Itaguaí: trabalhadoras querem faturar mais no Carnaval
Se para muitos o Carnaval é sinônimo de diversão, momento para extravasar e “pegação” – ou até descanso, por que não? – para outros, a hora é de faturar. Em Itaguaí, por exemplo, em vez de desfilar em blocos, muita gente vai atravessar uma verdadeira maratona de quatro dias de labuta, suando a camisa para aumentar a receita.
Para ter um panorama melhor dessa expectativa por mais dinheiro no bolso, o ATUAL conversou com cinco trabalhadoras itaguaienses. E o que ficou claro é que o Carnaval vai muito além de fuzuê e agitação.
Para diversas pessoas, o significado desse momento é o de mais oportunidades para se arrecadar: “Nos empenhamos para dar o nosso melhor, pois essa é a melhor época para ganhar dinheiro”, ressalta Franciele Benevides, 35 anos, proprietária há cinco anos de uma barraca de Açaí na Praça Kome Keto, na orla de Coroa Grande, que vira o fervo durante o Carnaval.
Ainda sobre as oportunidades que a festa de Momo pode proporcionar, há quem espere aumentar os ganhos de sábado (10) a terça-feira (13) não só enquanto os blocos passarem, mas também depois que a festa acabar. É o caso de Cláudia Vieira, de 39 anos, que trabalha como catadora de recicláveis em diversos bairros de Itaguaí há 18.
Para isso, ela – que faz parte da cooperativa VJA Reciclagem, no Brisamar – aposta, claro, nas latinhas de cerveja e refrigerante, que costumam se proliferar nessa época: “Por dia, conseguimos diversos materiais como papelão, plástico, pet e ferro. Mas no Carnaval, o nosso foco vai para as latinhas, que têm um valor maior. Esperamos 200 kg só de alumínio nos quatro dias”.
A título de curiosidade, segundo a VJA Reciclagem, o quilo do alumínio das latinhas rende aos catadores atualmente entre R$ 5 e R$ 6. Já em uma noite de Carnaval, um trabalhador pode arrecadar de 30 a 40 quilos do material.
MULTIPLICAÇÃO DOS LUCROS
E é com foco nesse recipiente que guarda o líquido precioso para os foliões que Claudia pretende ganhar três vezes mais do que em outras fases do ano:
“Queremos o triplo no Carnaval. Acredito que R$ 1.300 nos quatro dias”
Claudia Vieira, catadora de recicláveis
Outra que mira o triplo do lucro nos próximos dias é Fabiana Santos, de 37 anos, que trabalha como trancista há quatro. Com uma estrutura montada em casa, no bairro Vila Geny, ela oferece opções de penteado que vão de R$ 20 (trança nagô) a R$ 250 (Gypsy Braids).
Ela reconhece que o negócio já rendeu mais nos dias dos festejos de Momo em anos anteriores, mas mantém a confiança de uma clientela massiva em busca de um novo penteado para sair em blocos, bailes e afins: “No início, em épocas como Carnaval e fim de ano, faturávamos quase o triplo da renda mensal de uma trancista. Mas hoje o movimento ainda é legal”.
Também em Coroa Grande, Maria de Souza (48), proprietária do quiosque Point da Diretoria, espera dobrar as vendas de cerveja, um dos carros-chefes de seu empreendimento:
“Vendo 10 caixas por semana. Mas no Carnaval, com a equipe bem treinada, esperamos dobrar a venda”.
Maria de Souza, proprietária do quiosque Point da Diretoria
Já Franciele – que tem opções de açaí entre R$ 4 e R$ 24 – é mais modesta em relação ao aumento dos ganhos. Mas a animação é igualmente alta: “Esperamos que nossas vendas possam crescer mais de 30 % em relação ao ano passado. O fluxo de novos veranistas em nossa região tem crescido constantemente”, observa a comerciante, enaltecendo a festa local: “Temos um dos melhores carnavais da Costa Verde”.
MARATONA
Entretanto, proporcionalmente ao faturamento, o cansaço também deverá ser maior durante as festas. Com 18 clientes já agendadas para o período carnavalesco, Fabiana calcula trabalhar mais do que as 12 horas diárias habituais.
Para tanto, a preparação já está toda traçada: “Muita água e alimentação nos horários corretos. Isso é muito importante”, destaca a trancista, relembrando um perrengue:
“Já passei mal atendendo clientes até as 3h sem me alimentar”
Fabiana Santos, trancista
A catadora Claudia, por sua vez, admite que não se considera totalmente pronta para a maratona de Carnaval, que estima em cerca de 12 diárias atrás de recicláveis: “Não diria que estou preparada, mas dou conta (risos)”.
Ela, porém, tem uma dica para além do consumo de água, principalmente para quem vai trabalhar debaixo de sol: “Geralmente, usamos roupas mais leves”.
E por falar em preparação, quem parece não se intimidar com o desgaste do Carnaval é Teresa Leite, 58 anos, que também atua junto à VJA Reciclagem. Para mostrar que o preparo está em dia, apesar do esgotamento do ofício, ela cita outro evento que arrasta multidões em Itaguaí e, consequentemente, gera maior quantidade de material reciclável: “Me considero preparada porque trabalhei todos os dias da Expo. E na Expo, me canso mais porque fico de um dia para o outro. Trabalho a noite toda”.
Já Maria de Souza pretende manter as portas do Point da Diretoria abertas por até 16 horas nas tardes e noites de folia. Com isso, ela – que também tem o peixe como ponto forte no cardápio, com opções a partir de R$ 35 – já tomou as devidas providências: “Reforçamos a equipe. E preparamos os colaboradores para quaisquer eventualidades nessa época”.
FOLIA X TRABALHO
Além do desgaste maior, outra contrapartida aos ganhos a mais do Carnaval é não poder aproveitar blocos e apresentações musicais. Inclusive, dentre todas as entrevistas, o posicionamento foi unânime: o trabalho não vai permitir tempo para diversão.
Um dos motivos é o receio de a festa não deixar energia para o batente: “Como terei muitas clientes, não vou conseguir conciliar as duas coisas. Principalmente, porque o Carnaval em Coroa Grande é maravilhoso, e é impossível sair cedo de lá para conseguir cumprir horários (risos)”, reconhece a trancista Fabiana.
A catadora Claudia é mais uma a manter o bom humor mesmo sem nutrir esperanças de brincar o Carnaval: “Não vai sobrar tempo. Mas a gente trabalha e se diverte ao mesmo tempo (risos)”.
E do Point da Diretoria, Maria segue a mesma linha: “Tempo não sobra, mas aproveitamos os intervalos para curtir a festa junto com nossos clientes e amigos”.
DESTINO PARA OS LUCROS
É claro que o Carnaval ainda nem começou, e os rendimentos tampouco foram contabilizados. Mas as profissionais já fazem planos para a renda extra oriunda da folia. Depois de incrementar seu quiosque com vidro Blindex, Maria pensa em mais melhorias: “Vou investir esse dinheiro no meu próprio negócio”.
Franciele também planeja destinar à sua barraca de açaí boa parte da receita arrecadada no Carnaval: “Vamos investir em melhorias para alcançarmos sempre nossas metas”.
Mais cautelosa, dona Teresa pretende gastar com o faturamento com as latinhas, mas deve economizar também: “Vou pagar algumas contas e guardar o restante”.
A propósito, a cautela também está na pauta de Fabiana. Como o Carnaval de 2025 está ainda mais distante para novas perspectivas de lucros polpudos, ela prefere ser precavida com o que ganhar neste ano: “Sou mãe de quatro filhos e preciso ajudar a manter as necessidades deles”.
Para quem é do trabalho ou da folia, bom Carnaval a todos!