Em Itaguaí, telefones úteis de órgãos públicos atendem mal à população
Ao tentar ligar para algum órgão público de Itaguaí, o morador pode pesquisar o número em buscas na Internet, tentar encontrar no site da prefeitura ou então ligar diretamente para a Central de atendimento do próprio município e pedir uma transferência. Pois saiba que, independentemente do caminho escolhido, são grandes os riscos de se cair em uma verdadeira peregrinação telefônica.
Por três dias em setembro – segunda (12), terça (13) e quarta (14) – e em três horários diferentes – próximo do horário do almoço; próximo do fim do expediente, às 17h; e à noite, apenas para unidades de saúde – o ATUAL ligou para diferentes serviços municipais, como a Central telefônica, a Secretaria de Educação, o Hospital São Francisco Xavier e a UPA, a fim de verificar a eficiência de cada um deles. Ou seja, se uma pessoa que mora em Itaguaí ligar para um determinado órgão para pedir ajuda ou tirar uma dúvida, será que vai ser atendida? Será que vai ter seu problema solucionado, nem que seja parcialmente?
Se a sua opção for a Central telefônica da prefeitura, no número 3782-9000, é possível que uma atendente diga “alô” – nas seis tentativas do nosso teste, em apenas uma não houve atendimento (pouco antes das 17h, perto do fim do expediente). Mas é a partir daí que os problemas podem começar.
NÚMERO DE SECRETARIA NÃO COMPLETA
No link “Telefones e Ramais” – que está no site da prefeitura, mas não é fácil de achar – o telefone da Secretaria Municipal de Educação consta como 3782-9003. Depois de discar, é possível ouvir uma gravação que diz “você ligou para a Secretaria de Educação” e pede que a pessoa digite o ramal desejado ou aguarde. Ao optar por aguardar, a ligação não sai de uma musiquinha de espera (no caso, uma versão ding dong de “Olhos Certos”, da banda Detonautas).
Com a indisponibilidade do número, a reportagem voltou à Central, que passou os ramais 3014 e 3024. A partir daí, houve uma tentativa bem-sucedida e duas fracassadas (ninguém atendeu, coincidentemente, perto do fim do horário de trabalho, que é às 17h para o atendimento telefônico).
NA VIGILÂNCIA SANITÁRIA
Órgão importante para o dia a dia do cidadão e para os comerciantes, a Vigilância Sanitária teve um desempenho melhor em relação à SME, mas longe de funcionar da maneira devida. Em um dos ramais informados pela Central, o 4004, o cidadão pode tirar dúvidas e fazer consultas sobre legalização de estabelecimentos e liberação de alvarás. Em seis chamadas, duas não tiveram alguém para atender (mais uma vez, por volta de 17h).
Já no 4022, onde funciona a Ouvidoria da Vigilância em Saúde, as atendentes explicaram em quatro situações – de um total de seis – que o telefone serve apenas para dúvidas. Quem quiser fazer uma denúncia, por exemplo, precisa ir ao órgão pessoalmente, o que é algo difícil de entender sob uma perspectiva lógica. Em uma chamada, às 13h, não houve atendimento. Já em outra oportunidade, uma funcionária contrariou todos os informes ao afirmar que o atendimento ao público fica disponível apenas até 16h30 – depois disso, até às 17h, suposto horário de encerramento de expediente, o telefone “serve somente para assuntos internos”.
DESENCONTROS NA SAÚDE
Como parte importante da apuração – afinal, casos que envolvem saúde podem exigir urgência, muitas vezes – a reportagem buscou contato com duas unidades médicas: a UPA (Unidade de Pronto Atendimento), da Rodovia Prefeito Abeilard Goulart de Souza; e o Hospital Municipal São Francisco Xavier.
Sobre a UPA, não há número de contato no “Telefones e Ramais” no site da prefeitura. Com a Central, foi possível obter a informação sobre os ramais 4978 e 4999, que não funcionaram. Depois de várias tentativas, um atendente do Hospital São Francisco Xavier informou o seguinte número: 3782-9027.
Esse telefone até funciona, mas uma atendente informou que a prioridade do número é para que a assistente social faça contanto com parentes para dar notícias de pacientes. Entretanto, é possível, sim, ligar para o 3782-9027 e obter informações, como lotação, por exemplo.
HMSFX
Já para o São Francisco Xavier, há três contatos no site da prefeitura. Na Enfermagem, houve atendimento, mas os profissionais não tinham como transmitir informações. Na “Recepção 1”, não houve atendimento. Tudo fica ainda pior depois do fim do expediente no telefone central, o 3782-9000, já que só é possível falar com esses dois setores por ramais. Ou seja, o morador de Itaguaí – ou visitante – que tiver uma emergência à noite, não consegue contato com o hospital e nem com a UPA caso tente o 3782-9000.
No “Telefones e Ramais”, consta um único departamento do São Francisco Xavier que não é refém do final 9000. Trata-se do NIR (Núcleo Interno de Regulação), que atende no 3782-9010. Funciona à noite, mas não é o meio ideal para atendimento ao público – o “I” de “Interno” já aponta para isso.
O contato da reportagem com o NIR aconteceu nove vezes. Só em uma não houve atendimento. Mas em uma das ligações um telefonista contou que adquirir informação com o departamento pode depender da sorte. Ele explicou que alguns atendentes passam à população alguns dados, como, por exemplo, se um parente da pessoa que ligou está internado lá. Mas, segundo ele, outros profissionais podem se recusar a fazer o mesmo.
O melhor setor para fornecer tais informações seria a administração da unidade. Só que nesse caso, o problema é o mesmo: o setor só atende até às 17h.
Ainda sobre o Hospital Municipal São Francisco Xavier, ele está na lista do “Telefones e Ramais” do site da prefeitura. Só que a unidade aparece por meio da sigla HMSFX. Ou seja, se o cidadão não tiver tempo para olhar um por um as dezenas de números listados e usar o “Ctrl+F” do teclado para agilizar a busca, não vai conseguir. Afinal, não está no catálogo a palavra “hospital” – “Francisco” até está, mas relacionada ao Cemitério São Francisco.
SEM RETORNO
Diante de tantos problemas, a reportagem explicou o motivo desta matéria a uma das telefonistas da Central que nos atendeu. Ela disse que a maioria da população não busca esses vários contatos, e prefere ligar para a própria Central quando quer ajuda.
Já a prefeitura, por meio da assessoria de comunicação, não havia retornou o contato por e-mail dentro do prazo estipulado para resposta.
“ESTE NÚMERO NÃO EXISTE”
O ATUAL também testou o atendimento telefônico da Câmara dos Vereadores de Itaguaí. O número exibido no site da Casa, o 2688-1136, não existe: uma gravação informa exatamente isso quando alguém tenta contato.
Por e-mail, a assessoria de comunicação da Câmara Municipal afirmou que o órgão já estava ciente do problema, e que “a concessionária responsável afirmou que não havia mais viabilidade e cancelou o número”.
Ainda de acordo com a comunicação da Câmara, “a instituição já ajuizou a empresa pedindo o retorno da linha e todas as providências estão sendo tomadas judicialmente para que o atendimento ao público externo por telefone possa ser retomado”.
A Casa ressalta, ainda, que a Ouvidoria para atendimento aos cidadãos segue em funcionamento por e-mail ou presencialmente. Mas, não explicou porque o número permanece no site para confundir ou atrasar quem precisa ou quer falar ao telefone com alguém na Casa de Leis Municipal.
CORPO DOS BOMBEIROS
Por fim, uma boa notícia: em todas as nossas ligações para o Corpo de Bombeiros, houve rápido atendimento. No site da corporação há o número 3781-1278, que pertence ao Destacamento Bombeiro Militar (DBM) 1/10, de Itaguaí.
Mas há um porém: um desencontro de informações. Alguns atendentes disseram à reportagem que a população pode usar o 3781-1278 para, por exemplo, avisar sobre um incêndio. Já outros afirmaram que o 193 – telefone central da corporação – é o número para chamadas de emergência.
A reportagem pediu esclarecimentos por e-mail à assessoria de comunicação do Corpo de Bombeiros, mas não houve retorno até o momento.