Gil Torres preside a Câmara de Itaguaí pelo menos até 2024
Unanimidade tem sido rotina na Câmara Municipal de Itaguaí desde que Gil Torres (PSL) assumiu o cargo de presidente, em julho de 2021. Foi desta forma que ele se reelegeu durante uma sessão extraordinária na tarde de terça-feira (4), já em 2022. Ele permanece presidente, se nada estranho ou diferente ocorrer, até 2024.
A Mesa Diretora também continua sem alterações: Vinicius Alves (Republicanos) – Vice-Presidente; Julinho (PSC) – 2° Vice-Presidente; José Domingos (PTB) – 3° Vice-Presidente; Fábio Rocha (PL) – Primeiro Secretário e Sandro da Hermínio (PP) – Segundo Secretário.
Torres em diferentes ocasiões procurou reiterar que o preceito básico da função do Legislativo é o de fiscalizar o Executivo. O fato é que a repetição dessa máxima geralmente é acompanhada da afirmação de que há uma parceria com a prefeitura. A não ser por alguns requerimentos de informação aprovados há algum tempo atrás – dos quais não houve qualquer consequência -, a relação da Câmara com a prefeitura tem sido mesmo essa: a de “parceria”, sem qualquer movimento investigativo ou questionador.
SEM CONCORRENTES
Gil Torres não encontrou concorrentes ao cargo porque nenhuma chapa se inscreveu. Os vereadores votam como se fossem um só corpo. Não há oposição. Se há, ela não aparece, não se insurge ou ainda não tem forças para emergir. A sensação é de uníssono, embora a história mostre que esse estado de coisas pode se alterar de repente, como bem lembrou certa vez o lendário peemedebista Ulysses Guimarães: “política é como nuvem”.
O ex-vereador Haroldo Jesus (PV) foi quicado do cargo sem muitas delongas, em um movimento que extirpou uma liderança que surpreendeu em janeiro do ano passado. Torres estava certo de que seria presidente logo que o prefeito Rubem Vieira (Podemos) assumiu o Executivo. Os arranjos para a composição da Mesa Diretora, naquela ocasião, se assemelham a quem abandona o navio sem avisar. Gil Torres ficou isolado de repente e perdeu a presidência.
Em julho, seis meses depois, ele deu o troco. Não sem antes, da tribuna, protagonizar embates tenebrosos com o então adversário político Haroldo, durante sessões com clima tenso e troca de insultos em meio a muitos “vossa excelência” ditos entre os dentes. Quem viu, não tem como esquecer.
De lá para cá, nada parece ameaçar sua liderança e a afinidade com o governo municipal parece inabalável. Em várias ocasiões ele apareceu ao lado do prefeito. A última delas foi em uma live – Rubem tomou gosto pela coisa e tem feito várias delas, com muitas informações importantes transmitidas ao vivo sem filtros – para falar sobre a situação das enchentes na cidade.
Gil também fez uma live que foi bastante concorrida: a bordo de um helicóptero cujo aluguel – segundo ele – foi bancado por empresários da cidade, ele tentou mostrar os estragos das chuvas torrenciais em Itaguaí, mas a transmissão não esteve muito boa e foi difícil identificar os bairros de tão alto.
Por falar em altura, ainda não se sabe o quão longe Gil Torres deseja ir. Como principal aliado de Rubem Vieira, há quem diga que ele não tem o cargo máximo do Executivo municipal como meta. É difícil dizer. Mas é certo que o gabinete itinerante que ele instituiu circula pela cidade em meio aos comerciantes e à população em geral, segundo consta, para reunir reivindicações que, como ele mesmo afirma, ficam mais fáceis de chegar ao prefeito dada a sua proximidade com ele.
DEUS E LAICIDADE
A chapa que elegeu Gil se chama “Deus no controle sempre”. O nome compromete a laicidade, a separação formal de Estado e religião, uma forma de assegurar a todos os cidadãos a liberdade ou ausência de credo. Incluir Deus nos discursos não é uma prática típica somente de políticos do partido de Gil Torres, o PSL: o prefeito Rubem Vieira, do Podemos, tem isso em comum com o seu aliado principal na Câmara.
Portanto, no seu discurso de reeleição, Torres, claro, agradeceu a Deus. Em seguida, à sua família, amigos e colegas vereadores “pela confiança no trabalho que vem sendo realizado”. Na sua avaliação, o trabalho na Câmara durante a sua gestão tem sido “transparente e participativo”. “Deus tem nos dado sabedoria para tocar essa Casa de forma correta como deve ser feito”, disse ele.
Em seguida, a explicação sobre a “parceria”: “Somos parceiros do governo porque o governo é parceiro da população. Enquanto o governo agir em prol da população, nós estaremos com ele”, afirmou.
ATRITOS E DESGASTES
Apesar das afirmações que apontam para uma harmonia, a agenda do governo de Rubem Vieira está longe de ser consensual ou sem atritos. O prefeito, desde que assumiu, não recebe a representação municipal do Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação (Sepe).
Nas redes sociais há flechas e torpedos para todos os lados. Servidores protestam, e pessoas ligadas ao governo, sem legitimação institucional, botam muita lenha na fogueira. Às vezes, lenha demais.
Há reclamações do funcionalismo sobre falta de vale transporte, alimentação, sobre falta de informações sobre datas certas para o pagamento, dentre outras questões.
Além de conflitos com o funcionalismo, a opinião pública tem sido feroz nos questionamentos sobre gastos do governo, o que só aumentou depois das trágicas perdas dos itaguaienses depois dos temporais que provocaram as enchentes. Há investimentos incompreensíveis e divulgação de feitos ainda não concluídos.
Há também falta de remédios nas farmácias populares, o que provoca a ira de gente que depende muito dos medicamentos para familiares que não têm condições financeiras de arcar com esses custos.
Tais temas não têm frequentado as sessões legislativas e sobre eles não há questionamentos ao governo municipal.
Há somente um sim bem redondo e contínuo que os parlamentares de Itaguaí repetem a cada sessão. Os trabalhos na Câmara, aliás, retornam no dia 2 de fevereiro. Ao que tudo indica, para mais concordâncias e zero discordâncias.