Economia do mar é tema de seminário promovido pela Facerj
Evento da Federação das Associações Comerciais e Empresariais do RJ reuniu em Niterói especialistas e autoridades para fazer avançar agendas em prol da produtividade no contexto do mar
A Federação das Associações Comerciais e Empresariais do Estado do Rio de Janeiro (Facerj) reuniu na quinta-feira (15) especialistas e autoridades no Seminário Economia do Mar (SEM), no Teatro Popular Oscar Niemeyer, em Niterói. O evento foi aberto ao público, que lotou o teatro para acompanhar a programação que durou praticamente o dia todo, de 9h às 18h30. Na pauta, debates que envolvem os diferentes contextos da Economia do Mar, que, de modo geral, abrange numa mesma perspectiva vários conceitos que colocam o mar como elemento central de transformação e progresso econômico, social e cultural.
No seminário, a ênfase foi em associativismo e cooperativismo como forças que contribuem para o reforço das cadeias de produção.
Além disso, houve assinatura de dois memorandos de entendimento para dinamizar setores sob a perspectiva da Economia do Mar.
Itaguaí, cidade que ocupa uma posição importante na Economia do Mar do Rio de Janeiro e do Brasil, foi citada várias vezes durante os debates, em especial nos painéis sobre construção naval e sobre as atividades portuárias, este último com a participação do presidente da empresa que administra o Porto de Itaguaí – a PortosRio, Francisco Martins, e de Ulisses Oliveira, diretor de Relações Institucionais e Sustentabilidade do Porto Sudeste.
O evento teve organização da Facerj e contou com o patrocínio do Sistema OCB/RJ, PortosRio, Codin, Fecomércio RJ, BR Marinas, Neltur e com o apoio institucional do Sebrae RJ, da Prefeitura de Niterói, da Associação Comercial e Industrial do Estado do Rio de Janeiro (Acierj), da Confederação das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil (CACB) e da Secretaria de Energia e Economia do Mar do Governo do Estado do Rio de Janeiro (Seenemar).
Um dos maiores especialistas em Economia do Mar do país, Renato Regazzi, do Sebrae RJ (e colunista do Atual), destacou fatores essenciais para a expansão do setor com foco na sustentabilidade e preservação ambiental, que foram amplamente discutidos no evento: “A Economia Azul deve ser baseada no associativismo e na preservação dos ecossistemas marítimos”.
Como um dos coordenadores do seminário e autor de um livro fundamental para a compreensão do tema no país, Regazzi ressaltou que esses dois modelos devem inspirar os empreendedores do ramo. “Foi ótimo poder destacar no seminário que estamos propondo um novo modelo de empreendedorismo que busca equilibrar o aproveitamento dos recursos marinhos com sua preservação”, comentou.
Ao se discutir Economia do Mar, é inevitável mencionar sustentabilidade, transição energética, sinergia entre diferentes agentes econômicos, inovação tecnológica, políticas públicas e integração em uma cadeia dinâmica de produção que tenha o mar como fonte principal de matéria-prima ou alvo de atenção econômica.
No caso do Brasil, os números impressionam: são 8.500 km de costa e um potencial de 57 milhões de km² de Zona Econômica Exclusiva, bastante relevante no campo marítimo. Entre os estados brasileiros, o Rio de Janeiro tem a maior participação no chamado “PIB do Mar” (25%), puxado principalmente pelos segmentos de energia e turismo.
Foi por isso que o presidente da Facerj, Robson Carneiro, destacou a importância do seminário e comemorou a sua realização como um grande feito em direção a discussões mais profundas e atitudes mais concretas para que todo o potencial do mar brasileiro e fluminense resulte em desenvolvimento econômico e social.
Em sua fala de abertura, Carneiro afirmou que o seminário vai acontecer todos os anos no Rio de Janeiro e possivelmente se replicará em eventos similares em todo o Brasil a fim de exercer a “literacia oceânica”. “Só por meio de muito trabalho e conjunto, com associativismo e cooperativismo em uma economia cada vez mais compartilhada e colaborativa será possível desenvolver os territórios marítimos e gerar oportunidades, emprego, renda e prosperidade para todos os estados municípios e costeiros”, pontuou ele.
Documentos assinados
Robson Carneiro lembrou também que durante o seminário foi assinado o memorando de entendimentos entre a Confederação das Associações Comerciais do Brasil (CACB), A Facerj e a Associação Brasileira de Empresas de Economia do Mar (Abeemar) para fomentar a econômica do mar sustentável em todo o Brasil.
Outro documento importante foi assinado entre o Governo do Estado do Rio de Janeiro e a prefeitura de Niterói, uma espécie de protocolo de intenções entre o município e o estado no que diz respeito a investimentos e agendas que contemplem iniciativas sob o conceito de Economia do Mar.
O prefeito de Niterói, Axel Schmidt Grael, disse em entrevista exclusiva ao Atual que a cidade tem uma vocação inequívoca no assunto e tem investido em projetos e atividades que contemplem o mar como protagonista econômico e social. Ele citou como exemplos o recente evento de surfe em Itacoatiara, o festival “Gastronomia do Mar” – que acontece ainda este mês na cidade -, e um outro evento sobre Economia do Mar, desta vez de abrangência internacional, que terá Niterói também como sede.
Curadoria foi destaque
Muitos especialistas e autoridades tiveram a oportunidade de apresentar diagnósticos, ponderar soluções e requisitar políticas públicas importantes para o desenvolvimento da Economia do Mar.
A curadoria foi um dos pontos fortes, que contou com a participação das seguintes instituições e representantes: Sebrae RJ (Renato Regazzi, assessor da presidência CDE e Antonio Alvarega, CEO); Secretaria de Estado de Energia e Economia do Mar (João Leal – coordenador de energia nuclear; Felipe Peixoto – secretário interino; Sérgio Coelho – subsecretário); Sindicato dos Hotéis, Bares e Restaurantes do RJ (Alexandre Sampaio – presidente); Orla Rio (Guilherme Borges – vice-presidente); Fecomércio RJ (Antônio Florêncio de Queiroz Junior – presidente e Otávio Leite – consultor da presidência); Firjan (Karine Barbalho – gerente Petróleo&Gás); Grupo Águas do Brasil (Cláudio Abduche – diretor-presidente); PortosRio (Francisco Martins – diretor-presidente); Porto do Açu (Vinícius Patel – diretor de Administração Portuária); Itaguaí Construções Navais – ICN (diretor – Almirante Mario Ferreira Botelho); Transpetro (Jones Soares – Diretor de Transporte Marítimo); Eletronuclear (Raul Lycurgo Leite – presidente); Petrobras (Savana Fraulob – gerente da área de Contabilidade e Tributário); Secretaria de Estado de Ambiente e Sustentabilidade do RJ (Ana Asti – subsecretária); Abeemar (João Azeredo – presidente); Companhia de Desenvolvimento de Maricá – Codemar (João Azeredo); Faerj (Rodolfo Tavares, presidente); Companhia de Desenvolvimento Industrial do Estado do Rio de Janeiro – Codin RJ (Fábio Picanço, presidente); Prefeitura de Niterói (Axel Schmidt, prefeito), dentre outros.
Painéis
O encontro se dividiu em eixos temáticos denominados “painéis”, da seguinte forma: “O fomento do desenvolvimento local por meio da Economia do Mar Sustentável, com inovação (Bluetech)”; “O setor de turismo como vetor do desenvolvimento local”; Baía de Guanabara e a Economia Azul – saneamento e entrepostos pesqueiros”; “Portos e Marinas como hubs da Economia Azul”; “Construção naval e Náutica criando emprego e renda por meio da Economia do Mar sustentável”; “Setor de Energia, o futuro através da Economia do Mar sustentável” e “Cooperativismo municipal, uma alternativa para o desenvolvimento local”.
PEM da Região Sudeste
Dentre as iniciativas que foram analisadas no evento, o Planejamento Espacial Marítimo (PEM) da região Sudeste teve lugar de destaque. O projeto visa mapear e organizar os recursos marinhos e costeiros, promovendo a integração de diversos agentes socioeconômicos e garantindo a segurança jurídica e a soberania nacional.
Em junho, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) anunciou o consórcio “Sudeste Azul” para liderar o PEM, que engloba os estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo. Composto pelas empresas Fundação Getúlio Vargas (FGV) e Environpact Sustentabilidade, o grupo receberá R$ 12 milhões em recursos não reembolsáveis do Fundo de Estruturação de Projetos do BNDES (BNDES/FEP) para a execução do projeto.
O diagnóstico marinho e marítimo do Sudeste será realizado ao longo de 36 meses e busca fornecer dados precisos para o uso sustentável da costa brasileira.
A região Sudeste é essencial para a Economia Azul, pois concentra cerca de 82% das atividades do setor no país, incluindo petróleo e gás, portos e turismo. “Esse seminário serve uma plataforma para discutir políticas públicas cruciais e promover o empreendedorismo no setor marítimo, incluindo o desenvolvimento do Planejamento Espacial Marítimo”, destacou João Leal, coordenador de energia nuclear da Secretaria de Energia e Economia do Mar (Seenemar).