Angra, Mangaratiba e Paraty terão plano contra tragédias climáticas
As cidades de Angra dos Reis, Mangaratiba e Paraty estão entre os nove municípios do estado do Rio que vão receber um plano piloto de implementação de uma estratégia de resiliência urbana destinada a impedir tragédias climáticas. O plano é um dos eixos do projeto estadual “Rio Inclusivo e Sustentável”, que será lançado oficialmente na quarta-feira (5). A iniciativa será realizada em parceria com a ONU Habitat, com investimento estadual no valor de US$ 1,3 milhão, o que corresponde a cerca de R$ 6,74 milhões.
Em seu primeiro momento, o projeto piloto fruto da parceria entre as duas entidades vai priorizar as cidades que sofreram impactos significativos causados pelas chuvas nos últimos anos no estado do Rio. Além das cidades da Costa Verde serão também contemplados os municípios de Nova Iguaçu, Duque de Caxias e Belford Roxo, na Baixada Fluminense; e Petrópolis, Nova Friburgo e Teresópolis, na Região Serrana. O anúncio foi feito na segunda edição do Diálogos RJ, evento realizado pelo Jornal O Globo.
Assessora especial de Cidades Resilientes da Secretaria Estadual do Ambiente e Sustentabilidade, Larissa Ferreira da Costa destacou a importância de adaptar as ações às necessidades específicas de cada município para enfrentar eventos climáticos extremos. “As ações são na ponta. Muitas vezes os municípios não têm capacidade técnica e financeira para conduzir uma série de ações, e o papel do estado é fortalecer essa capacidade. Vamos trabalhar municípios da Região Costeira, da Baixada Fluminense e da Região Serrana, assim conseguimos entender a necessidade de cada uma dessas tipologias, para que em projetos futuros a gente possa replicar”, disse ela.
CONSCIÊNCIA COMO REPONSABILIDADE DE GOVERNOS
O projeto prevê a capacitação para fortalecer a resiliência urbana e climática nos territórios piloto, a avaliação de riscos com autoridades municipais e a comunidade, utilizando autoavaliação e mapeamento participativo, e a criação de um Marco de Ação de Resiliência, que compreende as estratégias de adaptação. “As pessoas não morrem por causa das chuvas, mas pelo desastre deflagrado por elas. Temos tido chuvas intensas e é possível que no ano que vem tenhamos chuvas ainda mais intensas. Os desastres devem ser conhecidos por todos. É responsabilidade dos governos criar essa consciência na população, investir em uma cultura de prevenção, informando e treinando as pessoas a usarem rotas de fuga”, salientou o climatologista José Antônio Marengo Orsini, que é coordenador geral de Pesquisa e Desenvolvimento do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). Para ele, uma das soluções mais urgentes é criar uma cultura de prevenção e de percepção do risco.
UMA ESCOLA DE PREVENÇÃO NO ESTADO
Durante o evento realizado pelo O Globo, foi divulgado que a Defesa Civil do Estado do Rio tem uma escola que oferece treinamentos para lidar com desastres, atendendo as Forças Armadas, agentes estaduais, municipais e até a sociedade civil. Segundo a diretora Kellen Salles, essa preparação é fundamental para promover a mudança de comportamento. “Treinar a sociedade é crucial para as pessoas saberem como se abrigar em uma situação de risco, o que levar de documentos e itens pessoais”, afirmou ela.
Coordenador do Centro de Estudos e Pesquisas em Emergências e Desastres em Saúde Pública da Fiocruz, Carlos Machado afirmou que ter um sistema de monitoramento é fundamental, mas a maioria dos municípios não possui defesas civis estruturadas o suficiente para reduzir os impactos. “O fundamental é que investimentos federal e estadual cheguem aos municípios. As estruturas de defesa civil são precárias nesses locais, não há pontos de apoio, abrigos e nem hospitais suficientemente preparados. Isso tudo faz parte de um conjunto de requisitos para evitar que o evento extremo se torne um desastre.
SOLUÇÃO DE ENGENHARIA NA CIDADE DO RIO
Especialista em Gerenciamento de Riscos pela Coppe-UFRJ, o economista Gustavo Mello avaliou que o projeto do reservatório da Praça da Bandeira, na Zona Norte do Rio, com capacidade para 118 milhões de litros de água, foi um exemplo de sucesso para evitar enchentes. “Existem intervenções de engenharia que podem ser replicadas, como a obra da Praça da Bandeira, além de outras para desassorear e recuperar as margens dos rios, e as obras de contenção de encostas”, disse Gustavo.
No estado do Rio, a urbanização e a ocupação desordenada do território interferiram no ciclo natural da água. Uma consequência foi a impermeabilização do solo, que favorece inundações. Para o secretário estadual de Cidades, Douglas Ruas, a solução mais imediata seria investir na canalização e retenção do volume de água das chuvas, mas, segundo ele, faltam recursos. “Não vemos a urgência climática ter prioridade no orçamento público federal. Alguns municípios do Rio têm capacidade de investimento muito reduzida. As necessidades são grandes, mas o orçamento está muito aquém do tamanho do desafio. É preciso autonomia financeira para tornar as cidades resilientes”, afirmou Ruas.
ESTRATÉGIAS PARA CIDADES RESILIENTES
Dentre as estratégias para a concepção de cidades resilientes estão intervenções de engenharia, como drenagem, contenção de encostas, intervenções hidráulicas, sistemas de comportas para dar vazão à água das chuvas e desassoreamento dos rios; plano de contingência previamente elaborado para orientar as ações de preparação e resposta a um determinado cenário de risco, caso o evento venha a se concretizar; a adoção de
engenharia verde, que inclui a implantação de telhados verdes e corredores de vegetação em ruas das cidades, para ajudar no equilíbrio térmico e na retenção das chuvas, a criação de parques com áreas inundáveis, para ajudar a absorver o excesso de água e diminuir a ocorrência de enchentes, investimentos em reflorestamento, replantio, manejo e proteção de ecossistemas alagáveis, como manguezais; a informação sobre rotas de fuga e de abrigo à população, diante de um risco de inundações ou deslizamentos de terra; treinamento e prevenção para promover mudança de comportamento em relação a eventos extremos; e impedir ocupação em regiões vulneráveis, através de políticas territoriais e de habitação.