Vídeo: em Itaguaí, mãe desesperada tenta colocar crianças em segurança durante enchente
É de Raiane Duarte Conceição, 30 anos, moradora da Rua 3, no Bicão, em Brisamar, a voz desesperada no vídeo (ver logo abaixo) que viralizou em Itaguaí na sexta-feira (1), enquanto a cidade lutava mais uma vez contra os alagamentos e enchentes. Mãe de Matheus e tia de Benjamim, ambos com três anos, ela tomava conta do sobrinho porque a irmã estava trabalho. Quando viu a água subindo pelo quintal e entrando em casa, bateu o desespero, porque as crianças ficaram assustadas e Raiane não sabia o que fazer: tentar acalmar os meninos ou salvar seus pertences.
“Quando começa a chover muito, a gente fica alerta. Minha irmã estava vindo do trabalho e meu sobrinho estava comigo. Quando vi meu quintal cheio, comecei a subir as coisas. Deixei os dois meninos no quarto, mas não deu tempo de salvar muita coisa porque eu tinha que olhar os dois”, explica Raiane.
Não é a primeira vez que a enchente atinge a vida de Raiane e da sua família, como ela conta: “Meu pai tinha um carro, um Corolla, que ficou praticamente submerso. Em 2019, eu tinha acabado de ter o Matheus, voltei da maternidade e tive que passar por dentro da água, ainda com pontos na barriga, um perigo”.
Ela disse que a família sofreu também em 2020, em outra enchente. Em dezembro de 2021, quando parte de Itaguaí enfrentou mais uma vez o transtorno, a casa de Raiane não encheu. Mas, dessa vez, a enchente alcançou a casa dela com toda força. Ela decidiu registrar a correria e o desespero na sexta-feira, com um vídeo no celular, para alertar as autoridades e mostrar o sofrimento de muita gente que, como ela, precisa proteger seu patrimônio e suas vidas ao mesmo tempo.
Ela disse ao ATUAL na tarde deste sábado (2) que todos estão bem, em segurança. Mas que o sentimento é de revolta: “Mandam pessoas aqui, prometem coisas e o problema continua”. Raiane disse também que pessoas da secretaria municipal de Assistência Social a procuraram, também no sábado (2), para se certificarem de que todos estão bem.
PREFEITURA DEMOROU A INFORMAR
Desde que as chuvas fortes começaram, ainda na sexta-feira (1), os alagamentos e enchentes voltaram a criar transtornos e trazer prejuízos aos moradores de Itaguaí. Desta vez, a atitude do governo municipal foi diferente, se comparado às enchentes de dezembro de 2021: muita pouca informação e orientação. A prefeitura somente publicou uma postagem na sua página no Facebook às 14h31 deste sábado (2).
Apesar do ATUAL ter solicitado por e-mail um boletim com o relato das ocorrências às 11h38 de sábado, a resposta só chegou às 13h52: “A Defesa Civil informa que o índice pluviométrico em Itaguaí, nas últimas 24 horas foi de 154 mm, mas não houve registro de ocorrências graves com feridos ou desabrigados. Desde ontem, as equipes permanecem nas ruas trabalhando. Agora, os agentes percorrem a cidade para vistoriar as áreas. Em Itaguaí, o local mais atingido foi Itimirim por uma cabeça d’água na cachoeira. Em outros locais, houve apenas o registro de bolsões de água. A Prefeitura informa que, em função da previsão, as equipes seguem em prontidão”.
Na postagem do Facebook há uma foto que mostra a secretária de Obras, Elisa Giovanna dos Santos Martins Dias, em meio a agentes da Defesa Civil em local não identificado. O texto da postagem explica muito pouco: “Assim como a Defesa Civil, as equipes da Secretaria de Obras estão mobilizadas em diversos locais da cidade. Homens e máquinas atuam para reduzir os efeitos da chuva em pontos que necessitou de desobstrução, favorecendo o escoamento das águas”.
O vídeo de Raiane, assim como outros e também fotos, foi publicado na página de Facebook chamada “Itaguaí Minha Terra”, evidenciando que a situação na cidade está ruim, que os alagamentos se repetem nos mesmos locais e, desta vez, também em outros. Não teria como ser diferente: entra ano, sai ano, é a mesma coisa, e os anunciados esforços dos diferentes governos resultam em pouca ou nenhuma melhora para a maioria da população.
“ALAGAMENTOS DIMINUÍRAM”, DIZ PREFEITO
“A gente demonstrou que vale a pena fazer o preventivo” – disse o prefeito Rubem Vieira (Podemos) logo no começo da live de hoje, transmitida via Facebook (página pessoal do prefeito), por volta das 15h deste sábado (2). Para Vieira, os alagamentos diminuíram devido ao trabalho da prefeitura. E ele comentou especificamente sobre Brisamar, justamente o bairro onde Raiane, a autora do vídeo que motiva essa matéria, mora: “Não tivemos nenhuma ocorrência grave, felizmente fizemos um trabalho de prevenção que começou lá em Brisamar. Sei que tem alguns problemas pontuais em algumas ruas, mas o principal de Brisamar, próximo ao Di Amore, que levava toda a região a ficar debaixo d´água, desta vez não alagou. Recebi inúmeros vídeos de moradores mostrando que aquela região melhorou muito”.
O prefeito mostrou nos monitores que o píer da Ilha da Madeira estava submerso, e que a maré alta atingiu também a orla de Coroa Grande, com mar quase alcançando a pista. “O valão do Guanabara transbordava, agora está escoando”, disse Rubem.
“O Canal do Viana teve um resultado mega positivo. Entretanto, no Canal da 18 é um problema mais crônico” – avaliou o prefeito, e continuou: “os lugares que encheram estão esvaziando rápido, só que a gente tem problemas ainda muito crônicos, a maré está muito alta, e tivemos problemas na serra, no Itimirim, as águas desceram com muita força”.
Rubem Vieira classificou a Rio-Santos como um problema a ser resolvido pela concessionária da rodovia, e declarou: “Conseguimos minimizar os problemas, as equipes estão na rua”.
Rubem disse: “Temos problemas crônicos no Cantão e na Reta, mas Canal que beira alinha férrea, como o da Reta, assim como o Campelo, no Sem Terra, são canais que dependem da MRS [empresa que administra a ferrovia]. Não podemos limpar esse rio porque pode dar problema, eles são responsáveis, só quem pode fazer é a MRS. Solicitamos à empresa que ela faça ou mande um engenheiro para acompanhar o trabalho para que possamos fazer e resolver aquele problema ali da Reta e do Sem Terra, e de onde passa linha férrea ao longo do rio”.
Sobre Chaperó, Vieira disse que “só três ou quatro ruas tiveram problema de alagamento, 95% do bairro não teve problema por causa das limpezas que fizemos lá”.
O prefeito ressaltou que a maré alta tem sido uma dificuldade a mais e declarou: “Não fizemos tudo, temos um ano de governo, e são 203 anos que não fizeram nada, não vai ser do dia para a noite que vamos conseguir fazer tudo”.
Para quem precisar de ajuda ou orientação, o telefone da Defesa Civil é 199.