“Onde tem gás, tem indústria. Onde tem indústria, tem emprego”
Um dos quadros políticos que mais conhece das questões relativas ao desenvolvimento econômico do estado, o presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro e agora pré-candidato a senador, deputado André Ceciliano (PT), é enfático ao apontar que o Rio precisa se unir em defesa de seus interesses, e que está preparado para liderar esse movimento no Senado.
Ele cita o exemplo do potencial para a instalação de duas plantas fabris de fertilizantes próximas ao Porto de Itaguaí (Baixada) e Porto do Açu (Norte Fluminense), a partir da construção de dois gasodutos (rotas 3 e 4b) para aproveitar o gás produzido no pré-sal, que hoje é, literalmente, jogado fora.
“O Rio tem gás de sobra. Hoje, mais de 50% de todo o gás é reinjetado no fundo do mar por falta de gasodutos para escoar a produção. Onde tem gás, tem indústria. E onde tem indústria, tem emprego”, explica.
André é autor do Plano Estadual de Fertilizantes. Ele conta que, com a guerra da Rússia, o país se deu conta que mais de 85% dos fertilizantes usados aqui são importados e que precisa reverter essa dependência. Confira na entrevista.
Por que o senhor quer ser senador?
Porque tenho a experiência necessária para ser o representante que o Rio precisa e para ajudar o presidente Lula no desafio de reconstrução do Brasil. Eu sou o candidato que o presidente Lula quer ter ao seu lado no Senado porque sabe que eu não tiro o pé de bola dividida. O Rio tem três senadores, todos do mesmo partido, e eles têm sido mais fiéis ao presidente Bolsonaro do que ao estado que representam. Já fui duas vezes prefeito, quatro vezes deputado e estou presidente da Alerj há cinco anos. Mais de 400 leis em vigor no estado são de minha autoria. Conheço a fundo cada um dos 92 municípios do Rio de Janeiro, seus problemas e potenciais. Trabalho incansavelmente pelo desenvolvimento do nosso estado. Meu perfil agregador e aberto ao diálogo será fundamental para o momento que vivemos.
É possível dialogar nesses tempos de radicalismo?
Não só é possível, como necessário. Minha experiência na Alerj é a prova de que é possível unir pensamentos divergentes em torno de algo maior, que é a defesa do Rio de Janeiro. Foi assim que conseguimos aprovar projetos importantes como o Supera RJ, de minha autoria, que garantiu auxílio emergencial no pior momento da pandemia. Aprovamos o Vale Gás. Reduzimos o imposto sobre energia elétrica para produtores rurais, para bares e restaurantes, aprovamos o Fundo Soberano e muito mais. Avançamos também em pautas progressistas, como a Escola Sem Mordaça, de minha autoria, com o deputado Carlos Minc (PSB); a autonomia financeira da UERJ e a renovação das cotas nas universidades. Isso só foi possível porque houve diálogo.
O Rio saiu da crise?
Vivemos uma janela de oportunidade porque o pagamento de nossas dívidas está suspenso por conta do Regime de Recuperação Fiscal; o preço do petróleo e do dólar em alta gera uma extraordinária arrecadação de royalties e ainda houve a venda da Cedae. Precisamos aproveitar esse momento e planejar o futuro. E também pensar no bem-estar das pessoas, porque hoje temos no estado Rio de Janeiro três milhões de pessoas vivendo em situação de insegurança alimentar e isso é muito grave. Daí a importância de programas como Supera RJ e o Vale Gás, ambos projetos de minha autoria.
Como planejar o futuro?
A alta na arrecadação de royalties é transitória. Daqui a pouco, o vento muda, como mudou em 2016 e o Rio faliu. Não podemos permitir isso, Por isso, é importante que a economia do Rio de Janeiro se diversifique e tenha outras fontes de receita, ou seja, seja menos dependente da extração do petróleo. Já está em vigor a minha lei que cria o Fundo Soberano, que faz exatamente isto: dá a possibilidade de o Rio finalmente planejar seu futuro, para além do petróleo.
O que é o Fundo Soberano?
Ele é um fundo alimentado com recursos extras dos royalties de petróleo. Assim: sempre que houver aumento da previsão das participações especiais, 30% vão pro fundo. Criado em 2021, esse fundo já tem R$ 2,6 bilhões depositados. Parte desse dinheiro é para ser uma poupança para o estado segurar a onda em momentos de crise. Mas outra parte funciona como um fundo de investimentos, que pode custear projetos estruturantes, aqueles que trazem novos investimentos, criando assim um círculo virtuoso.
Por exemplo?
Podemos, por exemplo, aproveitar nossa imensa produção de gás natural que o Rio tem para investir em plantas de fertilizantes nitrogenados, que usam o gás como matéria prima. O Porto de Itaguaí e o Porto do Açu, por exemplo, são locais estratégicos para a instalação delas devido à logística de escoamento da produção. Além de gerar empregos para a economia local, esse investimento diminui a dependência nacional com relação à importação desses insumos. A Petrobras já teve várias fábricas de fertilizantes. Vendeu tudo, inclusive para a Rússia, da qual hoje somos dependentes!
Caso o senhor venha a ser senador, que medidas vai defender para que isso aconteça?
O ponto de partida é tirar do papel os investimentos nas rotas 3 e 4B, para construir os gasodutos que vão escoar o gás que o pré-sal produz e que hoje é reinjetado no fundo do mar porque não tem gasoduto. O Rio produz mais de 70% do gás natural de todo o Brasil. Qual seria o estado mais adequado para construir um gasoduto e termelétricas a gás? Obviamente, o Rio. Contrariando o bom-senso, porém, recentemente foi aprovada pelo Congresso Nacional e sancionada pelo presidente da República lei que prevê a contratação de oito mil megawatts em termelétricas no centro-oeste, norte e nordeste do país. O Governo Federal quer investir em um gasoduto com investimento mínimo de R$ 100 bilhões no Nordeste e Centro-Oeste. Isso é um crime contra o Rio e nossos três senadores representantes do Rio votaram a favor disso!! Falta compreensão da realidade do estado. Ou se joga futevôlei na praia ou se trabalha!
O senhor está se referindo ao senador Romário, com certeza.
Romário foi um ótimo jogador de futebol. Ele parado fazia gol. Mas jogar parado no Senado não funciona. Ele está senador há quase oito anos e o que entregou pro estado? Ele fala em R$ 250 milhões em emendas orçamentárias para o Rio, em 12 anos como parlamentar. Eu, em três anos como presidente da Alerj, promovi uma economia que permitiu que a Casa devolvesse para o estado e doasse para municípios mais de R$ 1,5 bilhão, com B de bom de bola. Ao longo dos meus mandatos, propus e aprovei mais de 400 leis, entre elas o Supera Rio, o Fundo Soberano e a redução de ICMS para bares, restaurantes; a isenção de imposto sobre energia consumida por produtores rurais e muito mais. Aqui tem trabalho sério. Não é discurso. São entregas efetivas para a população.
O deputado Alessandro Molon (PSB) tem se mostrado um adversário importante. Por que a esquerda não consegue se unir com relação à indicação de um candidato único ao Senado?
Existe um acordo firmado onde foi definido que o PSB indicaria o nome do Marcelo Freixo para concorrer ao governo do Estado e o PT lançaria o nome ao Senado. Acordo é para ser cumprido e eu ainda confio que será.
Ele argumenta que tem melhor colocação nas pesquisas… O voto do senador é o último a ser definido. Mais de 80% dos eleitores dizem não saber em que votar para senador ainda. Uma pesquisa recente do Ipec, o antigo Ibope, mostrou eu e Molon empatados tecnicamente. Com o apoio de Lula, vou para 40%, meu nome ultrapassa o Romário, que teria 36%. O Lula jé deu todas as demonstrações de que sou o seu único candidato ao Senado, que é em mim que ele confia, porque sou firme e nunca abandonei o PT, nem nos seus piores momentos.