‘Para todos’, garante influencer de Itaguaí que ensina matemática na Web
Dicas de maquiagem, análise política, recomendações sobre investimentos, sugestões de turismo ou simplesmente conversa fiada. Enfim, no mundo dos digital influencers – ou influenciadores digitais – há de tudo um pouco. Inclusive quem ensine aquela disciplina que costuma tirar o sono de muita gente: a matemática.
É o caso do professor Jorge Abreu, morador de Itaguaí. Aos 35 anos, ele leciona há cinco, tanto em sala de aula, quanto em redes sociais, onde se apresenta como @profjorgeabreu e soma cerca de 750 mil seguidores – YouTube (8 mil), Kwai (270 mil), Instagram (157 mil), Facebook (32 mil) e Tik Tok (278 mil).
Formado em matemática pela FEUC (Fundação Educacional Unificada Campograndense), ele enfatiza que na Web procura substituir o tom mais sóbrio de professor de sala de aula por uma abordagem mais descontraída – confira o vídeo abaixo. A ideia, além de se aproximar da linguagem característica das redes, é somar os mais diferentes perfis de seguidores.
E nessa conta, entram até aqueles que, ao menos uma vez na vida, já declararam ódio à matéria: “Posto vídeos para todos. Todos os perfis de seguidores, incluindo os que odeiam matemática”, garante Jorge, que é de Magalhães Bastos, Zona Oeste do Rio de Janeiro, mas mora em Itaguaí desde 2016, quando se casou com a esposa Taynara.
PÚBLICO-ALVO
Na equação do professor, ter diferentes tipos de seguidores é igual a ajudá-los a alcançar objetivos distintos. Por exemplo, muitos que assistem seus vídeos estão de olho em concursos públicos. Não à toa, segundo Jorge, a faixa etária que mais acompanha suas redes está entre 25 e 40 anos.
Mas em vez de um conteúdo extenuante, já que a concorrência neste tipo de prova é árdua, ele opta por outra estratégia: “Gravo os vídeos para quem quer estudar como se estivesse em uma sala de aula, mas por meio de entretenimento, curiosidades, macetes. Coisas que fazem a matemática parecer mais simples”, observa Jorge, que no Cesap (Centro Educacional Santo Antônio de Pádua), em Bangu, leciona para jovens do 6º ao 9º do Ensino Fundamental, entre 11 e 17 anos.
Inversamente proporcional no quesito faixa etária, há a turma que já está na casa dos 70, 80 anos. Os objetivos, claro, são outros, mas ele assegura que os “alunos” da melhor idade também aproveitam o conteúdo:
“Muitos mandam mensagem dizendo que meus vídeos fazem bem, que são bons para exercitar a mente”
Jorge Abreu, professor de matemática
PRESENTES
Além de mensagens, Jorge – que grava e produz os vídeos sozinho em casa e faz publicações diárias – ressalta que também já recebeu presentes de quem o acompanha na Internet. Alguns, aliás, de muita serventia, já que a empreitada digital começou com uma estrutura bem inferior em comparação à de hoje: “Um rapaz de Itaguaí me deu um microfone, para melhorar a qualidade do meu áudio. Comprou e mandou para o meu endereço. Foi o primeiro presente que ganhei de um incentivador”.
Desde então, outros agrados – como webcam e luminária – chegaram para agregar valor ao seu trabalho. Um deles, a propósito, veio da China, por meio de uma empresa com quem ele fez uma parceria de permuta, algo comum entre os influenciadores: “Me enviaram uma mesa digitalizadora, uma espécie de tablet, de R$ 4 mil. Tudo o que escrevo nela sai na tela do computador, do celular”, explica o professor, que em troca, fez algumas menções à empresa em seus vídeos.
ADVERSIDADES
Mas nem só de mimos e elogios se faz a trajetória de Jorge. Ele conta que a ideia de ensinar matemática de uma forma descontraída na Internet nasceu da soma de duas paixões: a matemática e o teatro.
O professor recorda que chegou a fazer artes cênicas por cinco anos na juventude, mas, por falta de incentivo, precisou descer dos palcos para trabalhar: “Fui caixa de supermercado e de hortifruti, entregador…”, enumera.
Já em 2011, Jorge começou a faculdade – ironicamente, cursou um período de Direito antes de descobrir a paixão pelas ciências exatas. Entretanto, precisou trancar a faculdade porque a conta não fechava. Ou seja, faltava dinheiro para as mensalidades.
Por dois anos, trabalhou em uma operadora de telefonia. Com o salário, conseguiu retomar os estudos, mas logo em seguida, rememora, acabou demitido: “Tinha horário para entrar, mas não para sair. Pela distância, não conseguia ficar todo o tempo que eles queriam porque tinha que estudar. Então, fazia meu trabalho e ia embora. Isso incomodou o pessoal, que me dispensou”.
Assim, ele recorreu ao Fies (Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior) e conseguiu concluir o Ensino Superior. Mas logo depois, já com a jornada de influenciador em curso, precisou resolver outro problema: pessoas que insistiam em subtrair de suas expectativas em vez de multiplicar.
Jorge relembra que comentários desanimadores partiam de conhecidos e até de familiares, mas garante que nunca se abalou:
“Ignorava e ignoro até hoje. Fui chamado até de palhaço. Mas nunca deixei de acreditar no meu crescimento”
Jorge Abreu, professor de matemática
MONETIZAÇÃO
A tática de não dar ouvidos a quem o desmotivava levou Jorge aos cerca de 750 mil seguidores e, consequentemente, à monetização. Mas ele garante que, ao contrário de outros influenciadores, a rentabilidade ainda não é digna de uma nota 10.
LEIA MAIS
Influenciadores digitais: conheça três de Itaguaí que falam sobre a vida nas redes
Apesar do alcance, o porto seguro de todo mês ainda está no salário como professor: “Monetizo em todas as redes sociais que tenho perfil, mas não conto com esse dinheiro. Nem todo mês consigo bater a meta mínima. Época de férias, por exemplo”, sublinha Jorge, que também participa do Brasil na Escola, projeto do Governo Federal para aula de reforço de matemática em Chaperó.
Ainda sobre a dificuldade em monetizar com regularidade, o professor acredita que o foco do seu trabalho pode ser uma explicação:
“Perfil educacional é mais difícil de viralizar sempre. Vídeo de dança é diferente. Então a monetização para mim é só um complemento. Se fosse algo garantido, seria melhor”
Jorge Abreu, professor de matemática
PERSEVERANÇA
Agora, se depois de ler essa matéria, você – que vê a matemática como algo impossível (assim como o repórter que vos escreve) – sentiu aquela vontade de aprender, saiba que seu caso não está perdido. Afinal, como afirmou o professor no início, o conteúdo é para todos.
Até porque, reforça ele, o fio condutor dos vídeos, muitas vezes, é exatamente facilitar a vida de quem (ainda) não aprendeu: “Posto muitos problemas fáceis, e os seguidores que já sabem reclamam. E eu digo que coloquei para quem não sabe, porque o que nos faz gostar de matemática é começarmos a entender”, salienta Jorge, deixando um último recado: “Você não odeia matemática. Só não aprendeu ainda.”