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Triatleta de Itaguaí diz que cidade é perfeita para treinar

Para o triatleta Neto Majella sair de Itaguaí, ao menos no momento, só se for para competir. Porque para treinar, não há motivos, já que tudo o que um praticante de cross-triatlo precisa está na cidade. E quem garante é o próprio itaguaiense, de 21 anos, que se prepara para a sua primeira competição internacional adulta: o Mundial da modalidade em agosto de 2024, na Itália.

No tradicional triatlo (que faz parte do programa olímpico), a prova de natação ocorre no mar, e as de ciclismo e corrida, no asfalto. Já no cross-triatlo, as braçadas também acontecem no oceano, mas competições terrestres colocam os participantes em trilhas, estradas de terra e single tracks (trilhas mais estreitas e sinuosas).

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Ou seja, quilômetros a perder de vista em meio à natureza. E é aí que morar e treinar em Itaguaí vira um privilégio: “Aqui é meu quintal. Em 15 minutos, estou na Serra do Matoso ou em Mazomba. Às vezes, pedalo na Rio-Santos, sentido Angra. Na corrida, faço treinos de velocidade no Parque Municipal. Itaguaí proporciona isso… É o lugar perfeito para treinar. O CT (Centro de Treinamento) perfeito”, ressalta Neto, em entrevista ao ATUAL.

A exceção em relação a treinos em Itaguaí, conta o atleta, é a natação, modalidade para a qual ele se prepara no município vizinho: “Costumo nadar em Mangaratiba, na Praia Brava”.

ELOGIOS DA CONCORRÊNCIA

A competição que garantiu Neto Majella no Mundial da Itália do ano que vem foi a XTerra (a mais importante do mundo na modalidade), na etapa Costa Verde – na qual ele ficou em segundo lugar na faixa 20-24 anos. Na disputa, que aconteceu no início deste mês, ele pode perceber que não é o único a enxergar Itaguaí como um lugar completo para preparar um atleta de cross-triatlo.

Neto relembra que alguns de seus concorrentes, de estados como Minas Gerais e São Paulo, se hospedaram na cidade e foram só elogios: “Eles falaram que temos aqui praia e montanha próximas umas das outras. Na verdade, montanha, trilha, asfalto, praia e cachoeira. É tudo perto”, constata o triatleta, cujo primeiro campeonato de peso foi o XTerra Paraty 2021.

A CARGA DE TREINOS

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Sob o comando do treinador Rangel Rodrigues, Neto Majella tem uma rotina de treinamentos que faria qualquer um cansar só de ler. Ele acorda às 5h para estar na rua às 6h. Treina, em média, de 10 a 12 horas por semana. Ao todo, são três treinos de natação; quatro de ciclismo; e mais quatro de corrida. Isso de domingo a domingo:

“Nunca fico off. Faço pelo menos um alongamento ou um fortalecimento muscular”

Neto Majella, atleta de cross-triatlo

Sobre mudar a carga de treinamentos em decorrência de um provável nível de competição mais elevado no Mundial, o triatleta admite que deve aumentar a preparação, mas não necessariamente na duração das atividades. O objetivo é intensificar: “Não creio que volumes aumentem, mas, sim, os ritmos. Nadar, pedalar e correr mais rápido…”, explica Neto, contando, porém, que não vai fazer qualquer alteração por ora por conta do campeonato na Itália: “Só vou começar a pensar no Mundial em fevereiro porque o ciclo de preparação para uma prova dura quatro meses”.

MUDANÇA DE MODALIDADE

E depois da estreia em uma disputa internacional, qual seria o próximo objetivo? Participar de uma edição dos Jogos Olímpicos? Neto – que sempre praticou esportes, como vôlei, handebol e lutas, desde a infância – ressalta que tal possibilidade é remota.

Como o cross-triatlo não é esporte olímpico, ele precisaria migrar para o triatlo, o que demandaria um outro tipo de estrutura que, talvez, não seja possível mais atingir: “Geralmente, quem vai para a Olimpíada está treinando desde a infância. Muitas vezes, há um clube e um grande patrocínio por trás. Então, mudar de modalidade agora seria começar do zero. Não é impossível, mas é improvável começar depois dos 20. Não que eu não tenha condições, mas é difícil”, admite.

No cross-triatlo, as provas terrestres acontecem em meio à natureza, em trilhas e estradas de terra (Arquivo pessoal)

Mas se participar do maior evento esportivo do planeta está fora dos planos no momento, o mesmo não vale para se consolidar no cross-triatlo. A curto prazo, Neto quer se tornar uma presença cada vez mais regular em competições da modalidade.

Já a longo prazo, é estar no ponto mais alto possível dentre os competidores: “Quero estar entre os cabeças. Conquistar uma disputa nacional. Talvez, ser o melhor brasileiro em um Mundial”, supõe.

JORNADA DUPLA

Enquanto busca seus objetivos no cross-triatlo, Neto Majella também estuda. Com previsão de conclusão para 2024, ele cursa História na UFRRJ (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro).

Só que, como atleta dedicado que é, Neto usa o campus Seropédica também para treinar – ainda que não haja a estrutura natural de Itaguaí: “Dentro da Rural, consigo pedalar, correr…”, detalha ele, assegurando que o esporte não interfere na trajetória acadêmica:

“Não é porque treino muito que vou deixar de estudar. Estudar é importante”

Neto Majella, atleta de cross-triatlo

Quanto a dar conta da jornada dupla, ele garante: “Dá para conciliar. Sou bem caseiro, curto um cinema, rodízio… Não sou muito de noite. E nem teria como ser (risos)”.

APOIO

Na UFRRJ, enquanto treina e estuda, Neto analisa o melhor momento para abordar a administração da universidade para tratar de um assunto importante: a possibilidade de um patrocínio.

O atleta relata que, apesar do potencial que favorece os treinos de modalidades esportivas, como natação e ciclismo, Itaguaí apresenta um cenário de poucas oportunidades quando o assunto é incentivo ou apoio financeiro – seja da iniciativa privada ou até da pública – a atletas:

“São poucos os que ascendem em Itaguaí. Conheço profissionais que tiveram que sair daqui atrás de oportunidades”

Neto Majella, atleta de cross-triatlo

E no caso do cross-triatlo, os gastos não são poucos. Segundo Neto, a soma de todo o seu equipamento (tênis de corrida, bicicleta, itens de segurança e afins) chega a cerca de R$ 5 mil. Já a participação em uma única etapa do XTerra, das 14 que acontecem ao longo do ano, fica aproximadamente em R$ 2 mil – para arcar com inscrição, hospedagem e deslocamento.

Em uma destas ocasiões, a propósito, Neto quase desistir de participar: “Em maio de 2022, tinha uma competição em Ibitipoca (MG). A poucos dias para a prova, eu só tinha R$ 400. Daria só para a gasolina. Pensei em não ir, mas amigos se juntaram para me ajudar. Fizeram rifa, vaquinha, e eu conseguir viajar”, recorda.

Atualmente sem patrocínio, Neto compartilha sua realidade: “Tenho tocado o barco só com a ajuda de pessoas próximas. Minha realidade, no momento, é essa. Vende uma coisa aqui, outra ali…”, enfatiza ele, revelando que já pensa em falar com a reitoria da Rural: “Eu não via muito sentido em pedir auxílio a uma universidade federal porque, mesmo com bons resultados, ainda não tinha maiores conquistas. Mas acho que agora é o momento de conversar com eles”.

PROJETO

Ainda sobre a UFRRJ, é na universidade que Neto Majella pretende, ainda sem prazo definido, tirar do papel um projeto para levar o cross-triatlo a crianças das comunidades no entorno do campus: “São três esportes diferentes e acessíveis. Principalmente, natação e corrida”, atesta ele, esclarecendo a proposta: “Tive a ideia com amigos no começo do ano. A princípio, faríamos um evento. Mas também dá para promover uma escolinha. Acho que seria viável. Ficou tão legal no campo das ideias (risos)”.

Dentre os benefícios do possível projeto, Neto cita diminuição da criminalidade e associação entre esporte e educação. Uma visão de quem trata o esporte não só como competição, mas também como ferramenta de transformação e inspiração: “Como atleta, é possível ser referência para as crianças”, encerra.

Luiz Maurício Monteiro

Repórter com mais de 15 anos de trajetória e passagens por diferentes editorias, como Cidade, Cultura e Esportes.

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