Produtor celebra cultura Hip Hop em Itaguaí com documentário
“Até essa barreira vamos quebrar em breve”. A frase é de Caio Fábio, produtor audiovisual que trabalha com Hip Hop há XX anos, e se refere a uma carência que afeta o movimento em Itaguaí: o baixo número de DJs (disc jockeys) que toquem especificamente rap. E ele sabe como quebrar barreiras no setor cultural, afinal, deixou uma para trás no último dia 15.
A convite do projeto Cineclube Cinelon, ele exibiu no Museu Bispo do Rosário de Arte Contemporânea, no Rio de Janeiro, um documentário independentemente sobre a cena Hip Hop em Itaguaí. Ou seja, uma produção de baixo orçamento que aborda um nicho bastante específico.
Como fio condutor do média-metragem, que mistura depoimentos e imagens ao longo de 58 minutos, ele escolheu a Batalha da PVC, que até o início de 2020 reuniu DJs – mesmo que em um número inferior ao desejado –, MCs (mestres de cerimônia), grafiteiros, grupos de breaking e fãs do gênero na Praça Vicente Cicarino, no Centro.
Em tempo: o termo “batalha” – citado no título do filme “A Batalha da PVC – Um Movimento Cultural” – se refere a uma atração bastante comum em eventos de Hip Hop, na qual dois MCs travam um confronto musical e tentam se superar um ao outro com rimas mais elaboradas a cada rodada – assista o trailer abaixo e clique aqui para assistir na íntegra.
MÚSICA E CINEMA
Em entrevista para o ATUAL, Caio classificou como positiva a experiência de levar o documentário, lançado em novembro passado, para fora das fronteiras itaguaienses. E não só pela divulgação do Hip Hop, mas também pelo incentivo à produção cinematográfica: “Pensei no quanto poderia ser importante essa exibição, pra quem faz cinema na cidade e para quem participou do filme”, lembra.
Para compartilhar este momento, ele levou em uma van, cedida pela subsecretaria municipal de Cultura, a equipe de produção, MCs que participaram do filme – dentre eles, “Da Velha”, Rafael “Ratone” e “Mathias O Condoreiro” – e jovens da cidade.
EM ITAGUAÍ
Agora, o que o produtor quer é superar uma outra barreira, esta dentro do próprio município. Segundo ele, Itaguaí não conta com uma tradição de cinema: “Espero conseguir fazer uma exibição gratuita e em tela grande no nosso Teatro Municipal. E também exibir para jovens negros e negras periféricos dentro dos próprios bairros”, explica.
Ele completa: “Acho importante ocuparmos esses espaços. Itaguaí não tem uma história contemporânea de cinema e/ou Cineclube, e gostaria de ser um dos que incentivam isso”.
ECONOMIA CRIATIVA
Ainda sobre o Hip Hop, Caio explica que sua atuação é no sentido de ajudar a cultura a gerar renda para quem pretende viver dela no município: “Por meio do filme, é possível ver como esses movimentos orgânicos e independentes são importantes para a economia criativa da cidade e devem ser apoiados pelas instituições”.
Fortalecer o movimento dentro de Itaguaí, complementa o produtor, se faz importante também por se tratar de um município fora dos principais centros urbanos: “Diferente das grandes capitais, nós estamos longe do fluxo de informações que geram as oportunidades e até o momento não havíamos gerado nossa própria informação”.
RECURSOS PRÓPRIOS
E para gerar a própria informação – no caso, produzir o documentário – Caio precisou quebrar uma outra barreira. Depois de iniciar a pré-produção com recursos próprios, em colaboração com a produção executiva, ele – que se desdobrou em diferentes funções, como dirigir, roteirizar, operar câmera e editar – conseguiu com que o projeto fosse aprovado no Cultura Presente nas Redes 2, edital do governo estadual.
O montante não chegou a ser muita coisa, lembra ele, mas o suficiente para concluir o filme: “Mesmo sendo um edital de baixo orçamento, com isso finalizamos a produção e conseguimos contratar os artistas visuais para trabalhar na identidade final do filme”.
Com barreiras ultrapassadas e outras ainda por vir, o produtor lembra como uma espécie de recompensa o que sentiu ao testemunhar alguns jovens no museu assistindo a si próprios na tela: “Lá eles puderam se ver como protagonistas”.