Itaguaí recebe concerto que toca música com arquitetura e história
Música e arquitetura unidas em um único evento. Desde dezembro de 2021, o Festival Interativo de Música e Arquitetura (Fima) realizou diversas apresentações em construções marcantes da cidade do Rio de Janeiro, reunindo grandes nomes das duas áreas. E agora, o evento pega a estrada e desembarca em Itaguaí, para um concerto a céu aberto, na Praça Dom Luiz Guanella, dia 28 de maio.
No palco, dois dos mais destacados músicos brasileiros da atualidade – Daniel Guedes (violino) e Fábio Presgrave (violoncelo) – brindarão o público com um repertório que dialoga com a história do município e a arquitetura da Igreja Matriz de São Francisco Xavier. Os integrantes da Orquestra Jovem de Itaguaí farão participação especial nas duas últimas músicas.
HISTÓRIA E TALENTO LOCAL
A apresentação musical será intercalada com comentários das palestrantes Noemia Barradas (arquiteta) e Mirian Bondim (historiadora). O Fima é patrocinado pelo Instituto Cultural Vale, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura e, em Itaguaí, conta também com o apoio da Prefeitura de Itaguaí, por meio da Secretaria Municipal de Educação e Cultura e da Secretaria Municipal de Eventos.
O palco que receberá o evento ficará de frente para a obra arquitetônica que é um marco da fundação de Itaguaí, erguida sobre o Morro Cabeça Seca, por onde abaixo passava o rio argiloso chamado Tagoahy (que na língua tupi significa “rio de águas amarelas”. “Uma construção típica das edificações religiosas construídas pelos jesuítas até a primeira metade do século XVIII no Brasil, a Igreja Matriz de São Francisco Xavier é celebrada pelo Fima nesta primeira edição, pelo seu protagonismo histórico para toda a região de Itaguaí. Um patrimônio cultural que é de grande importância não só para este município, mas também para todos nós brasileiros”, explica o diretor artístico do Fima, Pablo Castellar.
E para deixar o evento ainda mais especial para a cidade, vinte quatro jovens talentos de Itaguaí também estarão no palco. Os integrantes da Orquestra Jovem de Itaguaí (Orji), sob a regência do maestro Adriano Araújo de Souza, se juntarão a Guedes e Presgrave na execução das últimas peças do programa. “Essa participação especial da Orji é resultado de um trabalho realizado por estes jovens músicos junto aos solistas deste duo durante dois dias intensos de aulas magnas e ensaios. Uma ação que integra a programação educativa do Fima”, completa Castellar.
Na plateia, presenças especiais também são esperadas: alunos de escolas públicas do município, que participaram do ‘Fima na Escola’, uma ação educacional para alunos da rede pública, com o objetivo de sensibilizar crianças e estimular novos caminhos de valorização de suas identidades culturais. Tudo isso para que melhor compreendam a importância do patrimônio histórico de sua comunidade. Agora, elas estarão na plateia do concerto para verem e ouvirem parte do conhecimento adquirido durante a sensibilização.
HISTÓRIA E REPERTÓRIO
O concerto terá início lembrando dos povos originários que habitavam a região de Itaguaí antes da chegada dos portugueses: os tupinambás. O duo formado pelo violinista Daniel Guedes e pelo violoncelista Fábio Presgrave apresentará duas melodias de cantos tupinambás, anotadas por Jean de Léry, no século XVI: Canidé-ioune, uma invocação a uma ave amarela que celebra toda a sua beleza, e a música cerimonial Heüra, oueh.
Entre 1718 e 1729, os jesuítas construíram o conjunto arquitetônico religioso do qual a Igreja Matriz de São Francisco Xavier é remanescente. Foram eles também os responsáveis por transferir os indígenas (catequizados) Guaranis da Fazenda de Santa Cruz para este local, dando início ao povoado que mais tarde, em 1818, se tornaria a Vila de São Francisco Xavier de Itaguaí. Para lembrar essas ocupações jesuítas, será executada a obra All. Elevation nº 2, de Domenico Zipoli, padre compositor e organista italiano, que, apesar de pouco conhecido do público geral, deixou sua marca nas missões da América do Sul.
Em seguida será a vez do programa dialogar musicalmente com a própria Igreja Matriz de São Francisco Xavier. Serão apresentados dois movimentos da Partita nº 2 em ré menor para violino solo, de Johann Sebastian Bach, uma obra composta entre 1717 e 1720, mesmo período em que foi iniciada a construção deste edifício.
De Heitor Villa-Lobos, Melodia Sentimental, da suíte “A Floresta do Amazonas”, transportará o público para 1755, época que marcou o fim da história dos indígenas em Itaguaí, expulsos pelos portugueses. A canção, considerada de beleza incomum, evoca o espírito da floresta e dos indígenas que um dia naquele território habitaram.
Já a presença africana em Itaguaí será lembrada com outra peça de Villa-Loos: Choros-bis nº1. Importante base para abastecimento de escravizados para Minas Gerais por meio da Estrada Real, a cidade movimentou um número expressivo deles. Mesmo após a legislação antitráfico, o município, com seu traçado caprichoso, com bocas de rios, enseadas e pequenas baías, oferecia esconderijos naturais ideais para realizar o contrabando de escravizados. “Choro” era o nome utilizado para a música apresentada pelos chamados “chorões”, conjuntos de músicos de rua brasileiros que usavam instrumentos africanos e europeus.
INDEPENDÊNCIA
Consta, em registros históricos, que na sua volta de São Paulo, onde proclamou a Independência do Brasil, há 200 anos, D. Pedro I passou por Itaguaí, já que esse era o caminho utilizado. Na cidade, teria sido aclamado pela população, na Praça Dom Luiz Guanella, local que abriga o concerto e antes era chamada de Praça da Aclamação. Para celebrar esta importante efeméride, o duo executará o Hino da Independência do Brasil (Hino Imperial e Constitucional de 1822), composto pelo próprio Dom Pedro de Alcântara.
As duas últimas obras do programa contarão com a participação de vinte e quatro integrantes da Orquestra Jovem de Itaguaí e regência do maestro Adriano Araújo de Souza. Com o duo como solistas, o grupo interpretará Ya Mariamu (Canto tradicional libanês) e um arranjo de Fábio Presgrave integrando o Prelúdio da Suite nº2 em Ré Menor, de J.S. Bach, com o Samba em Prelúdio de Baden Powell e Vinícius de Moraes.