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‘Podemos ter leitores em todos os lugares’, diz professor sobre projeto em Itaguaí

Em Itaguaí, pelo menos no que depender do professor Alexandre Damascena, se os moradores não forem ao encontro da leitura, a leitura vai até os moradores. Mais precisamente à casa de cada um deles. Afinal, fomentar o interesse por livros no município é o grande objetivo do seu projeto Leitura nas Casas, que mesmo que ainda engatinhe, já tem grandes metas.

Formado em Artes Cênicas pela tradicional Escola de Teatro Martins Pena, no Rio de Janeiro, e em Letras pela FEUC (Fundação Educacional Unificada Campograndense), o professor de 49 anos teve a ideia de ler poesias, contos, textos de teatro e afins nas residências de pessoas comuns a partir da oficina de Leitura em Voz Alta que ministra desde junho no Teatro Municipal de Itaguaí – cujas aulas nas noites de quinta são gratuitas para qualquer pessoa que queira participar; basta comparecer ao teatro e se inscrever.

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Ao receber no palco moradores interessados em cultura, ele teve a ideia de ir a outros para despertar o mesmo desejo. E assim começou a frequentar residências para fazer apresentações teatrais em Santa Cruz, bairro da Zona Oeste da capital fluminense, onde nasceu e vive. Pouco depois, pensou “por que não?” levar o formato a Itaguaí, cidade com a qual tem uma relação afetiva, só que com foco na leitura, em vez do teatro.

VISITAS SEMANAIS

A estreia aconteceu na semana passada. Na noite de segunda-feira (7), Alexandre chegou à casa da dona Tabata Bachour, mãe de Gabriel, aluno do professor no teatro e responsável pelo convite.

Entre familiares e amigos de Gabriel, na residência do bairro Monte Serrat, não seria exagero dizer que o professor se sentiu em casa, com direito a lanche: “O encontro foi ótimo. Desde a recepção, percebi o clima bom. Ao final, ainda fizeram um cachorro-quente para acompanhar o bate papo”, recorda, Alexandre, que ficou na casa dos Bachour por volta de duas horas.

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Nesse período, ele selecionou como leitura o conto “O Caso da Vara”, de Machado de Assis, que fala sobre escravidão e a relação entre patrão e empregado. 

Presente na ocasião, a também aluna Ka Rangel curtiu a experiência e se candidatou para receber a próxima leitura em casa, na semana que vem. O que, aliás, o professor espera que se torne rotina.

Sim, seu planejamento é visitar pelo menos um lar em Itaguaí por semana. A demanda pode parecer um desafio, mas ele não tem dúvidas de que vai haver interessados suficientes. Mesmo que se trate de um município de gente humilde, muitas vezes, sem tempo e oportunidades para pegar em um livro, e onde há apenas cinco bibliotecas (três públicas e duas comunitárias) e uma quantidade de livrarias que se conta nos dedos das mãos.

Mas o que o faz crer no sucesso do projeto é pensar que a população vai se interessar pelo seu objetivo, que é estimular o interesse pela leitura na cidade: “A gente sabe que é uma região mais afastada dos grandes centros. Mas podemos ter leitores em todos os lugares. Basta ter oportunidade. E é isso o que queremos, mostrar que a leitura pode estar sempre por perto”, enfatiza o professor, que como funcionário concursado da prefeitura, sugeriu dividir sua carga horária entre a oficina no Municipal e o projeto nas residências de cidadãos itaguaienses.

INSPIRAÇÃO EM MACHADO

Na próxima semana, a leitura será do conto “Filosofia de um Par de Botas”, que assim como o da primeira visita, tem autoria de Machado de Assis. E não se trata de uma coincidência, pois Alexandre considera uma inspiração o escritor, que além de ser um dos mais populares do país, é fundador da Academia Brasileira de Letras.

Aliás, esta não é a primeira vez que Alexandre faz uma opção por Machado, já que suas teses de Mestrado e Doutorado na UFRJ têm o prestigiado escritor como personagem. E o que inspira o professor – e ele espera que inspire a outros também – é a própria biografia do autor, que se aproximou da nobre arte de ler apesar das adversidades para, consequentemente, evoluir como ser humano: “Ele era gago, morador do Morro da Providência, no Rio, sofria de epilepsia… Então, se Machado de Assis, que tinha tudo para dar erado, se tornou um grande homem, por que nós não podemos?”, reforça o professor,, lembrando ainda a ligação do município com duas obras do autor: “Em ‘Dom Casmurro’, ele menciona Itaguaí mais de uma vez. E em ‘O Alienista’, faz uma homenagem à cidade, já que a história se passa lá”.

No entanto, Alexandre garante que não será sempre que vão prevalecer textos escolhidos por ele: “Caso o dono proponha algum texto, estarei sempre aberto para ler também”, afirma ele, citando uma característica que o texto precisa ter, independentemente de que o selecione: “A ideia é que seja curto para haver a possibilidade de uma conversa depois”.

Depois da primeira visita, a meta do professor é realizar pelo menos uma por semana (Arquivo pessoal)

PROPOSTAS DIFERENTES

Mesmo ciente das limitações de Itaguaí na Cultura, Alexandre saliente com orgulho que o teatro onde dá aulas é um dos poucos com atividades regulares em toda a região: “Em uma região de cerca de 200 kg, daqui a Paraty, só temos dois teatros: em Itaguaí e em Angra dos Reis”.

Por falar em Paraty, Alexandre enfatiza o potencial cultural da cidade, uma das pioneiras no país quando o assunto são grandes festivais de literatura – vide a Flip (Festa Literária Internacional de Paraty).

Entretanto, o professor destaca que seu projeto tem uma proposta diferente, embora a finalidade de propagar a leitura seja um ponto em comum: “As grandes festas literárias promovem o autor, o livro. Nós queremos promover a leitura, que ela seja o personagem principal”, pontua Alexandre, citando outras características particulares do seu projeto: “Ler na casa das pessoas é um trabalho afetivo, porque além de me receber, elas convidam outras pessoas para estar junto. Ali é um espaço de troca. Geralmente, depois da leitura, rola um café, um bate papo”.

COMO AGENDAR VISITAS

Para receber Alexandre, o cidadão de Itaguaí pode ir à administração do Teatro Municipal para solicitar a visita ou entrar em contato com ele diretamente por suas redes sociais – alexandredamascena no Facebook e @alexandre_damascena5 no Instagram. Além disso, o professor acredita que as próprias pessoas que forem à casa de um amigo ou familiar, por exemplo, podem despertar o interesse de ter o projeto em seu próprio lar, o que ajudaria a alcançar aquela meta de uma leitura por semana: “Se as pessoas não conhecem determinada coisa, não tem como gostar ou não”.

Confiante, o professor já planeja para 2023 o Festival Leitura nas Casas, no qual pretende convidar escritores, atores e poetas para o acompanharem, ao longo de uma semana inteira, em diferentes casas para uma programação de leitura. Que bons ventos o carreguem pelas ruas da cidade. 

 

Redação

O Atual atua desde 2001 em Itaguaí, Mangaratiba e Seropédica com notícias, informações e demais serviços jornalísticos, digitais e audiovisuais. Além disso, aborda ocasionalmente assuntos que envolvem também a Zona Oeste da capital do Rio de Janeiro. O Atual oferece matérias e vídeos em seu site e nas suas redes sociais, com o compromisso de imprensa legítima e socialmente responsável.

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