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“Prefiro ir a pé”: passageiras criticam serviço de ônibus em Mangaratiba

Redução na renda mensal e até mudança de cidade. Estes são alguns dos impactos atualmente na vida de quem reside em Mangaratiba e depende do transporte público. Mais precisamente de ônibus e vans.

A partir de relatos em redes sociais dando conta de uma insatisfação com o valor das passagens, o ATUAL procurou duas moradoras de Mangaratiba que dependem quase que diariamente dos coletivos para se deslocar para outras cidades e até dentro do próprio município. E a reação de ambas revelou que o descontentamento não se limita a cifras, mas à prestação do serviço de um modo geral.

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PASSAGEM PESA NO BOLSO

Sobre o valor das passagens, uma das entrevistadas (que pediu anonimato) disse usar a linha Muriqui x Conceição de Jacareí de seis a sete vezes por semana, por conta do trabalho como doméstica. De acordo com ela, que mora na Praia do Saco, é possível fazer o trajeto com os ônibus da Autoviação Reginas ou com as vans da Cootam (Cooperativa de Transporte Alternativo de Mangaratiba).

Ainda segunda a passageira, de 27 anos, houve um aumento, entre 2022 e 2023, que fez a passagem do ônibus saltar de R$ 6,25 para R$ 7,25, e da van, de R$ 4,50 para R$ 6. Devido aos reajustes, ela conta que sua renda mensal diminuiu porque o volume de trabalho já não é mais o mesmo:

“Infelizmente, estou tendo queda nos meus serviços pois os clientes que me contratam é que pagam a passagem, de ida e de volta. E fica puxado para eles”

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Moradora de Coroa Grande

A jovem detalha a queda brusca na frequência das faxinas: de 15 por semana para cinco ou seis. Assim, é natural a preocupação com outra queda: a de compras para casa.

A diarista compartilha sua preocupação: “Meu maior medo é que os clientes não me chamem mais para fazer faxinas por conta do preço das passagens. E eu dependo das minhas faxinas para pagar as despesas de casa e até mesmo as coisas das minhas filhas”.

“VIAÇÃO CANELA”

Exatamente por essa necessidade de economizar, ela ressalta que vez ou outra abre mão de se deslocar sobre quatro rodas: “Quando alguns trabalhos são perto, como no Centro de Mangaratiba, prefiro ir a pé para não ter mais gastos. Minhas caminhadas mais longas até hoje foram para Itaguaí, que levou 40 minutos, e Itacuruçá, que levou 30”.

Já a outra passageira que conversou com a reportagem (e também pediu para não ser identificada) explica que sua principal necessidade de transporte público é se dirigir até Itaguaí, de onde parte rumo à faculdade em que cursa Psicologia em Nova Iguaçu. Para este deslocamento rotineiro e outros pontuais, ela usa os serviços também da Reginas e da Cootam, além do Grupo Ponte Coberta.

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Há algum tempo, a condução em Fazenda Ingaíba, onde reside, é muito escassa – segundo a moradora há um ônibus gratuito que a prefeitura banca, mas que passa a cada três horas e somente até as 17h.

Mas dos tempos que havia transporte mais regular, e com cobrança de passagem, ela reduzia os gastos na base da popular “viação canela”: “Muitas vezes andava de casa até a Rio-Santos (BR-101) para pagar só uma passagem”, revela a mulher, de 42 anos, detalhando o tempo que leva nessa caminhada: “Uns 40 minutos, porque moro mais abaixo”.

DEMAIS PROBLEMAS

Agora, com um transporte público que não atende às necessidades, ela pretende deixar Mangaratiba: “A prefeitura fornece ônibus para a faculdade, mas ele só passa na Rio-Santos. Para Ingaíba, onde moro, tem que ir a pé. Não temos transporte aqui, e é por isso que vou me mudar no fim do ano”, desabafa a moradora, sugerindo uma opção para a localidade: “Poderiam colocar uma kombi”.

A propósito, a mudança será para Belford Roxo, município mais próximo a Nova Iguaçu, onde fica a faculdade. É que os longos intervalos entre as viagens em Ingaíba também complicam a sua frequência na sala de aula: “Tenho que sair de casa antes do necessário para não perder o ônibus. E na volta, se perder a condução, não tem como ir embora”, lamenta.

O transporte deficiente em seu bairro, porém, não é o único desafio. A passageira destaca que o serviço de um modo geral é “precário” em todo o município, com direito a “chuva” dentro do coletivo: “Os ônibus são horríveis. A última vez que pegamos um da Reginas, a caminho de Itaguaí, estava chovendo dentro do ônibus. A água caía pelo ar-condicionado”, enfatiza ela, lembrando que a filha adotiva estava no momento:  

“Os bancos estavam todos molhados. me deu até nojo de sentar, mas precisei sentar porque estava com a bebê no colo”

Moradora de Fazenda Ingaíba

CADÊ O MOTORISTA?

Outro momento curioso – e também perigoso – que a passageira vivenciou com a família ocorreu em Muriqui. Em determinado momento da viagem, a van, com adesivo da Cootam, sofreu uma pane na Rio-Santos. Como a situação já não fosse desagradável o suficiente, o motorista ainda decidiu ir embora, abandonando veículo e passageiros, que precisaram ir para a calçada esperar um outro carro.

A entrevistada conta que entrou em contato com a Cootam, que teria dito que a van em questão não era cooperativada, o que poderia causar um grande problema para ela: “Se a Cootam deixa carro que não é legalizado rodar e não faz fiscalização… E eu com a bebê recém-nascida, em processo de adoção… Se acontecesse alguma coisa com a criança, eu e meu esposo estaríamos presos”.   

Após a van que seria da Cootam enguiçar, a passageira precisou esperar um outro veículo na calçada ao lado do marido e da filha (Arquivo pessoal)

AS RESPOSTAS

Diante dos depoimentos das moradoras, o ATUAL procurou as empresas citadas para se pronunciarem, sobretudo, sobre os valores vigentes das passagens. O Grupo Ponte Coberta se limitou a dizer que segue a determinação da portaria 1748/2023 do Detro (Departamento de Transportes Rodoviários do Estado do Rio de Janeiro) e que a linha 450T (Itacuruçá x Mangaratiba) opera com frota 100% refrigerada.

Ainda sobre a 450T, em uma reportagem de agosto, a empresa havia respondido sobre um reajuste. Quem usa o serviço paga R$ 5,75 se saltar antes do Max Shopping (Nova Iguaçu) e R$ 11,30 se descer após o centro comercial. Segundo a Ponte Coberta, o encarecimento é consequência da cobrança do pedágio na altura do km 414 da Rio-Santos, altura de Itaguaí.

Já a Cootam comunicou que o último reajuste ocorreu em 2022, por conta do aumento dos preços de combustível, pneus e peças de reposição. Sobre valores, a diretoria destacou que a tarifa da linha Muriqui x Conceição de Jacareí passou de R$ 5 para R$ 6 – o que não bate com o que a moradora que trabalha como diarista informou, de que pagava R$ 4,50.

Sobre o episódio do motorista que abandonou uma van enguiçada na Rio-Santos, a Cootam confirmou o ocorrido e disse que puniu o profissional com um afastamento de três dias. A diretoria, no entanto, garantiu desconhecer que tenha sido procurada pela passageira e que tenha alegado que o veículo não pertencia à cooperativa.

A Autoviação Reginas não se pronunciou.

Luiz Maurício Monteiro

Repórter com mais de 15 anos de trajetória e passagens por diferentes editorias, como Cidade, Cultura e Esportes.

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