratada para fazer dois trabalhos na Globo, costumo brincar que a vida não é só a portaria 3 da Globo. A vida é a portaria 3 da Globo, é o Teatro dos Grandes Atores, na Barra da Tijuca; é o Teatro Municipal de Itaguaí; é o teatro de Miracema do Norte… É viajando que você testa novos materiais, testa sua imagem, descobre se está passando seu recado. É não se acomodar com um momento que se torna cômodo para você. Eu quero muitas coisas, muitas fontes. Sou inquieta. Estou gravando o “Vai que Cola”, faço o Caldeirola (Caldeirão com Mion)… Estou em cartaz no Grande Rio às quintas, quando não tenho gravação. Poderia estar em casa, descansando, pensando “estou contratada mesmo, estou bem”. Mas não! Quero fazer mais. Essa inquietação de cada pessoa em relação à vida é que faz a gente ser normativa ou não. É isso!
SERVIÇO
Local: Teatro Municipal de Itaguaí
Endereço: R. Amélia Louzada, 311 – Centro, Itaguaí.
Sessão: Quinta (22/09) às 20h
Classificação: 14 anos
Ingresso: R$ 50 (valor único promocional)
Onde comprar: sympla.com.br ou na bilheteria do teatro
Gênero: Stand-up comedy
Duração: 75 minutos