“Precisamos prolongar durante todo o ano a mensagem de Jesus”
O tom de voz sereno e os gestos comedidos são praticamente marcas registradas na figura de dom José Ubiratan Lopes, há 18 anos bispo da Diocese de Itaguaí. Nomeado pelo papa João Paulo II, dom José Ubiratan coordena cerca de 22 paróquias na região compreendida entre Seropédica e Paraty. Desde sua posse, em 20 de fevereiro de 2000, o bispo exerce a função de líder na igreja, nomeando e consagrando pastores, presbíteros, diáconos, e supervisionando as igrejas da Costa Verde, comandando um rebanho de milhares de fiéis.
Criada no dia 14 de Março de 1980, a Diocese de Itaguaí realiza trabalhos de evangelização como catequese, pastorais e celebrações litúrgicas, além de trabalhos sociais, como prestação de assistência a pessoas carentes, dependentes químicos; atuando ainda em asilos, na preparação de estudantes para o vestibular, dentre outras missões de cunho assistencial.
Em meio aos preparativos para a celebração de fim de ano, o bispo dom José Ubiratan Lopes, recebeu a Revista ATUAL para uma entrevista em que recomendou aos cristãos que estejam atentos ao verdadeiro sentido do Natal. “A mensagem de Jesus vale para o ano inteiro”, disse ele, na entrevista que segue, originalmente publicada na Revista Especial de Natal, editada pelo ATUAL:
ATUAL – É um desafio viver o espírito do Natal num mundo conturbado como o de hoje?
Dom José Ubiratan Lopes: Sim! Não deixa de ser um desafio! Vivemos em um mundo marcado pelo egoísmo e pelo individualismo. Atravessamos uma fase aguda no Brasil que é a questão do desemprego. Mas apesar de tudo isso, a Igreja não perde a esperança de anunciar o tempo novo. Jesus Cristo veio também de tempos difíceis no Império Romano, e é o príncipe de paz. Por isso, mesmo com todos os desencontros da sociedade e da comunidade, vale a pena celebrar o Natal.
Qual a maior mensagem que a data traz para a atualidade?
A grande mensagem é que nem tudo está perdido. Que a esperança não morre. Que Jesus é o grande príncipe da paz. Ele é o salvador, é o messias prometido pelo Antigo Testamento. Por isso, a festa de Natal não deve ser apenas uma festa folclórica, mas deve ser, de fato, nosso encontro com Jesus Cristo. Cada um de nós precisa criar espaço em seu coração e em suas vidas para que Jesus Cristo possa renascer de novo em nós. Que cada família seja um novo presépio para que Jesus renasça, porque quando ele vem, ele traz esperança, salvação, amor e alegria.
Como reproduzir no ano inteiro os valores que ganham destaque nessa hora?
Primeiramente, com boa vontade. A celebração do Natal é uma celebração marcante. Todo mundo celebra com os anjos do céu o nascimento, o grande presente que o Pai nos dá, que é a vida de Jesus Cristo, seu filho. Não podemos deixar que essa alegria do Natal, que essa esperança morra uma semana depois. Precisamos prolongar durante todo o ano a mensagem de Jesus: “Eu vim para que todos tenham vida e vida em plenitude”. Então nós não podemos cercear a festa de Natal como uma ilha. Ela deve prevalecer durante todo o ano para que tenhamos uma sociedade mais humana, mais humanizada, que nos respeite como seres humanos.
Que importância se deve dar à magia do Natal?
A magia significa todo o folclore e todas as decorações. É um tempo muito bonito, em que as pessoas usam toda a criatividade para idealizar o Natal com decorações, árvore, músicas de Natal…Tudo isso é muito bonito. Tudo isso deve nos remeter a Jesus Cristo. E as luzes do Natal significam que Jesus, que nasceu no Natal, é a luz do mundo. Ele é a luz que veio dissipar as nossas trevas. Por isso a árvore de Natal tem um significado muito grande. O pinheiro significa vida. E Jesus Cristo é a nossa vida no Natal.
Existe uma exata dimensão para o versículo segundo o qual a fé sem obras é morta?
São Paulo diz: “Ninguém pode agradar a Deus, a não ser pela fé.” A fé é a certeza de todoaquele que segue Jesus Cristo. A fé é essa ponte que nos liga a Jesus Cristo. Mas a fé não é destacada da vida. A fé nos remete à caridade das obras. Por isso Jesus disse: “Quando eu tive fome, vós me destes o que comer; quando estive doente, vós me visitastes; quando eu estive na prisão, vós me acolhestes”. A fé nos impulsiona para a caridade fraterna.
É possível viver o período de festas sem o domínio da alegria mundana?
A festa deve ser a expressão de uma celebração. Mas ela pode ser enganosa quando ela é uma festa exterior e não celebra nada. Por isso, toda festa deve ser representativa. E a representação da festa de Natal é o renascer de Jesus Cristo em nossa vida pessoal, na comunidade e na sociedade.
De que maneira cada indivíduo deve entender e viver esse compromisso?
Em primeiro lugar é acolhermos Jesus Cristo como sentido da nossa vida e acolher, também, a sua palavra. Nós vamos aprender a conhecer quem é Jesus Cristo ouvindo, meditando e acolhendo a sua palavra. Não existe outro meio para conhecermos Jesus Cristo a não ser pelo Evangelho, pelas Sagradas Escrituras. A palavra de Deus nos educa, nos orienta, nos dá vida e esperança, nos corrige e nos mostra qual é o sentido da vida.
A era das liberdades exacerbadas traz alguma preocupação para a Igreja Católica?
Sim. Uma sociedade sem disciplina, sem ética é o fim. Nós precisamos ser dirigidos pelos valores humanos e cristãos. Pelos valores da verdade, da justiça, respeito, dignidade. Uma sociedade sem disciplina se decompõe; ela é arrasada.
Deixe uma mensagem para nossos leitores
Desejo a todos um feliz Natal! Que possamos celebrar essa data tão importante com graça do Menino Jesus chegando a todos os lares; e que todos os corações sejam abertos à fé e à verdade de Deus.
VINICIO DA MATTA
Vinicio.damatta@jornalatual.com