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Seropédica cinematográfica: equipe fala sobre rodar filme na cidade

Seropédica, assim como qualquer cidade do mundo, está muito distante da norte-americana Hollywood quando o assunto é a indústria cinematográfica. Mas também é fato que a cidade da Baixada Fluminense já pode se orgulhar de ter servido de cenário para um filme.

No último fim de semana, entre os dias 15 e 17 (sim, foram apenas três dias de gravações), a EPA Produções Artísticas reuniu um elenco de 12 atores para rodar “Linha 669”, filme cujo protagonista planeja um atentado contra a escola onde estudou, mas acaba por antecipar o ataque, promovendo-o dentro de um ônibus.

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A essa altura, a curiosidade que deve rondar a cabeça do leitor é o porquê de a produtora ter escolhido a pacata Seropédica para as filmagens. Em entrevista ao ATUAL, o diretor Pablo Meliga e a atriz Gis Sóussa revelaram o motivo e contaram mais sobre os bastidores da produção.

A produção conseguiu junto à prefeitura de Seropédica uma ambulância para as gravações (Arquivo pessoal)

PORTAS ABERTAS

Única da equipe nascida e criada em Seropédica, Gis foi o elo entre a EPA e o município: “Certo dia, a conversa na produtora era essa, onde gravaríamos. Como pararíamos o Centro do Rio de Janeiro, por exemplo?”, lembra a atriz, completando: “Então, eu disse ‘Seropédica’, o Pablo perguntou se seria possível, e eu respondi que sim. Aí ele pediu para providenciar tudo”.

Apesar dos desafios pertinentes à produção de um filme (sobretudo quando não se tem patrocínio privado ou público), ela garante que não precisou de muito tempo: “Todo o processo durou uma semana. Já trabalhei na prefeitura, tenho conhecimento grande na cidade… Consegui um diálogo com as secretarias de Cultura, Saúde, Comunicação e Eventos. Seropédica é uma cidade aberta à cultura”, destaca Gis, que descolou o fechamento parcial de uma via, uma ambulância da prefeitura e alguns comércios locais como instalações para gravações.

Além da maior viabilização de estrutura, a equipe encontrou na cidade outro motivo para celebrar: “O fato de ter abertas as portas de Seropédica para fomentar a cultura. Levar para lá a cultura e esse espetáculo que é o processo de gravação de um filme”, ressalta Pablo, que, enquanto edita as cenas, calcula que a película terá uma duração total de 50 a 60 minutos, o que pode classificá-la como média ou longa metragem.

O ator Gabriel Müller como o homem que entra em surto psicótico e sequestra um ônibus da linha 669 (Arquivo pessoal)

BASEADO EM CASOS REAIS

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Independentemente da duração do filme, no entanto, Pablo e seu elenco – na companhia de Alex Morais, diretor de fotografia e Fábio Marques, diretor de áudio – prometem contar uma história que deve mexer com a memória de muitos espectadores.

O roteiro tem assinatura de Patrícia Regina, mas nasceu a partir de uma sugestão do diretor. Ele recorda: “Estava em um BRT indo trabalhar e pensei ‘acho que dá para fazer o projeto em um ônibus’, com histórias que aconteceram no Rio”.

Assim, começou a ganhar contornos a história de Ricardo (Gabriel Müller), que planeja um atentado à escola onde estudou e foi vítima de bullying. Entretanto, em um dia aparentemente comum para os presentes em um coletivo da linha 669, uma blogueira atrás de engajamento na Internet faz uma brincadeira com o rapaz, que entra em um surto psicótico, toma o controle do veículo e faz todos de reféns.

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Para a trama, o diretor buscou inspiração em casos reais de sequestros de ônibus que tomaram o noticiário fluminense. Dentre eles, o da linha 174, no Rio de Janeiro, em 2000, quando o sequestrador e uma refém acabaram mortos; e o da Ponte Rio-Niterói, 2019, que teve apenas o criminoso como vítima fatal. O elenco também deu relatos de situações de violência em ônibus que  viveram.

Além disso, um outro tipo de crime que, infelizmente, tem acontecido com frequência no Brasil também serviu de ponto de partida: os ataques a escolas.

Dessa mistura, Pablo chegou a uma característica que traçou para a história: “Não queria estereótipos. Que o assalto fosse pelo dinheiro ou que o cara fosse de favela. Tanto que o ator principal é loiro dos olhos azuis”, detalha o diretor, acrescentando: “É mais a loucura interna dele, porque o rico, com dinheiro, também pode fazer uma coisa dessas”.

AS GRAVAÇÕES

A maior parte desse sequestro fictício acontece na Avenida H, no bairro seropedicense de Boa Esperança. A produção conseguiu o fechamento parcial da via para gravar a maioria das cenas o ônibus parado. O diretor explica a opção: “A gente evitou fazer muita movimentação pela cidade para não causar tumulto. E também por questões técnicas e da própria trama”.

Mas mesmo diante do desafio de ter que encenar em uma via pública interditada, eles garantem que não passaram por sobressaltos que pudessem prejudicar as filmagens: “Tínhamos a situação de fechar e abrir o trânsito, mas nos divertimos”, comenta Pablo.

Gis – que pelos conhecimentos na cidade, assumiu a produção ao lado de Duda Dias, que, por sua vez, faz uma participação especial na trama – reitera que não houve adversidade para além do planejado, mas faz uma ponderação: “Não passamos perrengues. Mas filmar em três dias é loucura (risos)”.

Gis Sóussa (E) contracena com Carla Purcina, que também compõe o elenco (Arquivo pessoal)

CALORÃO

Se o cronograma de filmagens foi seguido à risca, em contrapartida, um fator natural deu trabalho: o forte calor. A título de curiosidade, no sábado (16) e no domingo (17), os termômetros registraram, respectivamente, 31 °C e 35 °C em Seropédica.

Intérprete da policial responsável por negociar com o sequestrador, Gis, que precisou usar até um colete à prova de balas cenográfico, confessa que a alta temperatura foi um percalço: “Na sexta, o tempo estava nublado. Mas no sábado, o calor estava gigante, e no domingo, ainda mais”.

Já Pablo lembra em que momentos a sensação térmica castigava mais: “A sensação de exaustão era maior dentro do ônibus. Estava um calor absurdo”.

CRÉDITOS FINAIS

Entre a satisfação do dever cumprido e o sufoco com o calor, outro ponto que marcou a equipe de “Linha 669” na passagem por Seropédica foi o sentimento de gratidão. Pablo e Gis se animam ao recordar da boa vontade geral do município com o projeto.

Segundo eles, os agradecimentos devem ir desde a prefeitura até a dona Ângela, mãe de Gis, que abrigou 16 pessoas em sua própria casa e terá um espaço nos créditos finais do filme: “Não só ela, mas todo mundo que nos ajudou”, brinca Pablo.

Outra contribuição que o diretor exalta é o da empresa Linave, que cedeu um ônibus e o motorista Vágner, que participou ativamente das filmagens: “Até figuração ele fez. Comprou a ideia mesmo. Estava sempre no horário, não teve problema em ir com o ônibus para frente, dar ré… Acho que foi isso que fez o projeto ficar tão bacana”.

Gis relembra outro episódio que marcou a equipe: “Eram quase 50 alunos, entre 8 e 12 anos, em horário de intervalo em uma escola próxima de onde gravávamos. Pedimos silêncio para filmar, e eles toparam. Foram muito solícitos”.  

LANÇAMENTO

De acordo com o planejamento do diretor Pablo Meliga, “Linha 669” deve sair entre novembro deste ano e janeiro de 2024. No Rio de Janeiro, a ideia é estrear em um cinema na Zona Sul.

Já em Seropédica, o lançamento está garantido no Gustavão, anfiteatro da UFRRJ (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro): “Nossa expectativa é que o filme impacte todos de forma positiva. E, claro, que tenhamos a casa cheia”, encerra Gis.

FICHA TÉCNICA – LINHA 669

Roteiro: Patrícia Regina

Direção: Pablo Meliga

Elenco: Gis Sóussa, Gabriel Müller, Haline Rosemberg, Carla Purcina, Cristiano Lopes, David Dijapa, Higor Barcelos, Bianca Maggioni, Thiago Nunes, Cris Borba, Beatriz Valed e Flávia Peloni; participação especial: Duda Dias

Produção: Duda Dias e Gis Sóussa

Direção de fotografia: Alex Morais

Direção de áudio: Fábio Marques

Luiz Maurício Monteiro

Repórter com mais de 15 anos de trajetória e passagens por diferentes editorias, como Cidade, Cultura e Esportes.

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