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Jonas Oberg, veterano do Direito em Itaguaí, recebe homenagem da OAB-RJ

Se fosse dado a alguém adivinhar a profissão de Jonas Oberg, talvez não fosse difícil cravar um palpite certeiro ao observar o modo como ele pronuncia bem as palavras, constrói os raciocínios e articula as ideias. Aos 82 anos, 55 de carreira, este homem fez uma opção arriscada a certa altura da sua trajetória e essa decisão impactou a vida de muita gente além da dele próprio.

Oberg escolheu ser advogado, profissão que é celebrada no dia anterior (11 de agosto) a esta entrevista que ele concedeu, do seu escritório, ao ATUAL, via teleconferência. Nada mais apropriado para este operador do Direito do que receber uma Moção de Louvor do Tribunal de Ética e Disciplina da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Seção do Estado do Rio de Janeiro. A justificativa foi a seguinte: “pelo esplêndido trabalho e dedicação incansável à advocacia mais ética e valorizada”. É uma boa razão para premiá-lo, mas certamente não é a única.

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HOMEM DO INTERIOR

Jonas Oberg nasceu na pequena cidade de Tabapoã, que fica a 413 quilômetros da capital de São Paulo, e hoje tem cerca de 11 mil habitantes (imagine naquela época). O pai era seleiro e o ensinou a fazer rédeas, que, naquela época, eram feitas das caudas dos cavalos. A mãe de Jonas era do lar. Ele estudou na cidade onde nasceu e lá optou pelo curso Normal, formando-se, então, professor.

Era apenas o começo de uma trajetória vencedora.

Depois partiu para Bauru, também em São Paulo, uma cidade com mais oportunidades. Jonas prestou concurso para o Banco do Brasil (BB) e foi aprovado. Depois de começar a trabalhar no BB, resolveu fazer faculdade, e estudou Direito no Instituto Toledo de Ensino, uma instituição pioneira em levar cursos superiores para cidades mais distantes das capitais.

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Depois de formado, em 1964, Jonas conta que foi para São Paulo capital e lá trabalhou por dois anos numa agência do BB. Foi nessa época que conheceu Naomi Kuwada, com quem se casou. Ela, que nasceu também numa pequena cidade paulista, chamada Promissão, foi para a capital para estudar e encontrou o amor.

Foi lá que nasceu Penélope, a primeira filha do casal.

Por ter vencido a disputa de um cargo mais graduado no Banco do Brasil, Jonas, acompanhado da esposa, teve que se mudar para o município mais frio do Brasil: São Joaquim, em Santa Catarina. “Foi muito complicado, às vezes o termômetro do lado de fora da casa marcava – 13°C, Penélope teve pneumonia, passamos muitas dificuldades lá”, conta ele.

Nesse ponto é que Itaguaí entra na história.

DECISÃO ARRISCADA

Ao saber que o Banco do Brasil abriria uma agência em Itaguaí, Jonas se interessou. Ao se transferir, perdeu o cargo que havia conquistado e veio para a cidade “como um funcionário comum” (na descrição dele). Nunca tinha vindo ao Rio de Janeiro. O ano era 1971, justamente quando nasceu o filho Alexandre.

“Quando cheguei, havia dois advogados mais conhecidos na cidade: Teófilo Panaro e Hermano Vitor Nageli. Vi que tinha espaço para investir na profissão, pedi licença de oito meses do Banco para começar a advogar. Quando voltei da licença, pedi demissão”, conta o veterano.

Ele ainda trabalha. Avesso a computadores, Jonas prepara suas petições em máquina de escrever e depois entrega à secretária: muita experiência e carreira sólida em Itaguaí, com filhos que mantêm o nome aceso no judiciário da cidade (Foto: Oberg Advogados)

Em resumo: Jonas largou um emprego estável no Banco do Brasil – na época (e ainda hoje), o sonho de muita gente – para tentar a sorte numa carreira da qual ele tinha pouca prática até então. Ele destinou parte da sua casa para fazer as vezes de escritório e começou a arrebanhar clientes.

Especializou-se em Direito Criminal, mas fez de tudo um pouco, principalmente legalização de terras, pois, na década de 1970, Itaguaí ainda estava se consolidando como município. Jonas defendeu acusados de homicídio e atuou muito em Tribunais do Júri.

À medida que sua carreira avançava, seu nome passava a se confundir não só com a história de Itaguaí, mas com sua política e com o poder judiciário. Jonas Oberg foi presidente da OAB Itaguaí quando ela foi criada, na década de 1980. E fez importante contribuição na criação das subseções da região: Paracambi, Mangaratiba e Seropédica.

Também foi Procurador no governo dos prefeitos Sagário, Saulo Farias e Abeilard Goulart, assim como no governo de Anabal, em Seropédica.

OBERG = ADVOCACIA

Há cerca de 20 anos a casa de Jonas, na General Bocaiúva (em local privilegiado, perto de tudo o que um advogado precisa frequentar – Ministério Público, prefeitura, Fórum e Delegacia), sofreu uma grande reforma e o escritório ganhou salas elegantes e confortáveis, enquanto as dependências privadas e pessoais da sua casa passaram definitivamente para a parte de trás do imóvel.

Esta talvez tenha sido a mudança concreta que consolidou o que qualquer pessoa instruída e atuante em Itaguaí sabe: quando se fala nos Oberg, fala-se em advocacia. É inevitável. A ponto da mulher de Jonas, Naomi, ter se formado em Direito e atuar principalmente em Direito de Família.

Com a primeira filha, Penélope, já em Itaguaí, para onde decidiram ir ao sair de São Joaquim (SC): filhos seguiram a profissão do pai e escritório permanece como referência na advocacia itaguaiense (Arquivo Pessoal)

Penélope, que hoje mora fora do país (na Guatemala) porque o marido é CEO de uma multinacional britânica, também é advogada e tem uma imobiliária na cidade.

Ingrid, a filha mais nova, é claro, também se formou em Direito e trabalha no escritório.

Alexandre Oberg, famoso na cidade como o pai, foi Procurador nos governos de Carlo Busatto Junior (Charlinho).

Talvez ninguém tenha feito a conta, mas o número de processos em que os Oberg atuaram certamente tem muitos dígitos.

A família também é um exemplo de que sim, há casos em que certos negócios familiares prosperam sem incidentes. Jonas conta que todos conseguem separar trabalho de assuntos pessoais, o que, convenhamos, é particularmente difícil, ainda mais em 50 anos de Direito.

MÁQUINA DE ESCREVER

Fumando um inacreditável Camel de filtro amarelo (“fumo várias coisas, cachimbo, cigarros de diferentes filtros”, conta ele), uma temeridade dentro do ambiente de reuniões do escritório, Jonas conta que tem uma sala onde trabalha nos processos dos seus clientes. As petições ele prepara em uma máquina de escrever (“não é elétrica”, orgulha-se). Depois, passa para a secretária digitar e tomar outras providências.

“Não conheço esse negócio de processo eletrônico, computador, essas siglas em inglês que não entendo nada”, confessa o doutor, coçando a barba branquinha, entre um trago e outro do cigarro que ele segura entre o polegar e o indicador, com a brasa voltada para dentro da palma da mão – como um autêntico homem do interior -, em um gesto que nada muda a sua atitude tranquila, plácida, quase contemplativa frente aos anos em corredores de tribunais, fóruns e repartições públicas.

Jonas olha para o alto ao expor uma história curiosa em que o cliente confessou um crime em pleno julgamento. Não aquele pelo qual ele estava sendo julgado, mas outro, até então sem solução. Ao contar, dá a impressão de que seus anos de experiência pairam no ar. Talvez como a fumus bonis juris, a “fumaça do bom direito”, que ele parece ver, de repente, à sua frente.

Ao fazer um comparativo sobre a Justiça da década de 1970 e a de hoje, acredita que atualmente o acesso esteja mais facilitado. Mas, de repente, ele solta a frase mais importante da entrevista, sem alarde, só uma constatação que surge na sua voz, que não se altera: “apesar disso, a Justiça sempre protegeu a classe privilegiada”.

Coisa de quem sabe o que diz.

Redação

O Atual atua desde 2001 em Itaguaí, Mangaratiba e Seropédica com notícias, informações e demais serviços jornalísticos, digitais e audiovisuais. Além disso, aborda ocasionalmente assuntos que envolvem também a Zona Oeste da capital do Rio de Janeiro. O Atual oferece matérias e vídeos em seu site e nas suas redes sociais, com o compromisso de imprensa legítima e socialmente responsável.

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