PT registra no TSE duas atas diferentes de pré-candidatura em Itaguaí
Em uma, apoia Gil Torres com vice Marco Barreto; em outra, apoia Luciano Mota com vice Paulo Wesley. Presidente do PT de Itaguaí fala em “traição” de Barreto
A promessa de Gil Torres (PRD) de anunciar o vice que vai compor a sua chapa na pré-candidatura a prefeito não aconteceu na última terça-feira (6) conforme ele prometeu. O motivo pode ser um nó que o diretório estadual do Partido dos Trabalhadores (PT) deu e que se configura numa situação política bem controversa: hoje o PT tem duas atas de convenção diferentes registradas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), apesar do mesmo nome da Federação (partidos que se unem para a eleição): “Brasil da Esperança – Fé Brasil”.
Uma, datada do dia 4 (domingo), escolhe como pré-candidatos a prefeito de Itaguaí e vice, respectivamente, o ex-prefeito Luciano Mota e o médico Paulo Wesley. Nesta ata o ex-vereador Marco Barreto (eleito em 2012, cumpriu um mandato) figura como pré-candidato a uma cadeira do Legislativo.
Outra, datada do dia 5 (segunda-feira, último dia determinado pela legislação), oficializa o apoio do PT ao candidato do PRD, Gil Torres, a prefeito de Itaguaí, e anuncia Barreto como candidato a vice.
A primeira foi registrada pelo diretório municipal do PT; a segunda, pelo diretório estadual.
O racha no PT não é exclusividade de Itaguaí: há situações semelhantes em Vassouras, Teresópolis, São João de Meriti, Rio Bonito, Saquarema e Iguaba.
A executiva estadual do PT RJ tem colecionado atritos com as representações municipais porque decidem apoiar candidatos que desagradam os petistas locais.
Marco Barreto como vice?
O Atual tenta contato com Gil Torres desde a terça-feira (6) para obter dele a informação que ele prometeu, a de que anunciaria o vice antes de quarta (7).
A decisão, porém, parece já ter ocorrido e não foi (ainda) divulgada, a julgar pela ata que o diretório estadual registrou com o apoio à pré-candidatura de Gil e a oficialização de Barreto como vice. Para o diretório estadual do PT, portanto, o vice de Gil Torres é o ex-vereador.
A convenção que resultou nessa ata, que teria sido realizada no dia 5 de agosto, não foi divulgada pelo PT-RJ à imprensa, mesmo depois do Atual levantar a questão na sexta-feira (2). Na segunda (5), o diretório estadual fez a convenção e não emitiu comunicado, apesar da situação política dúbia.
Nesse caso, se tivessem divulgado à imprensa, não teria sido necessário Gil Torres prometer anunciar o vice da sua chapa dois dias depois, pois a informação já seria de conhecimento amplo.
Portanto, entre os dias 2 e 5 de agosto, decisões e providências foram tomadas pela Executiva Estadual do PT, à revelia da representação municipal e sem divulgação para a imprensa.
A reportagem entrou em contato também com Marco Barreto por telefone, ainda na noite desta quarta-feira (7), mas ele não atendeu as ligações. A julgar pela ata que o PT estadual registrou, Barreto desistiu de tentar voltar à Câmara e decidiu tentar ser eleito vice-prefeito na chapa de Gil Torres. Cabe ao ex-vereador confirmar ou não, pois o eleitor precisa saber se vota nele para a vereança ou para o cargo de vice-prefeito.
A suposta decisão, porém, desagradou em cheio alguns correligionários. Marcos Garcia, presidente do PT de Itaguaí, disse com exclusividade ao Atual: “o grupo de Luciano Mota não esperava uma traição dessa de Marco Barreto. Como dizia o saudoso Ulisses Guimarães, a política ama a traição, mas odeia o traidor”. Mesmo que haja tentativas de desatar o nó, a pré-candidatura de Barreto a vereador parece já ter sido comprometida.
Garcia, em declaração ao Atual ainda na sexta-feira (2), já havia preconizado o apoio do PT estadual a Gil Torres. Ele comentou: “Por que será que eles querem apoiar um inelegível?”.
Gil Torres, como é de conhecimento geral, ainda tem um considerável entrave jurídico que coloca a sua pré-candidatura em estado de atenção: seu mandato de vereador foi cassado da Câmara e como consequência ele foi declarado inelegível por 8 anos, decisão que ainda está em vigor até este momento.
No domingo (4), Gil disse ao Atual que estava confiante na homologação da sua candidatura pelo TSE, e que em breve sua situação jurídica mudaria.
O Atual também procurou o diretório estadual do PT para pedir posicionamento sobre a situação controversa que se criou com duas atas registradas, mas até o momento não recebeu resposta. Quando a receber, será aqui incluída.