CONFIRA A VERSÃO DIGITAL DA REVISTA "ITAGUAÍ 206 ANOS"!

Clique aqui e leia

Alunos de engenharia em Itaguaí tentam emplacar projeto de automobilismo em competição

Para quem não conhece, o carro baja é projetado para participar de competições automobilísticas, nas quais o mais importante é superar provações. Por ironia do destino – e sem querer abusar de trocadilhos –, alunos do Cefet (Centro Federal de Educação Tecnológica) de Itaguaí, engajados há dois anos em um desses modelos, têm enfrentado não só uma verdadeira corrida contra o tempo, como também uma prova de resistência.

Com uma competição em vista, o Baja Rio em 29 de julho, eles tentam superar o tempo e insistentes negativas a fim de conseguir um patrocínio para concluir o projeto de extensão e participar do evento pela primeira vez. Enquanto isso, trabalham entre componentes e engrenagens e não deixam de alimentar o sonho de ir além: representar a instituição nas etapas regional e (por que não?) nacional da SAE Brasil (Sociedade Automobilística dos Engenheiros).

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

“FALTA DE PATROCÍNIO”

Luiz Octávio Rego – 25 anos, completados neste sábado(25) – é aluno do 6º período de Engenharia de Produção do Cefet/Itaguaí, enquanto Aline Maria Gomes (23) está no 8° período do mesmo curso. Respectivamente, eles são capitão e vice-capitã da equipe Galo Baja.

Em entrevista ao ATUAL, a dupla falou sobre o projeto e salientou a falta de recursos como principal obstáculo no longo caminho que há pela frente até o objetivo de finalizar o carro. A estimativa de patrocínio para conclusão é de R$ 18 mil, e o que eles conseguiram até hoje foi graças a vaquinhas e uma bolsa da FAPERJ, agência do Governo Estadual de fomento à pesquisa, para a aquisição do motor.

Aline e Luiz: vice-capitã e capitão junto ao pôster da equipe Galo Baja (Divulgação)

Apesar da relevância do Cefet para a região, os bajeiros – como são chamados os técnicos em carros baja – acreditam que a instituição não tem o devido reconhecimento, o que reflete em fracassos na captação de investimento: “Nossa maior dificuldade é a falta de patrocínio, seja da iniciativa pública ou da privada. Talvez não se interessem por não conhecerem a importância do Cefet, que é nossa máxima (5) no MEC, mas ainda é pouco conhecida de muitas pessoas”, opina Aline, que atualmente atua no RH da equipe.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Sim, os integrantes levam muito a sério a estrutura da Galo Baja, a ponto de definirem um total de nove setores, como Recursos Humanos, Elétrica e Ergonomia, além das principais responsáveis pela busca por recursos: Financeiro e Marketing.

Como capitão, Luiz circula por todos os setores e detalha em quais o projeto avançou mais e menos até o momento: “Chassi e Powertrain está por pequenos detalhes. Já Suspensão e Direção é o que mais preocupa”.

Preocupa, inclusive, a ponto de o capitão admitir que é praticamente inviável a participação da Galo Baja como competidora em julho. Nada, porém, que vá impedir a ida da equipe a Maricá, local do evento: “Vamos para aprender e apresentar outros projetos”, observa Aline, lembrando que o Baja Rio também tem um caráter de troca de conhecimentos.

ORGULHO

Ao longo da entrevista, os estudantes deixam evidente o orgulho por fazer parte do Cefet de Itaguaí, o que os faz nutrir também uma identificação com o município, mesmo que tenham nascido na capital fluminense – Aline é de Realengo, e Luiz, de Campo Grande.

E são esses sentimentos que eles esperam levar Brasil afora um dia: “Como disse, o Cefet/Itaguaí tem um potencial enorme, mas é pouco valorizado e reconhecido. Então, vai ser um orgulho enorme levar a instituição para futuras competições”, ressalta Aline, que assim como toda a equipe, desfruta da estrutura que o Cefet/Itaguaí oferece, com professores, orientadores e laboratórios.

Luiz Octávio (camisa listrada) com colegas de equipe e um esboço do carro baja (Divulgação)

Mas entre sonhos e orgulho, eles sabem que o caminho é árduo até uma hipotética participação em uma competição nacional. Por isso, já imaginam, com humor, como os outros participantes reagiriam à presença da Galo Baja: “Acho que perguntariam ‘como eles chegaram aqui?’ (risos). O Cefet/Itaguaí tem só dois cursos, não tem um campus grande, é deslocado em relação a grandes faculdades. Então, acho que aconteceria esse olhar por chegarmos com recursos limitados. Seria um impacto”, sugere Luiz.

MONTAGEM DO CARRO

Cada integrante da Galo Baja dedica cerca de quatro horas diárias à empreitada. Neste período, convivem com diferentes componentes.

Dentre eles, metais, tubos, chapas, policarbonato, espumas, mangueiras e peças de outros veículos. Quanto ao motor, trata-se de um modelo estacionário, que custa cerca de R$ 5 mil e pode ser usado também em outras máquinas, como cortador de grama e gerador de energia – confira imagens de testes e montagens no vídeo abaixo.

Com 300 cilindradas, ele pode fazer um baja chegar a 100 km/h. Mas como o objetivo principal da competição não é chegar em primeiro, a velocidade média fica em 50 km/h. Tornar o carro resistente, a propósito, é o maior desafio dos estudantes de engenharia: “A Suspensão e Direção é nosso foco maior”, reforça Aline.

A COMPETIÇÃO

Um circuito da modalidade baja apresenta características e solos diferentes para atender a três etapas: aceleração e frenagem; embate, que opõe dois veículos; e enduro, com duas horas de duração, durante as quais os carros precisam suportar o máximo de tempo possível na pista.

E cada fase tem uma regra para pontuação: “A equipe pode ir bem na aceleração e no embate e quebrar na metade do enduro. E mesmo assim pode ganhar pela pontuação das primeiras etapas”, explica Luiz, que assim como todos os integrantes da Galo Baja que possuem CNH (Carteira Nacional de Habilitação), vai participar dos testes que vão definir o piloto da equipe em caso de competição.

O capitão Luiz Octávio no chassi do carro: ele é um dos candidatos a piloto nas futuras competições (Divulgação)

REPRESENTATIVIDADE FEMININA

Aos olhos de muitos, a combinação entre carro, mecânica, velocidade e resistência estaria mais ligada ao universo masculino. E de certo modo, isso se reflete na Galo Baja: dos 30 integrantes, são 23 homens e apenas sete mulheres – entre estudantes de Engenharia Mecânica e Técnica em Mecânica, além, claro, de Engenharia de Produção.

Mas essa desproporcionalidade pode estar a caminho do fim, pelo menos no que depender da dupla: “Queremos cada vez mais mulheres na equipe. É importante ter uma visão feminina, mulheres em cargos de liderança. Eu aceitei ser vice-capitã para mostrar que assim como eu, outras também podem…”, dizia Aline, antes de ser interrompida pelo colega: “Eu cheguei a sugerir que ela fosse a capitã”.

A numerosa equipe ainda busca uma proporcionalidade maior entre homens e mulheres (Divulgação)

Ela ponderou: “No momento, acho que Luiz está mais preparado, entende mais da questão de chassi, powertrain… E também porque estou na reta final da faculdade, com TCC. Ficaria mais difícil.

E Luiz explica por que convidou Aline para o cargo máximo da Galo Baja: “Foi pela capacidade dela e pela representatividade feminina. Não há nenhum projeto no Cefet com mulher na liderança atualmente. Seríamos pioneiros em mostrar para todos que a mulher pode. Vemos muitos estigmas machistas dentro dos cursos, então seria legal ajudar a mudar isso”.

FUTURO

Se a Galo Baja vai brilhar em circuitos nacionais em breve, ninguém sabe. Mas sobre os seus próprios futuros profissionais, os dois admitem que se veem no setor automotivo: “Nunca tinha pensado nisso antes de entrar para a equipe. Mas hoje, sim, acho que posso dizer que gostaria de me tornar engenheira de produção automotiva”, afirma Aline.

Já Luiz revela que sua relação com automóveis é mais antiga: “Sou suspeito para falar sobre isso porque meu pai tem uma oficina, e eu sempre gostei de carros. As pessoas podem pensar que não, mas estar no Cefet com um projeto de automobilismo e estudar engenharia de produção estão atrelados. Sei que roda é roda e trabalho é trabalho, mas hoje penso em dar suporte profissional em uma área que é meu hobby”.

CONTRIBUIÇÃO

Quem quiser contribuir com os bajeiros, há dois caminhos: contato pelo Instagram (@galobaja.equipe) ou doação por PIX (chave – luizribeiro.or@gmail.com).

Luiz Maurício Monteiro

Repórter com mais de 15 anos de trajetória e passagens por diferentes editorias, como Cidade, Cultura e Esportes.

Matérias relacionadas

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo
PHP Code Snippets Powered By : XYZScripts.com