ENTREVISTA: Janaína Leão, digital influencer, moradora de Muriqui
O Jornal Atual conversou com a influenciadora digital Janaína Leão, moradora de Muriqui, que já coleciona mais de 12 mil seguidores que ela prefere chamar de amigos com os quais troca ideias. Na entrevista que segue ela fala de sua realidade na rede social, das metas que pretende alcançar e de sua determinação como defensora da condição feminina. “Empoderamento mesmo é a situação daquela que trabalha, cuida da casa e da família, é dona do seu destino e não tem medo de enfrentar a vida de peito aberto”, diz ela, de modo muitíssimo peculiar.
ATUAL – Quem é Janaína Leão?
Janaína Leão – Tenho 36 anos, sou auxiliar administrativa. Sou nascida e criada no bairro da Saúde, onde fica a primeira favela do Rio de Janeiro, a da Providência. Atualmente moro em Mangaratiba, no distrito Muriqui.
Você fez contato com o Atual por causa do seu trabalho como digital influencer no Instagram. Como você descreve a sua atuação por lá?
Eu entrei nessa onda de digital influência de brincadeira, porque sempre minhas amigas falavam que eu era boa em falar. Quando começou a quarentena, minha amiga Zamara Guimarães me indagou porque eu não tentava, que eu iria dar certo. Como não estava podendo sair de casa, aceitei o desafio. Falei que se em um mês eu não tivesse nenhum seguidor eu sairia.
Como tem sido sua trajetória?
Comecei do zero, no dia 16/05/2020, no Instagram, com o nome janaprincesadafavela. Eu ainda estava meio perdida, falando de tudo um pouco, até que tive uma orientação da assessoria Insight Agência de Marketing para descobrir qual era meu nicho. Quando descobrimos que meu forte era falar sobre empoderamento feminino, então segui essa linha, abordando sempre a valorização da mulher. Falo também sobre violência contra as mulheres e hoje já chegamos a 12,5 mil amigos. Digo que não são seguidores e, sim, amigos com os quais troco informações produtivas.
Em que já resultou a união dessa quantidade de amigos?
Após esse crescimento, a assessora e consultora Criscon viu meu perfil e gostou. Ela é assessora da cantora Perlla, do MC Duduzinho, do David Brasil, dentre outros. A minha intenção é me tornar uma palestrante, levando para vários lugares, principalmente as favelas, o quanto é importante o empoderamento feminino.
Como você define empoderamento?
Muitas mulheres acham que empoderamento é dinheiro. Empoderamento mesmo é a situação daquela que trabalha, cuida da casa e da família, é dona do seu destino e não tem medo de enfrentar a vida de peito aberto.
Você se baseou em pesquisa de mercado antes do início de fato?
Não. Eu entrei primeiro e quando vi que estava crescendo eu pesquisei. Você tem que ver o tanto de mensagem que recebo querendo conselhos. A Cris, que agora é minha assessora, foi quem viu meu perfil e achou que eu poderia ir mais longe.
O que a motivou a atuar nesse segmento?
Passei por muitos processos em minha vida, que fizeram com que eu me tornasse uma mulher forte. Após descobrir um tumor no temporal direito, eu precisava me manter firme e resolvi que não iria abaixar minha cabeça. Também tenho uma mulher em que me inspiro muito, a Kelly Nascimento. Ela foi criada pela mãe, que a teve na juventude, com 15 anos. A Kelly cresceu e foi à luta. Cursou duas faculdades, foi pro mundo e cresceu muito com profissional e mulher. Eu sempre quis ser como ela, de pulso firme, sem medo de nada, principalmente de homem.
Com quantas seguidoras você costuma conversar por dia?
Eu costumo conversar com 10 a 15 por dia. No começo eu procurava responder sempre a todas que começavam a me seguir, dizendo seja bem-vinda ao meu perfil, espero que você goste.
Como se relaciona com elas?
Eu troco informações, escuto ideias para trazer pro meu quadro e escuto um pouco quando elas têm algum problema e querem conversar. Algumas são de outros estados, como São Paulo, Ceará, Minas Gerais e Bahia. Eu já até ganhei presentes de um administrador pelo meu trabalho.
Você tem ideia da porcentagem de homens e mulheres que acessam seu Instagram?
Tenho pelo gráfico. São 66% de mulheres e 34% de homens.
Quais são suas metas e sonhos como influenciadora?
Quero me tornar uma palestrante, levar para quem precisa a importância de se amar em primeiro lugar. Fazer com que as pessoas entrem menos em depressão por não se enquadrarem no padrão de beleza que a sociedade impõe. Quero ser uma palestrante reconhecida por falar a linguagem popular, sem técnicas ou palavras difíceis. Quero que todos entendam de uma maneira muito clara o que estou passando de valor para eles.
E quando pretende começar a fazer palestras?
Eu já estou com 90% acertado, só esperando essa pandemia passar. A primeira será aqui em Muriqui, onde eu moro. Tenho feito cursos de palestrante.
Você já ganha dinheiro como influencer?
Ainda não. Estou me profissionalizando para que isso aconteça. Quero poder viajar e levar conhecimento às áreas menos favorecidas.
Você disse que várias mulheres entram em depressão por causa do padrão estético imposto pela sociedade e pela mídia. Você já teve contato com alguma seguidora que sofre de depressão?
Sim. Teve uma que já se mutilou por isso. E ela pensou até em se matar por não se achar bonita e pelo seu marido tê-la traído. Volta e meia ela me diz que tenho ajudado muito a ela. Hoje ela já faz até vídeos em que fala sobre autoestima. Hoje ela está superando. Vejo que ela está melhor, posta fotos sempre lindas e faz vídeos passando mensagens positivas para outras mulheres.
Você já teve/tem algum contato com a área da psicologia para poder falar sobre assuntos delicados na sua atuação?
Sim, com a doutora Mayra. Ela está até fazendo lives comigo, uma semana sim outra não.
E o que você costuma usar de informação que a doutora Mayra passa nas lives e em conversas contigo?
Eu vi um vídeo em que ela falava sobre relacionamento abusivo e isso me inspirou a fazer um vídeo relatando esse abuso. Então fechamos uma parceira de fazer as lives.
Pretende fazer eventos presenciais com seus seguidores além das palestras?
Futuramente sim. Quem sabe!
O que a quarentena te trouxe de benefícios?
A sensibilidade de entender mais o que as pessoas estão passando.
E o que ela mudou na sua rotina?
Na verdade, só nas minhas atividades físicas, porque não sou muito de sair. Como eu não tinha mais atividade física eu fui investir como influência digital.
Quem você admira e se inspira para atuar como influenciadora?
Laís Oliveira, Mariana Gouveia e a Belamuri.
Já teve contato com elas?
Sim com a Mariana Gouveia e a Belamuri. Elas são super humildes.
Você leva essa filosofia ao time de futebol?
Então, eu não falo muito do futebol lá porque a gente tem a página do futebol, então nessa minha outra página eu falo mais sobre empoderamento feminino e a valorização das mulheres, para não misturar muitas coisas.
Como te encontrar nas redes?
A minha assessora até trocou meu arroba. Eu continuo usando Jana Princesa da Favela, mas para me encontrar é pelo @jannaleao