Sem desbloqueio de recursos, Universidade Rural “não chegaria” ao fim do ano, admite Reitor
Quando saiu na mídia no dia 30 de setembro – antevéspera do primeiro turno das eleições – que o Ministério da Economia determinara ao Ministério da Educação a suspensão do repasse de R$ 2,4 bilhões a instituições federais de ensino, reitores de universidades Brasil afora temeram pelo pior. Por exemplo, Roberto de Souza Rodrigues, que está à frente da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) há um ano e meio, acredita que as atividades nos quatro campi em Seropédica não chegariam ao fim de 2022 se não fosse um desbloqueio recente. A iniciativa veio a público pelo próprio ministro da Educação, Victor Godoy, há duas semanas – manobra esta que seria consequência da repercussão ruim que o bloqueio teve, o que poderia impactar negativamente a candidatura de reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL).
O professor Roberto de Souza Rodrigues fez tal declaração em entrevista ao ATUAL, na qual deu também detalhes sobre a situação financeira de momento da Rural: “Sem esse recurso, a universidade não chegaria ao fim do ano. Agora, com o desbloqueio, a expectativa é de que chegue. Estamos fazendo uma gestão de eficiência, organizando as finanças da melhor maneira para que seja possível cumprir até dezembro”, torce o professor, que fica na Reitoria até meados de 2025.
O recurso ao qual o Reitor se refere corresponde a cerca de R$ 3,5 milhões que cabem à Rural dos R$ 2,4 bilhões desbloqueados – cujos destinos, além de universidades, são colégios federais e os Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior).
Com esse montante, o alívio poderia ser maior. Mas não é por conta de um corte que o Ministério da Economia efetuou, no primeiro semestre, equivalente a R$ 5 milhões. Desta maneira, o total anual que a Lei Orçamentária aprovou e o Governo Federal liberou, no primeiro quadrimestre, caiu de R$ 60 milhões para R$ 55 milhões.
RACIONALIZAÇÃO
Consequentemente, a média de gastos mensais – com questões infraestruturais como colégio técnico, assistência estudantil, restaurante universitário, manutenção predial e alojamento –, que girava em torno de R$ 5 milhões, precisou passar por uma readequação: “Combustível, diárias, passagem… Tudo o que deu para racionalizar, a gente racionalizou. Inclusive, diminuímos a oferta de bolsas a novos alunos para que pudéssemos manter os que já estão dentro da universidade”, explica o reitor.
Apesar das adversidades, no entanto, a Universidade Rural não está no vermelho: “As contas estão pagas”, assegura o professor Roberto Rodrigues, lembrando que apenas a despesa com o fornecimento de água não está em dia. Mas não necessariamente por falta de verba. “Tínhamos uma ação contra a Cedae e pagávamos em juízo. Depois que a Rio+Saneamento assumiu, recebemos uma cobrança que consideramos irreal. E agora, estamos tentando entrar em um acordo”.
2023 PODE SER PIOR
Entretanto, mesmo com o desbloqueio recente e as contas em dia, o reitor não se tranquiliza. Segundo ele, a expectativa para 2023 não é boa, independentemente do resultado nas urnas no próximo dia 30: “O resultado eleitoral dá perspectivas, pode refletir nosso trabalho para os próximos quatro anos. Mas qualquer cenário se mostra complicado. Até o momento, o orçamento para o ano que vem já prevê um corte de cerca de 12% em relação ao que tivemos neste ano. Então, se 2022 foi difícil, 2023 será ainda mais”, lamenta.
Outro motivo que faz o professor Roberto Rodrigues se lastimar é um corte que acontece fora da Rural: “É no Ministério de Ciência e Tecnologia, o que acaba afetando a gente na questão das bolsas para pós-graduação, doutorado e mestrado. É o ministério que financia essas bolsas de estudo. E no geral, isso afeta o setor de pesquisas em todo o país”, complementa.