Carne vermelha processada pode aumentar o risco de demĂȘncia

A carne vermelha Ă© uma proteĂ­na presente no prato de boa parte da população. No entanto, conforme o estudo “Long-Term Intake of Red Meat in Relation to Dementia Risk and Cognitive Function in US Adults“, publicado na Neurology, periĂłdico da Academia Americana de Neurologia, pessoas que comem mais carne vermelha, especialmente a processada, como bacon, salsicha, frios e mortadela, tĂȘm maior probabilidade de ter declĂ­nio cognitivo e demĂȘncia quando comparadas Ă quelas que comem menos.

“Nos Ășltimos anos, tem surgido muita desinformação e um maior estĂ­mulo ao consumo de carne vermelha. Esse Ă© um alimento importante, mas nĂŁo deve ser a base da alimentação. A carne vermelha Ă© rica em gordura saturada e jĂĄ foi demonstrado em estudos anteriores que, em excesso, aumenta o risco de diabetes tipo 2 e doenças cardĂ­acas, que estĂŁo ambos ligados Ă  redução da saĂșde cerebral”, explica a nutrĂłloga Dra. Marcella Garcez, diretora e professora da Associação Brasileira de Nutrologia. 

Como foi realizado o estudo

Para examinar o risco de demĂȘncia, os pesquisadores incluĂ­ram um grupo de 133.771 pessoas com idade mĂ©dia de 49 anos que nĂŁo tinham demĂȘncia no inĂ­cio do estudo. Elas foram acompanhadas por atĂ© 43 anos. Desse grupo, 11.173 pessoas desenvolveram demĂȘncia. 

Os participantes preencheram um diĂĄrio alimentar a cada dois a quatro anos, listando o que comiam e com que frequĂȘncia. Pesquisadores definiram carne vermelha processada como bacon, salsicha, salame, mortadela e outros produtos de carne processada. Eles estabeleceram carne vermelha nĂŁo processada como carne bovina, suĂ­na, cordeiro e hambĂșrguer. Uma porção de carne vermelha processada tinha 85 g, aproximadamente o tamanho de um baralho de cartas. 

O grupo baixo comeu uma mĂ©dia de menos de 0,10 porçÔes por dia (menos de 60 g por semana); o grupo mĂ©dio comeu entre 0,10 e 0,24 porçÔes por dia (entre 60 g e 143 g por semana); e o grupo alto, 0,25 ou mais porçÔes por dia (ou mais de 144 g por semana). “ApĂłs ajustar fatores como idade, sexo e outros fatores de risco para declĂ­nio cognitivo, os pesquisadores descobriram que os participantes do grupo alto tinham um risco 13% maior de desenvolver demĂȘncia em comparação com aqueles do grupo baixo”, diz a Dra. Marcella Garcez.  

Ilustração de cabeça humana em formato de quebra-cabeça faltando 3 peças que estão soltas ao lado, as peças são brancas e o fundo da imagem azul
O declínio cognitivo subjetivo também foi maior para aqueles que consumiam mais carne vermelha processada (Imagem: AtlasStudio | Shutterstock)

DeclĂ­nio cognitivo subjetivo

Para medir o declĂ­nio cognitivo subjetivo, os pesquisadores analisaram um grupo diferente de 43.966 participantes com idade mĂ©dia de 78 anos. “O declĂ­nio cognitivo subjetivo ocorre quando uma pessoa relata problemas de memĂłria e pensamento antes que qualquer declĂ­nio seja grande o suficiente para aparecer em testes padrĂŁo. O grupo com declĂ­nio cognitivo subjetivo respondeu a pesquisas avaliando suas prĂłprias habilidades de memĂłria e pensamento duas vezes durante o estudo”, explica a mĂ©dica. 

O declĂ­nio cognitivo subjetivo tambĂ©m foi maior para aqueles que consumiam mais carne vermelha processada. “ApĂłs ajustar fatores como idade, sexo e outros fatores de risco para declĂ­nio cognitivo, os pesquisadores descobriram que os participantes que comeram uma mĂ©dia de 0,25 porçÔes ou mais por dia (ou mais de 144 g por semana) de carne vermelha processada tiveram um risco 14% maior de declĂ­nio cognitivo subjetivo em comparação com aqueles que comeram uma mĂ©dia de menos de 0,10 porçÔes por dia”, explica a Dra. Marcella Garcez. 

Os pesquisadores tambĂ©m descobriram que pessoas que comiam uma ou mais porçÔes de carne vermelha nĂŁo processada por dia tinham um risco 16% maior de declĂ­nio cognitivo subjetivo em comparação com pessoas que comiam menos da metade da porção por dia (menos de 300g por semana). 

Substituindo a carne vermelha processada

Para ajudar na prevenção do declĂ­nio cognitivo, a carne vermelha processada deve ser consumida com equilĂ­brio. “Definitivamente, a carne vermelha processada nĂŁo deve fazer parte da rotina alimentar. Ela pode ser consumida com moderação, em pequenas quantidades e esporadicamente”, diz a Dra. Marcella Garcez. 

Segundo a mĂ©dica, os pesquisadores descobriram que substituir uma porção por dia de carne vermelha processada por uma porção por dia de nozes e leguminosas foi associado a um risco 19% menor de demĂȘncia e 1,37 anos a menos de envelhecimento cognitivo. 

“Fazer a mesma substituição por peixe foi associado a um risco 28% menor de demĂȘncia e substituir por frango foi associado a um risco 16% menor de demĂȘncia. Ou seja, se a questĂŁo Ă© adequar o consumo proteico, essas opçÔes sĂŁo infinitamente mais saudĂĄveis para o cĂ©rebro”, constata a Dra. Marcella Garcez. 

Assim, diminuir o consumo de carne no dia a dia promove a saĂșde cognitiva. “Reduzir a quantidade de carne vermelha processada que uma pessoa come e substituĂ­-la por outras fontes de proteĂ­na animal, como carnes magras e nĂŁo processadas, ovos, laticĂ­nios e opçÔes baseadas em vegetais pode ser incluĂ­do nas diretrizes alimentares para promover a saĂșde cognitiva”, finaliza a nutrĂłloga. 

Por Maria Paula Amoroso

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