Porto de Itaguaí é o preferido de milicianos e traficantes, afirma portal de notícias
Em setembro de 2021, policiais civis e federais descobriram um contêiner onde estavam 1,5 mil mangas que, em vez de caroços, guardavam bexigas com cocaína. O destino da carga de 641,5 kg – avaliada em R$ 200 milhões – era o Porto de Itaguaí. Este material não chegou lá, mas outros vários, sim, o que motivou o portal de notícias UOL a publicar uma matéria especial sobre o assunto.
Logo no primeiro parágrafo, a reportagem se refere ao Porto de Itaguaí como “o nº 1 na preferência de milicianos e traficantes do PCC”. A sigla PCC significa Primeiro Comando da Capital, facção criminosa baseada em São Paulo, mas com alcance nacional.
Ela era a responsável pela carga de mangas e por muitas outras que passaram pelo ancoradouro itaguaiense antes de tomar os mais diversos destinos mundo afora – inclusive, países da Europa.
Além de milicianos e integrantes do PCC, traficantes cariocas também colocam o Porto de Itaguaí no seu roteiro. Funcionários da Receita Federal disseram ao UOL que estes bandidos costumam descarregar drogas de embarcações ancoradas na Baía de Sepetiba e utilizam canais da foz do Rio Guandu para levar a mercadoria para a favela de Antares, em Santa Cruz, e outras da região.
RECEITA DE OLHO
Segundo o UOL, os negócios destes criminosos fluíram com facilidade por muitos anos no Porto de Itaguaí, com embarque e desembarque não só de drogas, mas de outros materiais ilegais, como piratarias de aparelhos eletrônicos, relógios e roupas. Ainda de acordo com a reportagem, tal panorama começou a mudar depois que a Receita Federal 2018 passou a atuar mais de perto.
Como resultado dessa vigilância mais ostensiva, descreve a matéria, é possível avistar cerca de 500 contêineres em um dos pátios do porto, todos repletos de cargas ilícitas. Só em 2022, já houve apreensão de 700 kg de cocaína e 3,5 mil toneladas de outros produtos.
E se a contagem abarcar os últimos cinco anos, como destaca a reportagem, a Receita já confiscou 22,4 mil toneladas de mercadorias ilegais. Em comparação com o Porto de Santos, o maior da América Latina, foram cinco mil toneladas a mais. Já em cifras, as apreensões em Itaguaí estão estimadas em R$ 1,4 bilhão contra R$ 1 bilhão em Santos.
Em entrevista ao portal, Raul dos Santos Gomes Pereira, chefe-substituto da Coordenação Especial de Gestão de Riscos Aduaneiros da Receita Federal, lembra o alto volume de embargos no Porto de Itaguaí: “Por meses, a gente ia apontando os contêineres e, de cada quatro, três tinham apreensões. São taxas, no contexto nacional, completamente fora do normal”.
COMBATE AO “GATONET“
Dentre os materiais recordistas de apreensões, um dos que mais colaboram para os altos números do Porto de Itaguaí, de acordo com a matéria, é a TV Box, aparelho que criminosos usam para piratear sinal de TV por assinatura. Esses equipamentos entram, por exemplo, no esquema conhecido como “gatonet”, serviço clandestino que a milícia opera nas comunidades do Rio de Janeiro sobre as quais tem controle.
A matéria do UOL diz que operações da Receita e da Polícia Civil capturaram mais de 1 milhão de TVs Box no Porto de Itaguaí entre 2020 e 2021. Já no geral, neste mesmo intervalo de tempo, a estimativa é de que a atuação das grandes quadrilhas teria caído de 45% para 10%.
Assim, as autoridades acreditam estar no caminho certo para o enfraquecimento progressivo da rota do tráfico no Porto de Itaguaí. Inclusive, Élcio Ferreto da Silva, delegado da Receita responsável pelo porto, garante na matéria que o crime já sentiu o golpe: “Foi estancada a sangria”.