Itaguaí: mãe de aluno denuncia furto de celular na escola municipal Rafael Scarfó

Era manhã de sexta-feira (16). Arthur Gavino, de 12 anos, tinha levado para a escola onde estuda no 7º ano – Padre Rafael Scarfó, em Vila Margarida, Itaguaí – um celular novo em folha que tinha ganhado de aniversário dos pais em dezembro do ano passado. Depois da aula de educação física, Arthur ficou em uma rodinha com colegas.

O celular estava dentro da mochila, que estava nas costas dele. Algum tempo depois, uma colega o alertou que a mochila estava aberta. Foi quando ele deu pela falta do aparelho.

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Arthur foi então até a diretora da escola, que pediu que ele ligasse para o celular, mas acontece que o aparelho ainda não tinha chip, era usado apenas para redes sociais.

O caso revoltou a mãe do aluno, Michele Gavino, que já vinha tendo outros tipos de problema na escola com o filho (veja logo mais abaixo).

Michele está revoltada com o furto do celular dentro da escola: “Não me avisaram nada, encontrei com o Arthur voltando da escola, nem me chamaram lá para comunicar o que tinha acontecido”.

Ela resolveu então ir até a delegacia e fazer um registro da ocorrência.

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Michele contou que na manhã desta segunda-feira (19), a diretora da escola, Lilian, fez uma reunião no pátio e contou aos pais dos alunos presentes sobre o registro de ocorrência a fim de tentar reaver o celular de Arthur.

Michele contou para o Atual que a diretora confirmou a existência de câmeras de vigilância na escola, e que a diretora disse a ela que, desde dezembro de 2023, as imagens passaram a ficar em uma central na Secretaria de Educação, e não mais na unidade escolar.

“NÃO FOI O ÚNICO”

Michele conta também que o celular de Arthur é no mínimo o quarto a ser furtado dentro da mesma escola; apenas as mães não quiseram registrar a ocorrência na delegacia. A diretora teria dito a Michele que essas mães deram os celulares como perdidos, e não se sentiram dispostas a denunciar na polícia.

Sempre de acordo com a mãe de Arthur, a diretora disse que uma bicicleta havia sido furtada na unidade no ano passado, mas que, devido ao armazenamento de imagens na escola, pôde ser recuperada. Com a decisão de centralizar as gravações na Secretaria de Educação, os furtos deixaram de ser coibidos.

“Não tem como não dar um celular para o aluno levar, pois às vezes as aulas acabam mais cedo, ou há algum contratempo e as crianças precisam entrar em contato com os pais, porque na escola não ligam para os responsáveis para avisar esses tipos de coisa”, justificou Michele sobre Arthur, de apenas 12 anos, já estar com celular na escola.

“Não pode levar celular porque roubam. Se não leva, o menino fica sentado no pátio, sozinho, esperando até 12h20 para o pai ou a mãe ir buscar, sendo que ele entra às 7h. A direção da escola diz que eles ‘são grandinhos’ para a secretaria ficar avisando aos pais se saíram mais cedo”, desabafa Michele.

BULLYING HOMOFÓBICO

O furto do celular é mais um dos problemas com os quais a família Gavino tem precisa lidar por conta da necessidade do menino de estudar.

Arthur é uma promessa do balé. Desde os 6 anos ele se dedica à dança. Hoje ele pratica no Espaço de Dança Dani Valois (mas conhecido como “EDDV”).

Talentoso, entusiasmado e dedicado aos exercícios, sempre recebe elogios dos professores e dançarinos. Com os colegas de escola, porém, é bem diferente.

Há três anos ele estuda na escola municipal Padre Rafael Scarfó, e pelo menos há um ano nessa unidade da prefeitura alguns colegas perturbam Arthur pelo fato dele fazer balé, em clara atitude de bullying homofóbico.

O problema já ocorria na escola Antonio Tupinambá, no Engenho, onde Arthur sofreu ameaças em 2022. A diretora de lá disse à mãe que não adiantava mudar Arthur de escola, porque o problema iria junto. Mas, mesmo assim, Michele decidiu mudar o menino para a escola em Vila Margarida onde ocorreu o furto do celular.

O primeiro ano na Padre Rafael Scarfó foi razoavelmente tranquilo, até que no ano passado o bullying começou como na escola anterior.

“Quando voltaram a fazer bullying na escola Rafael Scarfó o Arthur ficou muito mal, chorou, não quis mais voltar para a escola e parou com o balé por um ano. Hoje, ele faz acompanhamento psicológico no posto perto de casa e também com a psicóloga da escola”, conta Michele, que acrescentou: “Ele disse em uma reunião que não tinha mais vontade de sair de casa”.

Fachada da Escola Municipal Padre Rafael Scarfó, em Vila Margarida, onde o aluno furtado estuda há 3 anos (Reprodução internet)

O menino, que é talento puro para a belíssima arte da dança, ficou longe da sua paixão por um ano e só voltou recentemente a dançar. Mas o bullying voltou com crueldade e mais uma vez a grande promessa do balé quis parar.

Graças ao apoio incondicional da família inteira – pais e irmão mais velho, além da irmã, Maria Eduarda, que também adora dançar – Arthur mantém o balé, mas sem apoio psicológico talvez fosse impossível.

E, agora, o furto do celular.

Michele Gavino pede que esclareçam o furto que aconteceu dentro da escola.

E pede que o filho tenha o direito de se dedicar à arte que quiser sem ser perturbado dentro da escola.

Porque dentro da escola só se deveria fazer uma coisa: estudar para aprender, e não furtar, humilhar ou ameaçar alguém.

SECRETARIA DE EDUCAÇÃO RESPONDE

A reportagem do Atual enviou as três perguntas abaixo para a secretaria de Comunicação da Prefeitura de Itaguaí encaminhar aos responsáveis.

A Secretaria de Educação, então, enviou as respostas abaixo. Nelas, afirma que as imagens da escola para tentar descobrir o responsável pelo furto só serão verificadas mediante ordem da Justiça.

Sobre os furtos na escola municipal Padre Rafael Scarfó, a Secretaria de Educação diz que vai verificar e que poderá advertir a escola a fim de que se realize ações pedagógicas e de conscientização.

Sobre o bullying sofrido por Arthur na escola, a Secretaria não se posicionou especificamente. Disse, de forma geral, que desenvolve um trabalho de sensibilização, conscientização e prevenção acerca de temas como bullying no cotidiano escolar.

Veja abaixo as perguntas e as respostas da prefeitura, na íntegra.

1) O que a secretaria de Educação tem a dizer sobre o furto do celular?

A Secretaria Municipal de Educação tomou conhecimento do fato por meio das perguntas feitas e direcionadas a esta Secretaria. Ao tomar conhecimento do fato, a Secretaria de Educação fez contato com a escola, se informou do ocorrido e orientou a Diretora a verificar as câmeras de segurança da escola, as quais são instaladas nas dependências sociais da Unidade Escolar e são acompanhadas por um sistema de monitoramento pela Secretaria de Educação/Prefeitura Municipal de Itaguaí, se colocando à disposição para, mediante solicitação da justiça, a verificação do período de registro da câmera na data do ocorrido, a fim de verificar por meio destes registros toda a movimentação no cotidiano escolar nesta data.

2) Michele disse que é o quarto celular furtado dentro da mesma unidade escolar. O que será feito para coibir esse crime dentro da escola?

A secretaria de Educação desconhece tais fatos apontados pela Senhora Michele. A equipe da Secretaria de Educação fez contato com a escola para averiguar a denúncia e estará advertindo a direção da escola, uma vez que se é algo que vem acontecendo, ações pedagógicas e de conscientização precisam ser realizadas de forma contínua e efetiva com os alunos.

3) O que a secretaria de Educação tem feito em relação ao bullying que Arthur sofre e em relação ao bullying em geral nas escolas municipais de Itaguaí?

A Secretaria Municipal de Educação desenvolve por meio do Programa Saúde na Escola e das CIPAS Escolares um trabalho de sensibilização, conscientização e prevenção acerca de temas como bullying no cotidiano escolar, fortalecendo assim o papel da escola em gerir em meio a crianças e adolescentes uma educação cidadã empática e de respeito mútuo realizando atividades que promovam o entendimento do que é Bullying e suas consequências no desenvolvimento social, educacional e emocional de crianças e adolescentes. Dentro de uma perspectiva educacional e formativa a Secretaria Municipal de Educação, se coloca como a que promove e incentiva boas práticas e ações com objetivo de oportunizar desenvolvimento integral aos alunos matriculados em nossas escolas municipais.

Jupy Junior

Jupy Junior é jornalista formado pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ) com Mestrado em Comunicação pela mesma instituição. Atuou em diversas empresas jornalísticas e como assessor de imprensa. Recebeu o título de cidadão itaguaiense, concedido pela Câmara Municipal de Itaguaí, em 2012. Lecionou em cursos de graduação Comunicação Social nas Universidade Estácio de Sá (UNESA) e na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Foi subsecretário de Comunicação Social e Eventos na Prefeitura Municipal de Mangaratiba em 2016. Atuou como Editor Executivo do Jornal Atual entre 2012 e 2015 e é Diretor de Jornalismo do Jornal Atual desde 2021.

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