Motoristas de Itaguaí comentam sobe e desce no preço da gasolina
No último dia 16 de maio, a Petrobras anunciou uma nova precificação do barril de Petróleo. O objetivo era reduzir o preço de combustíveis derivados, como a gasolina comum, nas bombas de todo o Brasil. Entretanto, em Itaguaí, por exemplo, muitos motoristas nada sentiram. E o pior: na quinta (1), já começou a vigorar uma mudança em um imposto estadual que reflete diretamente no bolso de quem abastece com regularidade.
O imposto em questão é o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), um dos que incidem no valor final dos combustíveis. Com a novidade, a variação do preço médio de revenda da gasolina no estado do Rio de Janeiro, segundo a Leggio Consultoria, fica em torno de 3,8%.
E o sobe e desce no preço do combustível, claro, fica visível nos vistosos letreiros dos postos. Em Itaguaí, mesmo após a alteração no imposto, ainda era possível abastecer no Centro, na madrugada deste domingo (4), com gasolina abaixo de R$ 5 o litro. Em contrapartida, também no Centro, já tem posto comercializando o combustível a R$ 5,20.
Este, aliás, é um valor semelhante ao que um posto na altura do km 409 da Rio-Santos (BR-101), por exemplo, já praticava pouco após a mudança na política de preços da Petrobras. Ou seja, entre queda e aumento, o preço da gasolina segue pesando, e o cliente ficou com a sensação de ter andado em círculos nas últimas semanas.
No município, o ATUAL conversou sobre tais variações com dois condutores de perfis diferentes: um com altos gastos por dirigir profissionalmente; e outro que consegue economizar por se deslocar de motocicleta – o que não significa que não vá sentir os efeitos do novo aumento.
IMPACTO NEGATIVO
Taxista há quase 15 anos na Rio-Santos (BR-101), Raphael Cendon, que roda cerca de 5 mil quilômetros por mês, já tinha até calculado o quanto economizaria com a nova política de preços da Petrobras. Segundo ele, o gasto com gasolina iria cair de aproximadamente R$ 2 mil para R$ 1,9 mil.
Com a modificação no ICMS, porém, ele precisou recorrer novamente à calculadora: “Vai ser um baque em nossas contas. Infelizmente, teremos que arcar com esse prejuízo”, lamenta Raphael, citando outros gastos com o carro, como óleo de motor, pneu e peças de reposição, que tendem a ser maiores devido à sua profissão.
Já o auxiliar administrativo Wallace de Souza – que roda cerca de 200km por mês com um custo médio de R$ 100 – destaca que, ainda que não sofra tanto assim quando o assunto é abastecer, o reflexo em suas finanças será sentido: “Aumento influencia negativamente na vida de todos nós”, observa ele, que, já com a mudança no ICMS em vigor, conseguiu abastecer com gasolina a R$ 4,94 o litro em um posto no Centro.
FRUSTRAÇÃO
Antes mesmo do reajuste no ICMS, no entanto, o motorista já não estava satisfeito. Isso porque, ao divulgar a nova precificação do Petróleo, a Petrobras anunciou uma queda de R$ 0,40 para a gasolina tipo A, considerada mais pura e que vai para as distribuidoras; e R$ 0,29 na gasolina C, a que recebe aditivos no processo de refino antes de chegar ao consumidor.
Com isso, o sentimento que hoje é de preocupação, por um novo aumento, duas semanas atrás, foi de frustração, pois o efeito no bolso se mostrou irrisório para muita gente: “Acredito que essa redução não tenha nem chegado até às bombas. Impacto zero para mim”, ressalta Wallace, pessimista para o futuro:
“Não tenho expectativa por uma redução que dê para sentir, pois acredito que a intenção é subir cada vez mais”
Wallace de Souza, auxiliar administrativo
Raphael também vê as quedas recentes como pouco significativas: “Para nós que trabalhamos com transporte, toda redução é bem-vinda. Mas não foi como o esperado. Desde o início do ano, já foram divulgadas outras reduções, mas acho que só na refinaria. Na bomba, não vejo”, comenta o taxista, lembrando outro gasto que passou a ter recentemente: “São R$ 300 por mês com o pedágio, já que onde moro não tem alternativa para chegar em casa. Sou obrigado a pagar dois pedágios em dois minutos”.
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ENTENDA AS ALTERAÇÕES
Em suma, a redução no preço da gasolina – assim como do diesel e do GLP (gás de cozinha) – se deu graças à nova precificação do petróleo que a Petrobras adotou em maio. Algo que só foi possível por conta da decisão de findar a paridade de preços do petróleo com o dólar e o mercado internacional. Esta política estava em vigor desde 2016, durante o governo do então presidente Michel Temer.
Já o recente aumento acontece pelo fato de a cobrança do ICMS sobre a gasolina passar a contar com uma alíquota fixa de R$ 1,22/litro, que substitui o formato de cobrança com porcentagem variável.
PARA OS POSTOS
A reportagem também conversou com o proprietário de dois postos na Rio-Santos. E ele – que pediu anonimato por temer retaliações – se mostra reticente, assim como os clientes, em relação à gangorra do valor da gasolina: “A Petrobras ter reduzido o preço foi algo positivo. Mas fica difícil ter uma avaliação com esse novo aumento”.
Sobre lucros, o empresário garante que não arrecada o tanto que muitos pensam. Ele conta que compra o litro da gasolina junto à refinaria, diariamente, a R$ 4,80. E até sexta (2), para se ter uma ideia, vendia ao consumidor a R$ 5,19:
“A gente ganha, em média, 35 centavos. Quando chega a 50 é muito bom”
Dono de posto de gasolina que preferiu não se identificar
Ele também discorda de quem pensa que gasolina com preço elevado é bom para os donos de postos: “Existe uma falsa impressão de que quanto maior o valor, mais os postos lucram. Quando o combustível aumenta, as pessoas abastecem menos. Mas quando está mais em conta, elas saem mais e acabam abastecendo mais”.
O QUE DIZ A ANP
O ATUAL fez contato com a ANP (Agência Nacional do Petróleo) para tratar das constantes alterações no valor da gasolina nas últimas semanas. O órgão retornou para assegurar que acompanha os preços praticados por revendedores, mas afirma que “os preços dos combustíveis e do GLP (gás de cozinha) são livres no Brasil, por lei, desde 2002. São fixados pelo mercado. Não há preços máximos, mínimos, tabelamento, nem necessidade de autorização da ANP, nem de nenhum órgão público, para que os preços sejam reajustados ao consumidor”.
Especificamente a respeito da mudança na política de preços da Petrobras, a ANP disse que tem apoiado o “Mutirão Nacional do Preço Justo dos Combustíveis”, uma iniciativa da Senacon (Secretaria Nacional do Consumidor). A agência reforça que o objetivo é “acompanhar as variações de preços decorrentes” da medida que a estatal anunciou no último dia 16.
Sobre o abastecimento de gasolina para Itaguaí, a ANP explicou que o combustível chega ao município a partir da Reduc (Refinaria Duque de Caxias) e da Refinaria de Manguinhos, na Zona Norte do Rio de Janeiro.