Ronaldinho e o sonho de tornar Itaguaí a ‘Cidade das Limusines’
Uma produção pode ser tão marcante em uma cidade que muitas vezes chega ao ponto de fazê-la ficar popularmente conhecida como “a capital brasileira de…”. Por exemplo, Bento Gonçalves (RS) é a capital brasileira do vinho; Blumenau (SC), da cerveja; Toritama (PE), do jeans, e por aí vai. Mas e Itaguaí?
O município litorâneo fluminense tem um farto mercado naval e portuário, com construções de diversas estruturas e embarcações, inclusive de submarinos. Entretanto, no que depender de um empresário da região, a cidade tem tudo para ficar conhecida pela produção de outro tipo de máquina.
Ronaldo Bernardo, ou simplesmente Ronaldinho, como prefere ser chamado, tem um sonho: o pórtico de Itaguaí adornado por uma limusine. Essa, aliás, seria somente a porta de entrada para aquela que tem potencial para ficar conhecida como a “Cidade das Limusines”. E o maior entusiasta desta empreitada seria ele próprio.
Aos 46 anos, Ronaldinho é dono da capotaria automotivA W Race Estofamentos, localizada na Rio-Santos (BR-101), ao lado do restaurante Parada Costa Verde. Seu negócio, entretanto, vai muito além de capas para bancos: “O nosso diferencial são as limusines”, garante o empresário ao ATUAL, referindo-se aos vistosos modelos de carro que, após a adaptação, podem variar entre 3 m e 4,5 m.
ATRAÇÃO TURÍSTICA
A loja na Rio-Santos existe há cerca de um ano, período no qual ele consegue produzir uma única limusine, por conta da complexidade do processo. Estes 12 meses, porém, foram mais do que suficientes para que ele desenvolvesse o desejo de fazer de Itaguaí a “Cidade das Limusines” – que teria, claro, outras atrações além do carrão no pórtico.
Por exemplo, a própria capotaria poderia se tornar uma espécie de museu, para que visitantes e turistas conhecessem o processo de adaptação do veículo. Ele conta, inclusive, que algo parecido já acontece: “O pessoal vai ao restaurante almoçar, mas depois chega na loja e pede para tirar foto. Isso já acontece espontaneamente”.
LIMUSINES NA EXPO
Além da visitação à loja, Ronaldinho tem planos para colocar suas produções até em um dos principais eventos da cidade: “Quando tiver uma Expo, a prefeitura poderia colocar uma limusine lá dentro, em exposição para as pessoas fotografarem. A ideia é criar para o público a ideia de que a fábrica das limusines fica em Itaguaí”, explica o empresário, se colocando entre o sonho e a realidade: “Estou viajando (risos). Mas sonhar não custa nada”.
E para continuar “viajando”, Ronaldinho já inclui o poder público nos seus sonhos: “A Secretaria Municipal de Turismo poderia desenvolver uma forma de divulgar essa ideia. Dei uma entrevista para a TV Globo. Quando for ao ar, pode ser que algum vereador olhe para nós”.
O (RE) INÍCIO
Enquanto não tira do papel os planos de elevar Itaguaí ao título de “capital nacional das limusines”, Ronaldinho trabalha na segunda limusine desde que abriu a oficina na BR-101.
A primeira, já entregue ao cliente, ele começou a produzir na antiga loja em Bangu, Zona Oeste no Rio de Janeiro. Sim, Ronaldinho está no ramo já faz algum tempo.
Mais precisamente desde 2003, três anos após se aposentar precocemente, devido a uma séria lesão no tornozelo, como jogador de futebol. Depois de defender as camisas de Bangu, São Paulo, Cruzeiro e Seleção Brasileira de base – na qual teve a chance de jogar ao lado do xará Ronaldo, o Fenômeno – Ronaldinho viu o trabalho com automóveis como um caminho natural.
Ele relembra: “Quando parei, tinha que fazer alguma coisa. Com essa coisa de carro no sangue, montei a loja de estofamento, com funcionário e tudo. Mas como muitos faltavam, precisei aprender a fazer. E quando percebi o dom, fui me qualificar, até chegar às limusines. E hoje a gente é referência”.
MUDANÇA
Mesmo estabelecido no ramo, Ronaldinho optou por deixar o Rio e rumar a Itaguaí. O principal motivo, no entanto, foi a cidade vizinha, Mangaratiba, onde reside e de onde precisou sair diariamente por anos para cuidar dos negócios na capital: “Começou como casa de veraneio, mas me mudei em 2008 e fiquei todo este tempo indo e voltando. Mas na pandemia, depois que precisei fechar a loja em Bangu e ficar em casa, não quis mais retornar para o Rio. Foi quando abri a capotaria em Itaguaí”.
A propósito, foi exatamente o fato de já ter seu nome firme no negócio de limusines que o fez deixar de lado o temor pela mudança de uma grande metrópole para uma cidade menor: “Já fiz limusines para Curitiba, Recife… Então, independentemente de estar na capital ou em cidade pequena, não faz diferença. Outros serviços, como estofamento, caíram. Mas agora já estou ficando mais conhecimento”, comemora ele, elogiando a clientela itaguaiense: “Itaguaí tem um potencial grande. Boa parte das pessoas está disposta a pagar por um serviço de qualidade”.
ADAPTAÇÃO E REGULARIZAÇÃO
A mesma experiência que o deixou tranquilo com a mudança de endereço, também o faz se preocupar em cumprir com todas as obrigatoriedades o processo de adaptar um carro comum em limusine – os modelos que mais chegam à W Race são o Chevrolet Cruze, o Dodge Freemont e o Hyundai Santa Fé.
Quando recebe um pedido, o primeiro passo é entender de forma detalhada o desejo do cliente: “Preciso saber a finalidade da limusine, se é para uso pessoal ou comercial, e também o modelo, tamanho cor…”.
Em seguida, ele desmonta o carro e o envia para uma equipe – com a qual já trabalha há anos – que dá conta do processo de corte e alongamento. Por fim, quando a limusine volta, ele realiza trabalhos como estofamento e instalação de equipamentos de iluminação e áudio, dentre outros – assista no vídeo abaixo.
Além disso, Ronaldinho orienta o cliente quanto à regularização do veículo: “É tudo certinho. O Inmetro faz a aferição, e quando é dada a aprovação, sai o documento com alteração de capacidade e características. E é preciso pagar um Duda (Documento Único do Detran de Arrecadação) a mais. Fora isso, é um carro normal, como outro qualquer”.
CLIENTELA
Em todos estes anos de trabalho, um pedido que marcou Ronaldinho foi o de um empresário que alugou sua limusine para uma cena da novela “Cheias de Charme” (TV Globo/2012). Mas a verdade é que quem o procura, na maioria das vezes, está interessado em alugar o comprido veículo para eventos como casamento, aniversário de 15 anos, despedidas de solteiro e por aí vai.
O lucro com o negócio, ele garante, é vantajoso: “Rende mais ou menos R$ 10 mil por semana. Por duas horas de locação, é R$ 1,5 mil”.
E caso você esteja interessado em uma limusine, depois de aprender tanto sobre o caro e descobrir o retorno financeiro que ele pode proporcionar, é bom preparar o bolso: “Uma zero fica em torno de R$ 400 mil”, encerra Ronaldinho.