Morador de Itaguaí realiza rifa após assalto em casa
Armas apontadas para a cabeça, ameaças de morte e bens levados. E o pior: tudo isso dentro da própria residência. Assim foi a madrugada do último sábado (13) para Jonatas Rocha, que por volta de 4h viu dois bandidos invadirem seu imóvel no bairro Ibirapitanga, em Itaguaí.
Desde então, sem muito tempo para lamentar a perda de uma TV 50” e dois smartphones – apenas agradecer, já que ele e sua esposa Larissa, de 24 anos, não se feriram – o casal tem se virado como pode. E a primeira ideia foi promover uma rifa – com 100 números a R$ 10, cada – para repor as compras de mês, que também foram no assalto – um prejuízo total próximo a R$ 9 mil (R$ 4,5 mil só pela TV), segundo as contas do rapaz.
Em conversa com o ATUAL, o motofretista (responsável por transportar objetos) de 28 anos contou que ele e Larissa, que trabalha como técnica em enfermagem, precisaram comprar de imediato, no cartão de crédito, telefones celulares, pois precisam dos aparelhos em seus respectivos empregos.
Foi então que tiveram a ideia de investir também em um liquidificador para rifar, o que já rendeu R$ 930: “Graças a Deus este dinheiro ajudou em muitas coisas, como repor a comida e pagar a fatura do cartão, que ficou mais alta”, comemora Jonatas, que nasceu em Queimados, mas vive em Itaguaí desde 1 ano de idade.
Entretanto, nem mesmo a retomada da rotina e a sensação de que as coisas de ajeitam novamente fazem desbotar da memória de Jonatas o temor de que algo de pior poderia ter acontecido naquela madrugada: “Com uma arma apontada para minha cabeça, meu medo era morrer. E temia também que eles quisessem fazer algum mal para minha esposa. Assim, eu ia acabar reagindo”, admite.
AMEAÇAS
Jonatas lembra que dormia com Larissa na casa onde residem há cerca de um ano e meio, desde que se casaram. Ele relata também que era comum ouvirem durante a madrugada um ruído na janela porque é por esse espaço que o gatinho de estimação costuma entrar.
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No dia do crime, porém, o barulho foi mais forte: “Ouvimos também a fruteira cair no chão, porque um deles subiu na mesa. Quando minha esposa foi até a cozinha, ela disse ‘não, dentro da minha casa, não’. Depois, eles pediram a chave da casa para poder sair com as coisas pela porta”, descreve ele, ainda mostrando indignação: “Eles são tão abusados, que entram na nossa casa para levar as coisas que a gente conquistou com suor”.
E além de “levar as coisas”, os quatro assaltantes – dois invadiram a casa, e os outros ficaram no carro, de acordo com Jonatas – também quebraram itens e fizeram ameaças: “Falaram para a gente ir para cama e calar e boca, porque se não calasse, iam dar um tiro na nossa cabeça”, destaca ele, recordando que a esposa tomou uma atitude que não é aconselhada nesse tipo de situação: “Também empurraram a Larissa quando ela tentou impedir que levassem a TV”.
INSEGURANÇA
Conforme dados do Instituto de Segurança Pública (ISP), órgão do Governo do Estado, os índices de roubo a residência não chegam a ser alarmantes em Itaguaí. Por exemplo, ao longo de 2022, foram seis casos. Já neste ano, até o momento, quatro.
Entretanto, antes mesmo do assalto, Jonatas relata que já se sentia inseguro no bairro onde reside. O motivo, ele conta, seria um policiamento enfraquecido não só em Ibirapitanga, mas também em outras áreas mais distantes do Centro de Itaguaí:
“Lá, você vê dois carros de polícia a cada esquina. Aqui, passam uma vez ou outra”
O rapaz afirma que registrou boletim de ocorrência na 50ª DP, mas nada mudou: “Para você ver… Fiz o B.O. no dia do assalto, mas até hoje a polícia não passou por aqui. Querendo ou não, esses lugares estão muito esquecidos”.
Diante de tal insegurança, o casal vive um dilema: mudar ou não de endereço. Larissa pensa na possibilidade, mas Jonatas admite ser contrário à ideia: “Ela quer ir embora, fica irritada. Mas acho que não é legal desistir das coisas, vender tudo barato. É preciso ser resiliente”.
PRECAUÇÃO
Enquanto não chegam a um acordo, o motofretista se preocupa em aumentar a segurança da casa. Enquanto concedia a entrevista, instalava grades nas janelas, inclusive naquela pela qual os criminosos entraram. Mas ele reconhece que a medida, ao custo de R$ 1,1 mil, é provisória:
“É um paliativo. Mas agora não vão conseguir entrar pela janela. Assim vamos poder dormir em paz”
O jovem fala em “paliativo” por ter em mente a construção de um muro para aumentar a proteção do lar: “Não tenho condições de fazer o muro agora. Pretendo começar alguma coisa a partir do mês que vem e ir aos poucos. Uma sapata (fundação) de cada vez…”, salienta ele, cogitando ainda um reforço de quatro patas na segurança: “Depois do muro pronto, vamos colocar um cachorro aqui para ficar ideal”.
AJUDA
Aos interessados em um liquidificador novo, Jonatas pede para avisar que restam ainda alguns números na rifa. Ele disponibiliza seu número de telefone (21 98376-5110) e avisa que o pagamento pode ser via PIX.
Mas além disso, seja para repor os itens do supermercado, comprar novos bens materiais ou até aumentar a segurança de casa, o que também tem feito muita diferença para o casal é a ajuda que tem chegado por diferentes lados.
Jonatas relembra que a sua sogra emprestou uma TV enquanto eles não compram um televisor novo. Sobre a rifa, muita gente preferiu doar R$ 10 em vez de pagar o valor por um número.
Teve ainda quem doasse itens para uma próxima rifa:
“Uma pessoa nos deu duas bolsas femininas, que vamos rifar na virada do mês”
Mas para além das colaborações de ordens material e financeira, ele destaca um outro tipo de ajuda que também vem sendo fundamental neste momento: “Temos recebido muito apoio emocional. As pessoas abraçaram a causa, vieram orar por nós. Às vezes, o que precisamos é de um abraço para não desistirmos. E temos recebido isso. Inclusive, por redes sociais”.
PARA O FUTURO
O suporte emocional tem sido tão importante, que Jonatas já se preocupa em fazer o mesmo por quem vier a enfrentar o mesmo terror futuramente: “Vou querer dar uma força para quem passar pelo mesmo”.
Enquanto isso, ele pensa em dias melhores e, a curto, médio ou longo prazo, planeja a volta por cima, atitudes comuns a quem vivencia uma situação tão traumatizante: “Quero conquistar de volta tudo o que levaram. Conquistar coisas ainda maiores. Em nome de Jesus, vamos ter muito mais trabalho e muito mais conquistas”. Amém!