Blocos voltam a Itaguaí com foliões cheios de expectativa
“Se descer, não sobe mais”, “Rola Cansada”, “Perereca Triste”. Além dos típicos nomes de duplo sentido, estes blocos compartilham outro ponto em comum: seus diretores têm contado os minutos para a retomada do Carnaval em Itaguaí após dois de suspensão por conta da pandemia de Covid-19.
E às vésperas do início da folia – que até terça-feira (21) vai passar por localidades como Coroa Grande, Ilha da Madeira, Chaperó e Parque Municipal, dentre outras – o ATUAL fez questão de saber como está essa expectativa.
Idealizador do “Se descer, não sobe mais”, que circula pelas ruas do Centro desde 2000, Mestre Fael é do bloco dos que acreditam que o povo vai tomar as ruas atrás dos festejos de Momo. E seu parâmetro é um evento que ele próprio realizou em 2022, já após o período mais severo da pandemia.
Ele lembra: “O povo está com saudades do Carnaval, está carente. O evento que fiz aqui no ano passado bombou. Vieram cerca de mil pessoas. Se em 2022 o pessoal estava assim, imagine agora?”.
ANSIEDADE
Tradição ininterrupta da cidade desde 1998, o “Bloco da Cachaça” estreou em 1974, mas ficou alguns anos sem desfilar. Agora, depois de mais uma paralisação, o diretor Caê é só empolgação para o retorno: “Após dois anos reclusos, vamos com tudo para esse Carnaval. A ansiedade está lá em cima”.
Quem também é só animação é Dacir Godinho, que, ironicamente, é presidente do “Perereca Triste”. Contradições – e brincadeiras à parte – ela relembra a importância da vacinação contra o novo coronavírus que está permitindo a volta da folia: “Graças à vacina, tudo tem voltado ao normal. E acho que o povo está com sede de aglomeração, de estar próximo sem medo. Acho que será muito bom esse reencontro”.
PANDEMIA
Dentre os entrevistados pela reportagem, a única que não é diretora ou representante de bloco é Mariana Castro. Em contrapartida, ela é idealizadora do Samba de Comunidade, projeto que fomenta o gênero musical e a cultura dos cortejos em Itaguaí – clique aqui para saber mais sobre o documentário que ela lançou nesta semana sobre a iniciativa.
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Foliã incansável, Mariana – que vai circular por diferentes blocos no domingo (19) – também está com a fantasia pronta para sair do cabide, porém, sem esquecer o motivo que fez a festa de rua ser suspensa pela primeira vez em um século: “A pandemia veio para nos ensinar mais sobre humanidade. Mas minha expectativa é que possamos brincar em comunidade”, torce ela, deixando um recado: “Espero que os governantes possam ouvir mais como o povo quer brincar no Carnaval”.
Já Paulo Netto, idealizador do “Rola Cansada” e – ironicamente ou não – marido de Dacir, a presidente do “Perereca Triste”, é mais um que celebra a volta do Carnaval, porém, sem deixar de mencionar a pandemia.
Embora torça pelo retorno da atmosfera carnavalesca às ruas da cidade, Paulo não entende que a procura pelos blocos será a mesma de outros anos já em 2023 “Acho que vai levar um pouco mais de tempo para as pessoas se sentirem totalmente seguras. Ainda tem muita gente com medo. Então, acredito que a maioria está ansiosa, mas nem todos os que gostam de Carnaval vão sair ainda por receio da doença”.
UNIÃO
Mas mesmo que não reúnam os cerca de 500 foliões de anos anteriores à pandemia, Dacir e Paulo têm uma certeza para 2023: estão de pé o seu casamento e o dos seus respectivos blocos. Mas nem sempre foi assim.
O “Rola Cansada” nasceu primeiro, em 1993. Já o “Perereca Triste”, como não é difícil de se imaginar, veio um ano depois a partir de uma brincadeira com o nome do bloco mais antigo. Durante um tempo, homens saíam no primeiro, e mulheres, no segundo.
Mas depois de um período, muitos homens começaram a reclamar por desfilar com o nome comprometedor do bloco de Paulo no abadá. Veio então, em 1997, a ideia de uni-los em um só bloco: “Para não haver discriminação e todo mundo sair em paz (risos)”, lembra Dacir, à espera de mais um grito de Carnaval em Itaguaí.