Em 34 dias, CPIs da Câmara de Itaguaí não avançaram: pouco ou nada se sabe
Lá se vão 34 dias desde que os vereadores de Itaguaí aprovaram – a pedido do presidente da Câmara Municipal de Itaguaí (CMI), Gil Torres – a formação de duas comissões parlamentares de inquérito (CPIs). Objetivos: saber de onde partiram as ameaças do tráfico de drogas ao presidente (se é que aconteceram) e como ocorreu o furto dos notebooks comprados pela prefeitura para atender a secretaria municipal de Educação. Desde 8 de fevereiro, quando as comissões foram aprovadas por unanimidade em plenário, pouco ou nada se sabe. Apenas um depoimento ocorreu: o do Capitão André Luis Araújo Monteiro, da 5ª Companhia (24º Batalhão da Polícia Militar), no dia 19 de fevereiro.
ENTENDA AQUI A CRIAÇÃO DAS CPIS: https://jornalatual.com.br/carta-misteriosa-e-roubo-de-notebooks-motivam-criacao-de-cpis-na-camara/
VEJA AQUI O PRIMEIRO DEPOIMENTO DA CPI 001, SOBRE AMEAÇAS AO
PRESIDENTE GIL TORRES: https://www.facebook.com/watch/live/?ref=watch_permalink&v=897559650915105
Caso as investigações das CPIs tenham avançado, elas não têm sido relatadas para a população, pois não há um canal oficial que delas se possa saber. O ATUAL tem sido ignorado pela Câmara desde que as comissões foram criadas.
O presidente Gil Torres declarou diversas vezes que não abre mão da transparência, e garantiu que os depoimentos terão transmissão ao vivo pelo Facebook ou pelo YouTube.
Ocorre, porém, que desde 19 de fevereiro (há 23 dias) nenhum depoimento foi tomado.
Sim, pode ter havido avanço, solicitação e remessa de documentos, várias reuniões entre os membros das comissões, diligências etc. Mas, se tudo isso ocorreu, de nada se sabe.
A julgar pela falta de depoimentos transmitidos ou de anúncios oficiais, ambas as comissões não avançaram nem um milímetro. Some-se a isso a falta de resposta sobre as solicitações, feitas pelo ATUAL, de entrevista aos presidentes das CPIs – Haroldo Jesus e Vinícius Alves – e tem-se um quadro atípico que motiva a seguinte pergunta: o que as CPIs têm feito para elucidar dois assuntos extremamente importantes em Itaguaí?
CPI 001/2022
A CPI que trata das ameaças, supostamente do tráfico de drogas, ao presidente Gil Torres, não tem qualquer novidade desde o dia 19 de fevereiro. De lá para cá, nada aconteceu, ou nada parece ter acontecido. Pelo menos não houve transmissão de depoimentos, e se algum ocorreu, não foi noticiado. Uma fonte disse à reportagem que um novo depoimento seria tomado na última sexta-feira (11), mas nada foi publicado a respeito no site ou Facebook da Câmara. Problemas técnicos inclusive cancelaram a última sessão, no dia 10 de março.
Há várias perguntas sem resposta já levantadas pelo ATUAL. Uma carta teria sido entregue na Câmara, endereçada a Gil Torres, que poderia dar uma pista sobre os boatos que culminaram em supostas ameaças. O próprio presidente contou durante uma sessão que recebeu a carta. Mas não há nada que sugira uma investigação específica a respeito. Não houve sequer uma foto publicada com o envelope e o papel, o que poderia ajudar a identificar o autor. Não há comentários sobre um possível registro da pessoa que entregou a carta na CMI no circuito interno de câmeras ou algo parecido.
A CPI 001 convocou até agora apenas o Capitão André, que foi o Comandante da 5ª Cia do 24º Batalhão de Polícia Militar há alguns meses. O depoente contou aos membros da CPI no dia 19 de fevereiro que as ameaças tinham forma de boatos, que ele comunicou ao delegado da 50ª DP o que comentavam e que é praxe autoridades receberem ameaças em função do cargo que ocupam.
Para quem quis entender de onde partiram as ameaças ao presidente Gil Torres, o depoimento do Capitão não foi muito útil, e talvez não tivesse como ser. De lá para cá, nenhuma outra convocação foi anunciada e nada foi dito à imprensa ou à população.
CPI 002/2022
A CPI que investiga o roubo dos notebooks comprados pela prefeitura para a secretaria de Educação avançou menos ainda: não conseguiu sequer ouvir o primeiro depoente, Ricardo Oliveira. Por que os vereadores da comissão querem ouvir este depoente? Ninguém sabe, porque nada foi dito à imprensa ou à população de Itaguaí.
Tão misterioso quanto os fatos que motivaram a criação da CPI 001, o contexto que envolve o roubo de equipamentos valiosos (comprados com dinheiro público) de dependências da secretaria permanece sem o mais leve indício de elucidação.
Ao fim da sessão que receberia o primeiro depoente da CPI 002, o presidente Haroldo Jesus marcou uma data que já tinha acontecido no tempo e no espaço: 17 de janeiro. Como ainda é impossível voltar ao passado, o ATUAL perguntou à assessoria da CMI qual era a nova data marcada para o depoimento, e recebeu a resposta: 25 de fevereiro. Como o depoente mais uma vez não compareceu, tudo fica na mesma, ou seja, no ponto zero.
Entre 25 de fevereiro e a data da publicação desta matéria – 14 de março – são 20 dias em que nada aconteceu nesta comissão: nada revelado, nenhuma relação de depoentes com os objetivos de investigação, nada de entrevista com o presidente.
Algo que destoa bastante, por exemplo, das comissões que cassaram os mandatos do agora ex-prefeito Carlo Busatto Junior (o Charlinho) e o vice dele, Abeilard Goulart de Souza Filho (o Abelardinho), em julho de 2020. Na ocasião, o atendimento à imprensa era praticamente diário, e sem restrições aos relatores e até mesmo aos presidentes das comissões.
SEM ENTREVISTAS OU ACESSO
O ATUAL tenta, sem sucesso, entrevistar os vereadores que compõem as comissões, em particular seus presidentes – Haroldo Jesus e Vinícius Alves. Em uma das sessões antes do Carnaval, a reportagem foi impedida de entrar no plenário para acompanhar o ritual legislativo, e não foi recebida pela Secretaria de Comunicação da Câmara.
A imprensa e a população seguem sem saber quais serão os desdobramentos das comissões que atuam em prol do esclarecimento público. Mas talvez seja preciso antes esclarecer como funcionam as comissões, para que delas se saiba o que afinal tem sido investigado e assim os suspeitos sejam indicados à justiça, conforme diz a lei. É para isso que as CPIs existem.
Vale lembrar que, de acordo com o Regimento Interno, as CPIs devem encerrar seus trabalhos em 120 dias. Um quarto desse prazo, portanto, já se foi.