Prefeitura de Itaguaí instala placas para alertar sobre a presença jacarés na área da Expo, mas nada de cerca
Após a solicitação de protetores de animais pela colocação de placas de alerta e de uma cerca na área da Expo por conta da presença de jacarés, a Prefeitura de Itaguaí, via Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Planejamento, iniciou na quarta-feira (2) a implantação de avisos de perigo no local. A movimentação nas redes sociais se deu porque o sexto cão que sofreu um ataque de réptil e morreu, chamado Francisco, comoveu quem é engajado na causa animal. Mais do que isso: a morte do cão chamou a atenção para o fato de que o local é perigoso também para pessoas, principalmente crianças.
As placas informativas, uma promessa da prefeitura quando provocada pela reportagem para se manifestar, alertam a população sobre a presença dos animais silvestres no Canal do Viana, próximo ao Parque Municipal. A sinalização foi instalada por equipes da Secretaria de Meio Ambiente e contou com o apoio da Secretaria de Obras e Urbanismo.
De acordo com nota enviada à redação do ATUAL, as placas contêm os seguintes dizeres: “Não abandone animais na área”; “Não entre no rio”; “Atenção ao circular na área”; “Caso o aviste não o perturbe, mantenha-se afastado”. Nota-se, nas imagens enviadas pela prefeitura, a ilustração de um jacaré, pelo menos em uma das placas.
A prefeitura lembra que os animais presentes no local estão em seu habitat natural, sendo de extrema importância não maltratá-los, pois atitudes dessa natureza configuram crime ambiental.
NADA DE CERCA
A medida, apesar de significar uma providência para tentar minimizar o problema, não resolve: este foi o comentário geral nas redes sociais, agitadas em torno do tema desde que o cão Francisco morreu. “Cachorro e criança não sabem ler”, repetiram várias pessoas nos comentários de uma postagem de uma protetora de animais. A cerca, comentam, ainda é necessária.
Porém, como observado no Ofício Nº 224/2021, enviado em resposta a questionamentos feitos pela Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), a Secretaria de Meio Ambiente e Planejamento não faz qualquer menção à colocação de uma cerca e só repete que os jacarés estão em seu habitat natural.
Os protetores de animais que atuam na área da Expo, para fornecer ração, água limpa e cuidados, insistem que é imperativo que a área do canal seja separada por uma cerca. “Já perdemos seis cães ali. O último foi ontem (dia 27 de janeiro). Uma hora, uma criança pode cair ali e não vai ser nada bom”, lamenta Ana Lucia Lopes, protetora e auxiliar veterinária do projeto Help Animais. “Eles têm inocência e entram no rio para nadar ou para beber água, por mais que a gente deixe água e ração, eles entram no rio. Eu já pedi uma cerca de contenção e nada foi feito. Falaram que não podiam fazer nada, porque iam agredir a fauna”.
O ATUAL entrou em contato com o Instituto Estadual do Ambiente (Inea). A assessoria de Comunicação da instituição informou, por meio de um e-mail: “O Parque Municipal de Exposição é gerido pela prefeitura, a quem compete adotar as devidas providências”. Ou seja, embora os jacarés estejam em seu habitat natural, como repete a Prefeitura de Itaguaí, parece não haver impedimentos para a colocação de uma cerca, caso a gestão municipal assim decida.
NO BRASIL E NO MUNDO
Vale lembrar que os ataques de cães por jacarés não é exclusividade da cidade de Itaguaí. Em julho de 2019, um cão que brincava com seu dono foi atacado por um desses répteis no Parque das Águas, que fica em Cuiabá, capital do Mato Grosso.
Outro caso aconteceu na cidade de Três Lagoas, em Minas Gerais. O jacaré atacou uma família que passeava com seu cão às margens da lagoa local, em janeiro de 2018. A secretaria de Meio Ambiente do município iniciou a retirada dos répteis da área.
Em fevereiro de 2015, um cachorro foi atacado por um jacaré no Canal das Taxas, no Recreio do Bandeirantes, no Rio de Janeiro. Por sorte, o cãozinho conseguiu ser resgatado.
Em junho do ano passado (2021), uma mulher de 43 anos estava passeando com o cachorro nas proximidades de um lago na região de Pinellas Coutry, no estado da Flórida (EUA), quando um jacaré de mais de dois metros a surpreendeu. Segundo informações da emissora Fox 13, a mulher ficou gravemente ferida e precisou ser encaminhada até uma unidade de saúde.
A última vítima fatal de que se tem notícias em Itaguaí foi o cachorro Francisco. Mas de acordo com a protetora Ana Lucia Lopes, ela já contou seis cães mortos pelos jacarés do Canal do Viana.
ANIMAIS BANDONADOS
Ainda no Ofício Nº 242/2021, em resposta à Alerj, a Secretaria de Meio Ambiente e Planejamento de Itaguaí afirma que: “…os cachorros relatados são trazidos por populares para serem alimentados próximo ao local, relação a isso destaco que já havia sido iniciado o processo de estudo para a praticabilidade de parceria com instituições que possam nos auxiliar no recolhimento e cuidado dos animais em situação de abandono…”.
No entanto, a Prefeitura não deu qualquer resposta em relação aos animais abandonados na área da Expo ou em qualquer área da cidade. As protetoras de animais com quem o ATUAL conversou, Viviane Dutra, da SOS 4 Patas, Tatiana Canziani, da Amor Pet e Ana Lucia Lopes, da Help Animal, foram unânimes em apontar uma solução para o caso: castração.
Todas elas encontraram dificuldades para castrar os animais que resgatam e protegem. Afirmam que na campanha promovida na cidade para o procedimento, só conseguem cadastrar apenas um animal. Elas também reclamam da ausência de um centro de zoonoses no município.
Dessa forma, a colocação de placas de aviso de perigo sobre jacarés na área da Expo parece resolver parte do problema, mas está longe de sanar todas as dificuldades geradas pela presença de animais silvestres em um local de grande circulação de pessoas.
O abandono animais nas ruas e no Parque Municipal faz com que os répteis predadores entendam que o local serve como fonte de alimento para eles, o que pode torná-los mais confiantes e até mesmo, se houver oportunidade (são animais sorrateiros, de emboscada), podem atacar humanos.
A cerca também não resolve o problema, porque a questão animal em Itaguaí há muito é uma questão de saúde pública. Só que agora, além de cães e gatos, envolve também jacarés perigosos no Canal do Viana.