Lúpulo brasileiro ganha produção por startup em Seropédica
A primeira biofábrica produtora de mudas de lúpulo brasileiro por cultivo in vitro em laboratório tem a proposta de utilizar uma das técnicas mais modernas de melhoramento genético para edição do genoma da planta e criação de novas variedades. As mudas de lúpulo usadas no país para a produção de cerveja são importadas, principalmente, dos Estados Unidos e da Europa, e não adaptadas ao clima brasileiro.
Sediada na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), a BioHop é a startup de biotecnologia com foco em produção de mudas por cultivo in vitro com testes de sanidade por técnicas moleculares, uso de engenharia genética para o desenvolvimento de novas variedades de plantas e projetos de inovação para empresas. A startup recebeu investimentos da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) para a montagem de um laboratório e a implantação de uma biofábrica e viveiro de mudas de lúpulo, no município de Seropédica, no estado do Rio de Janeiro.
A empresa também propõe o uso da tecnologia CRISPR para edição gênica de plantas, “ligando e desligando os genes”, de acordo com as características almejadas. No caso das plantas, permite o desenvolvimento de novas variedades no laboratório em curto prazo, diferente do melhoramento por cruzamento de plantas.
O aroma e o sabor tropicais serão os aspectos almejados das mudas de lúpulo brasileiro. Além disso, os criadores querem superar desafios como adaptação ao clima, pragas e doenças que acometem a lavoura e contribuir, assim, com espécies mais produtividade para agricultores. E como produto final, um valor comercial mais baixo para os cervejeiros artesanais.
“Queremos uma cerveja 100% brasileira. O lúpulo precisa de um impulsionamento do mercado para diminuir a importação do produto, que é um dos mais caros para indústria cervejeira. Queremos ser também exportadores de bebidas com características tropicais. O produto com aroma possui alto valor de mercado, podendo alcançar a cifra de R$ 600, o quilo”, ressalta Cássia Coelho, doutora em Agronomia e fundadora da BioHop.
Coelho explica que há um crescimento de produtores nacionais de lúpulo e que a geração de mudas em laboratório pode alcançar alto rendimento por planta matriz, obtenção de plantas isentas de patógenos, mudas sadias em qualquer época do ano, em curto período de tempo, e espaço reduzido. Também é possível a clonagem de plantas de difícil propagação vegetativa por métodos convencionais e preservação de matrizes sem risco e infecção. Além dessas vantagens, o cultivo in vitro, a longo prazo, possibilita a redução dos custos e aumento da produtividade das plantas.
A meta agora é estabelecer parcerias com laboratórios e empresas para o desenvolvimento das novas variedades e escalar a produção para a comercialização. A criação de uma nova planta por cruzamento consome de 10 a 15 anos para seu desenvolvimento completo, explica Coelho, enquanto com a técnica do CRIPR este prazo se acelera, decaindo para até quatro anos.
O projeto foi agraciado no edital Doutor Empreendedor: Transformando Conhecimento em Inovação da FAPERJ, em 2021. Com mestrado e doutorado pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, com período sanduíche durante o doutorado na Washington State University, Cássia tem focado sua trajetória em estudos da biotecnologia de plantas. Pelo edital Doutor Empreendedor, ela recebeu R$ 50 mil de auxílio, mais duas bolsas: uma de Iniciação Tecnológica e outra de Doutor Empreendedor para tocar a proposta da biofábrica de biotecnologia de plantas, visando oferecer ao mercado consumidor, além do lúpulo brasileiro, produtos diferenciados. Em 2022, a startup ainda foi agraciada no Programa de Bolsa de Treinamento e Capacitação Técnica (TCT) em Apoio ao Desenvolvimento do Setor Agropecuário e da Agroindústria do Estado do Rio de Janeiro, lançado igualmente pela FAPERJ, e recebeu R$ 150 mil, além de bolsas de Inovação Tecnológica e do edital Doutor Empreendedor.
Segundo Coelho, a BioHop tem sido procurada por outras empresas para testar bioinsumos orgânicos como fertilizantes para diferentes plantas, observando a resposta da planta, desde a expressão dos genes, metabolismo e crescimento dos vegetais.