Adilson Pimpo: novato na Câmara tem saúde municipal como prioridade
“Política tem que ser feita com contato humano”, diz o quinto vereador que recebeu mais votos em Itaguaí
Fica difícil não enquadrar Adilson Pimpo como fenômeno das urnas. Ele foi o quinto candidato a vereador com mais votos em Itaguaí: foram 2.246. Para se ter uma noção da grandeza do feito, ele ficou à frente de veteranos na política municipal, de parlamentares de mandato e de figurões do próprio partido. Sem citar nomes (não convém, nesse caso), ele fez muita gente experiente comer poeira.
O segredo? Bem, se há segredo, eis o que ele aponta: abraço, tomar café junto, olho no olho, empatia e atenção. Ele exemplifica com uma informação interessante. Desde que se elegeu, Pimpo refaz a peregrinação que empreendeu para conseguir os votos, mas, desta vez, para agradecer.
Talvez por isso não tenha tido muito tempo antes para conceder essa entrevista exclusiva ao Atual, na tarde desta terça-feira (15), de dentro do próprio carro que ele parou em um acostamento.
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“Pimpo” é o apelido de infância de Adilson Pereira Campos Junior, 46 anos recém-completados. Casado com Fernanda, é pai de uma filha e de uma enteada. Tem dois netinhos, João Guilherme (7 anos) e Matheus (2). Resolveu passear com eles no último sábado no shopping, uma breve parada na acelerada rotina. Mas Adilson não parece cansado.
Os dentes perfeitos, branquíssimos, reluzentes, aparecem com muita frequência porque Pimpo sorri bastante.
A voz é levemente rouca e tudo o que ele diz vem acompanhado de uma animação, um tipo de vibração positiva.
Nasceu em Itaguaí, estudou no Ciep Djalma Maranhão e no Teotônio Vilela. Aos 19 anos, arrumou emprego no Porto (“naquela época era fácil arrumar emprego”, observa ele), no setor de manutenção industrial.
Ainda no Porto, foi motorista, operador de máquinas e chegou até a supervisão.
Depois de um certo tempo, ingressou em uma atividade paralela: política.
E surge uma curiosidade: Adilson não é um inexperiente.
“Ajudei os políticos até 2016. Trabalhei com eles. Eu olhava algumas situações e pensava ‘eu faria isso, não faria aquilo’. Tem coisas que não concordo de jeito nenhum. E de uma certa maneira comecei a pensar como seria se eu estivesse naquela posição”, conta o vereador eleito.
Pimpo percebeu que essa história de pedir votos para as pessoas dava certo. Tanto é assim que, depois de conhecer Waguinho (que se reelegeu vereador em Nova Iguaçu) em um aniversário, passou a atuar na cidade para ele como “caçador de votos”, em 2022.
Deu tão certo que ele conseguiu incríveis 778 votos. Para o deputado Dr. Luizinho, que virou uma espécie de padrinho político, foi a mesma coisa.
Eleger a si próprio
O sucesso da empreitada pôs nele uma determinação: eleger a si próprio.
A ideia tomou forma ainda em 2022. “Foram dois anos de preparação e de trabalho diário. Quem acha que me elegi da noite para o dia não sabe de nada”, conta ele.
Acontece que ele estava empregado na ST Santos, empresa de um amigo. Pediu demissão para engendrar sua campanha à Câmara de Itaguaí. O amigo quis aconselhá-lo a mudar de ideia. Não conseguiu.
Filiado ao União Brasil em 2022, ele recebeu o convite para ingressar no Progressistas no ano da eleição. Era uma aposta arriscada porque havia nomes fortes do partido na cidade.
Mas ele apostou. E apostou alto. Do dia 3 de abril em diante já estava de casa nova e cheio de disposição.
Ele se jogou em campanha em Itaguaí, mas desta vez com discurso e intenções suas, somente suas. Deu no que deu.
“Eu me surpreendi. Achei que conseguiria entre 1600 e 1800 votos”, disse em um sorriso maior do que o mundo. “Usei a mesma agenda da eleição de 2022 para Waguinho e Luizinho. O que aconteceu é que aquelas pessoas me levaram a outras pessoas, e assim foi”, explicou.
Certamente a eleição de Adilson Pimpo não foi tão fácil quanto ele faz parecer. Trata-se de mais um clássico caso de explicação apenas hipotética. Talvez uma afinidade específica entre candidato e eleitores, carisma, afeto, transferência emotiva etc.
“Como não se emocionar com alguém que chora quando eu ganho a eleição? Não consigo parar de pensar nisso”, reflete ele.
Falar com este vereador eleito é um pouco diferente.
Ele não tem os maneirismos de quem se expressa para a imprensa com cuidado ou estratégias, não se envergonha de esquecer um ou outro dado, não escolhe palavras que vão produzir este ou aquele efeito.
Tanto é assim que confessou não ter escolhido equipe do gabinete, disse não saber quanto é o salário do vereador e nem quanto gastou na campanha.
Ele não tem um discurso pronto, artificial. Mas isso não quer dizer que falta determinação. Ele aponta de imediato qual é a prioridade do seu mandato: saúde.
“Hospital da Mulher, Centro Oncológico, Centro de Imagem, Casa do Autista…vou fazer de tudo para que essas coisas existam em Itaguaí. Tantos outros municípios têm essas coisas, por que não podemos ter?”, pergunta-se ele, de repente muito sério.
“É um absurdo a Farmácia Popular não funcionar 24 horas e fechar nos finais de semana. Se não puder abrir, tem que ter os remédios nos postos, pelo menos”, completa.
“O povo está carente”
Para Adilson Pimpo, não dá para fazer política sem conversar, abraçar. “O povo está carente. Política não é só dinheiro. A população quer estar próxima do candidato, somos uma espécie de ídolo para as pessoas”, explica. “O que falta hoje na política é contato humano”.
E foi nesse ponto que ele fez a única promessa da entrevista para este perfil: “Meu gabinete vai ser aberto para atender as pessoas. Afinal, a Câmara é a Casa do Povo. Não vou sumir da vida delas”.
Um pouco antes de atender ao Atual, Adilson conversou com o prefeito Rubem Vieira. Cabe lembrar que, eleito pelo Progressistas, ele faz parte da base de apoio de Rubão na Câmara.
“Nós nos cumprimentamos pela eleição e conversamos sobre o futuro de Itaguaí, sobre as providências para o desenvolvimento da cidade”, resumiu Pimpo.
Ele disse também que já se encontrou informalmente com outros vereadores, mas sem conversar sobre política.
Não, ele ainda não teve tempo para comprar um terno e confessa que não tinha incluído isso numa lista de tarefas urgentes. Só se lembrou disso quando o neto pediu para usar um igual ao dele no dia da posse na Câmara, pedido que encantou o avô orgulhoso.
Com o modo descontraído de conversar e sorrir, Adilson Pimpo evoca aquele bate-papo na beira da piscina com o churrasco comendo solto ao som de pagode lá no fundo.
Mas a partir de 1º de janeiro de 2025, ele será um dos parlamentares que terá a difícil missão de legislar e fiscalizar o Executivo de Itaguaí, explosivo por natureza e confuso por vocação.
O som não será o de pagode, e sim o das sessões legislativas.
E o mandato de Pimpo não é só de quem votou nele, mas de toda a população de Itaguaí. O contato inicial com a imprensa mostra que sua intenção é a de não perder isso de vista. Com ou sem terno.
Ah, importante dizer: o Atual entrou em contato com todos os novos vereadores eleitos (e com o que recebeu mais votos) e solicitou uma entrevista. Ninguém respondeu, só Adilson. Isso certamente quer dizer alguma coisa, embora ainda não se possa saber exatamente o quê. Mas a população, ah, essa saberá.