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Caminho do imperador e tretas: o segundo livro de Mirian Bondim sobre Mangaratiba

A data era 30 de dezembro de 2022. Ou seja, restavam menos de 48 horas para o fim do ano que marcou o bicentenário da Independência do Brasil, mas Mirian Bondim conseguiu fazer sua reflexão sobre a data marcante a tempo. Era publicado naquele dia “A Freguesia de Mangaratiba na Independência do Brasil”, seu segundo livro.

Ao longo das 84 páginas da publicação independente, a escritora e historiadora – que em 2021 já havia lançado “História de Mangaratiba por seus patrimônios histórico-culturais” – mergulha em aspectos que precedem e sucedem o famoso grito às margens do Rio Ipiranga colocando Mangaratiba como parte importante desse contexto.

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Não à toa, divulgar o potencial histórico de sua cidade natal – ela nasceu e vive em Muriqui – e homenagear os povos que ajudaram a construir o país acabaram por ser as principais razões para que escrevesse o livro em apenas 20 dias – para que a publicação acontecesse ainda em 2022.

Para tirar o projeto do papel, ela recorreu ao conteúdo que absorveu em pesquisas a fim de prestar assessoria para documentários, filmes e peças de teatro sobre o bicentenário.

E nesta viagem no tempo, o leitor vai acessar os relatos sobre o crescimento econômico da cidade com foco nos recursos vindos de serra e mar; uma crítica que ela faz ao tratamento dado a negros e indígenas; e ainda uma treta da época: “Esse livro é cheio de fofocas”, brinca a historiadora, em entrevista ao ATUAL.

A autora com seus dois livros sobre aspectos históricos de Mangaratiba (Arquivo pessoal)

SERRA X MAR

Emancipada em 1831, Mangaratiba – assim como as vizinhas Itaguaí e Angra – teve seu desenvolvimento econômico no século XIX muito ligado a atividades como rota do ouro, escoamento do café e até tráfico negreiro, que movimentavam muito dinheiro na região.

E como estas cidades estão imprensadas entre oceano e mata, tais movimentações não se davam apenas pelo mar, mas também por caminhos pela serra: “O livro traça um contexto econômico entre serra e mar para mostrar que a logística era diferente do que é hoje. Eu faço uma explanação para mostrar como o crescimento do porto está ligado às serras e vice-versa”, observa a autora.

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Ela cita ainda um dos motivos que fez os comerciantes recorrerem às serras como opção: “Foi por causa da pirataria no mar que se fez caminho na serra”.

Trajeto em Itaguaí por onde Dom Pedro I passou antes e depois de declarar a Independência do Brasil (Reprodução)

“CAMINHO DA INDEPENDÊNCIA”

Um destes trajetos pela serra ligava Santa Cruz, no Rio de Janeiro, a Lorena, em São Paulo. Com passagem por Itaguaí – município ao qual Mangaratiba pertencia na época –, ele logo ficou conhecido como “Caminho da Independência”, pois por lá, Dom Pedro I passou na ida e na volta de Santos, onde em 7 de Setembro de 1822 soltou o grito que fez o Brasil deixar de ser colônia de Portugal.

Segundo a historiadora, “tudo na região de ‘serra acima’ nasce por causa desse caminho”. E mais uma vez a ligação entre serra e mar fica evidente: “Mangaratiba, que ainda era território de Itaguaí, estava se tornando um grande porto. Até meados do século XIX, era o maior porto do país. A região começava a explodir naquele momento”.

GUERRAS E ACLAMAÇÃO

Após a declaração de independência, Dom Pedro I ordenou o erguimento de fortes em áreas litorâneas da baía de Sepetiba por conta de guerras entre apoiadores e opositores do movimento. E em Mangaratiba não foi diferente.

Mirian destaca que o litoral da vila foi um dos que o imperador mandou fortificar: “Eu descrevo acontecimentos ocorridos na pequena freguesia, durante esse período tenso das guerras da Independência”.

Além dos conflitos, outro episódio marcante no município naquele período foi a aclamação do novo imperador. A cerimônia oficial, com a presença de Dom Pedro I, ocorreu em 12 de outubro de 1822 (aniversário dele), no Campo de Santana, região central da cidade do Rio de Janeiro.

Mas em todas as localidades onde houve apoio ao grito, inclusive em Mangaratiba, também aconteceram formalidades para oficializar o imperador: “Foram realizados em diversas vilas, de forma simultânea, rituais com discursos e sinos tocando para Pedro, que estava sendo aclamado naquele momento imperador do Brasil”, enfatiza a historiadora.

CRÍTICAS

Mas nem só de relatos históricos vive o segundo livro de Mirian Bondim – autora também da apostila “Resumo da história social e econômica de Mangaratiba”, que serve como fonte de estudo para concursos públicos e está disponível no Google.

Mesmo que de forma breve, ela faz análises críticas a atrocidades daqueles tempos. É nesse momento, inclusive, que entra um dos principais motivos para a criação do livro: “Não se trata de uma análise acadêmica, mas faço uma crítica, sim. Falo da mortandade dos indígenas, dos povoados destruídos, durante a construção dos caminhos do ouro”.

Ilustração da Vila de Itaguaí, da qual Mangaratiba fazia parte antes de se emancipar em 1831 (Maria Grahan)

Como não poderia deixar de ser, outro episódio alvo de crítica da autora é a escravidão: “Também não deixo de falar dos negros que desembarcavam aqui como a maior mão de obra do país. Eles sustentaram todo o Brasil Colonial e Imperial. A riqueza que possibilitou a emancipação do país veio do trabalho escravo. 200 anos da independência se passaram e nada mudou no cenário (das desigualdades sociais) oriundo desse processo histórico”.

TRETAS

Relatos históricos, análises críticas e… fofoca. Sim, o livro de Mirian Bondim também entra nas páginas sociais do noticiário da época: “Nas fofocas, você também vê muitas informações (risos)”, brinca.

Por exemplo, no período de guerras que veio após a declaração da Independência, ficou famosa uma longa troca pública de ofensas entre dois padres e um policial comandante de um forte da região que veio a se tornar Mangaratiba. Uma das brigas envolveu até a morte de Maria Leopoldina da Áustria, esposa de Dom Pedro I e Imperatriz Consorte do Brasil.

Segundo a historiadora, a “treta” tomou conta dos jornais da época por anos: “Com a morte da Leopoldina, um dos padres teria pedido para o comandante dar um tiro de canhão como homenagem. Mas ele negou alegando desperdício de pólvora. E foi assim de 1822 a 1831, um falando mal do outro”, se diverte a autora.

Ela completa: “O comandante dizendo que o padre não valia nada, que pegava terras dos indígenas. E o padre acusando o comandante de desviar material que seria para as fortalezas”.

PADRE ELEITO

Sem se importar com spoiler, Mirian Bondim revela uma passagem do livro que traz à tona um acontecimento daquela época que se assemelha muito aos dias de hoje. E o personagem é novamente o padre que havia tido seus podres expostos na imprensa.

A autora conta que com a emancipação de Mangaratiba em 1831, se deu a primeira eleição de vereadores em 1832. E como na época não havia prefeitura, a população – no caso, homens, maiores de idade, alfabetizados e com posses – votava para eleger a Câmara Municipal. E pelas leis de então, comandava o município o vereador mais votado. Eis que o eleito foi Antônio Correia de Carvalho, o padre, mesmo com todos os defeitos que saíram nos jornais.

COMO COMPRAR

Para quem quiser adquirir A Freguesia de Mangaratiba na Independência do Brasil”, a autora disponibiliza três pontos de venda: oMuseu Municipal de Mangaratiba (R. Cel. Moreira da Silva, 173 – Centro); a Loja Pé na Roça (Av. Sete de Setembro, 300/loja 6 – Muriqui); e o site Meu Rio de Todos os Tempos (clique aqui).

O livro custa R$ 30. Na compra de dois, cada um sai a R$ 25. E a partir de três exemplares, o valor fica a R$ 20, cada.

Luiz Maurício Monteiro

Repórter com mais de 15 anos de trajetória e passagens por diferentes editorias, como Cidade, Cultura e Esportes.

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