Beto da Reta agora é Beto do Porto

A voz rouca de sempre às vezes embola um pouco as palavras. Mas Luís Roberto Jesus nunca deixa dúvida: é um sujeito entusiasmado e gentil. Aos 65 anos, casado com Denise há 38 e pai de Haroldo, Thales e Betinho, o conhecido Beto da Reta resolveu encarar mais um desafio: a superintendência do terceiro maior porto do Brasil em operações de minério: o Porto de Itaguaí.

Não é exagero agora afirmar que Beto da Reta é agora Beto do Porto, uma vez que o complexo de terminais de exportação de minério agora ocupa uma significativa parte da sua vida. Quando sobra tempo, ele curte os netos e a família toda, mas ele não pensa em se aposentar tão cedo.

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Beto é famoso. Quem vive em Itaguaí dificilmente deixou de ouvir o nome dele. A política na cidade já o pronunciava há muito tempo.

A origem do “da Reta” que virou “sobrenome” é porque, ao se lançar como político em 1987, ele era reconhecido por morar na Reta de Santa Cruz. Unir o nome à origem não é muito original, mas o fato é que ele conseguiu mil votos no primeiro dos seus três mandatos, um recorde na época. Foram 12 anos na Câmara Municipal em situações às vezes tensas.

Hoje, Beto está à frente da superintendência do Porto de Itaguaí, apreciando o desenrolar da política com uma certa distância, mas com uma familiaridade peculiar. Haroldo Jesus, seu filho, é o atual presidente da Casa de Leis. Quando abriu mão do cargo, Haroldo diz que só temia ter desapontado o pai; quando voltou à presidência, disse que o pai nunca deixou de ser inspiração.

Para Beto da Reta, o fato de um itaguaiense ocupar um cargo importante no Porto pode ajudar a criar mais oportunidades e mais investimentos para a cidade, além de uma compreensão maior do papel do Porto na sociedade (Foto: Marcelo Godinho)

Não é difícil adivinhar o motivo: Beto da Reta nunca foi político de muitas falas pomposas ou gestos grandiloquentes. Nunca teria sido possível associá-lo à agressividade ou atitudes ou falas polêmicas. Convivia sempre com muita simplicidade com os colegas parlamentares, falava pouco na tribuna, mas nunca foi de ficar em cima do muro: situação ou oposição, era claro em exibir o que pensava, por mais que isso fosse desagradar uns e outros.

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Apesar da clareza, nunca agrediu ou ergueu a voz em público. Nos bastidores, até onde a imprensa que cobria política conseguia ver (no caso, este repórter), também não.

A experiência acumulada é admirável: além dos mandatos que conquistou, foi candidato a prefeito de Itaguaí duas vezes, a deputado estadual também duas vezes e ocupou uma cadeira na Alerj na condição de ter assumido por ser suplente.

Na sua carreira, houve momentos tempestuosos por conta das disputas políticas, mas no segundo mandato do ex-prefeito Carlo Busatto Junior (o Charlinho) foi secretário de Indústria, Comércio e Trabalho. “Foi essa experiência que me ajudou muito no meu trabalho de hoje no Porto”, conta Beto com exclusividade ao ATUAL.

Segundo ele, é importante que haja alguma afinidade com o setor portuário para chefiar uma equipe de quase 100 pessoas, entre fiscais, assessores e técnicos: “aqui aprende-se todo dia, cada vez mais, porque a energia que o Porto tem faz a gente se animar com o trabalho”, comemora ele.

Sim, aos quase 66 anos (ele comemora daqui a poucos dias, em 27 de março), Beto da Reta mostra entusiasmo com a nova função e celebra o amor por Itaguaí por ser responsável por um dos complexos portuários mais importantes do país.

“Houve uma pessoa de Itaguaí que ocupou esse cargo uma vez, e ficou pouco tempo. Hoje, tenho esse privilégio, mas sem esquecer um segundo que preciso aproximar o Porto da população de Itaguaí”, ressalta ele.

Beto na sua mesa de trabalho: entusiasmo com um novo desafio aos 65 anos e muita vontade de realizar projetos que beneficiem Itaguaí (Foto: Marcelo Godinho)

Beto acha que um homem de Itaguaí é mais sensível às causas da cidade, e ele decidiu usar sua influência para fazer com que o povo veja o Porto como ele é. Literalmente. Um dos projetos a que ele se dedica, em meio a tantos outros afazeres, é organizar visitas guiadas de alunos de escolas municipais e cidadãos às dependências do Porto. “O itaguaiense não conhece o Porto que é tão importante para a cidade. Isso tem que mudar”, decidiu ele.

Outros dois projetos o enchem de orgulho.

O primeiro é a utilização da areia que será removida para o aumento do calado do Porto (a profundidade dos canais por onde os navios entram e saem) dos atuais 17 metros para 19,5 metros.

Essa areia, se for da vontade de Beto, será depositada na praia de Coroa Grande, a fim de aumentar a faixa disponível. “Já conversei com o prefeito sobre isso, vai ser um legado imenso para Itaguaí”, garante ele, que, nesse item em particular, usa os dons de político experiente para fazer valer suas intenções e se aproximar de outros poderosos.

O que também faz brilhar seus olhos é o projeto de revitalização de uma construção histórica, uma igreja que tem 104 anos de história, no Saco do Engenho. “Estou muito empenhado nisso também, é a importância cultural da cidade que o Porto pode apoiar”, conta, com vibração.

CONVITE PARA O CARGO

Mas como Beto da Reta se tornou Beto do Porto? O passado de político ajudou. Beto já havia sido convidado no início de 2023, mas por algum motivo a coisa não se consumou. Até que o deputado federal Luciano Vieira (PL), no final do mesmo ano, disse a ele que havia essa oportunidade e que Beto foi cogitado para o cargo.

O convite não demorou e ele nem pensou duas vezes. Beto do Porto, então, assumiu a superintendência no começo de 2024, há cerca de três meses. A responsabilidade é acompanhar as dinâmicas, projetos, fiscalização e operação não só de Itaguaí, mas de Angra, também.

A área do Porto é federal, e Beto se reporta à PortosRio, instituição que administra os portos da capital do RJ, Angra, Niterói e Itaguaí.

Beto garante que o fato de ser pai do presidente da Câmara não altera sua rotina de trabalho. Ele se derrete pelo filho: “é uma pessoa incrível, muito amoroso e dedicado”.

Sobre o passado de político, ele diz que sempre ajuda, mas que a força daqueles que trabalham junto com ele é o que mais o motiva no dia a dia.

A missão agora que ele enxerga todos os dias, da varanda assombrosa de onde ele avista todo o complexo portuário, é a de querer que a cidade prospere: “É isso que eu quero, que Itaguaí seja uma cidade onde as pessoas sejam felizes. Tenho orgulho de continuar trabalhando por ela, agora aqui do Porto”, exalta ele.

Agora, Beto “do Porto”; e não mais só “da Reta”.

Jupy Junior

Jupy Junior é jornalista formado pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ) com Mestrado em Comunicação pela mesma instituição. Atuou em diversas empresas jornalísticas e como assessor de imprensa. Recebeu o título de cidadão itaguaiense, concedido pela Câmara Municipal de Itaguaí, em 2012. Lecionou em cursos de graduação Comunicação Social nas Universidade Estácio de Sá (UNESA) e na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Foi subsecretário de Comunicação Social e Eventos na Prefeitura Municipal de Mangaratiba em 2016. Atuou como Editor Executivo do Jornal Atual entre 2012 e 2015 e é Diretor de Jornalismo do Jornal Atual desde 2021.

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