Itaguaí Rugby volta aos treinos e se prepara para calendário de competições

Imagine um esporte que tem como uma das principais ações defensivas dentro da partida uma “patada” no adversário. Sim, no Rugby, o “tackle” (ou investida – em tradução livre do inglês) é a melhor jogada para impedir que o outro time avance com a bola para marcar pontos. Agora reflita no tanto de contato físico que o esporte tem, isso no meio de uma pandemia em que a proximidade é o maior vetor de transmissão da Covid-19.

É por isso que o Itaguaí Rugby esperou, e teve que esperar bastante, para retomar a rotina de treinamentos. Parados desde março de 2020, a equipe voltou com os treinos somente no final de setembro, com o grupo todo praticamente vacinado com as duas doses. “Todo mundo voltou mais cheinho”, brinca o técnico Sidines Silva, um dos fundadores e hoje presidente da equipe.

A piada com a balança ajuda a descontrair o papo, mas Sidines fica mais sério quando fala dos meninos das categorias de base. “Muitos deles tinham a esperança de jogar pela seleção fluminense, que agora foi perdida”, explica.

A Confederação de Rugby do Rio até chegou a subir a categoria juvenil de 19 para 21 anos, para incentivar os atletas. O técnico, porém, não concorda que a medida seja o suficiente. “Alguns já estão na faculdade e agora não têm mais a chance e o tempo, além da forma física não ser mais a mesma”.

Quem teve essa oportunidade e saiu de Itaguaí para grandes clubes do país foi o atleta Caio Ferreira. Caio começou no Rugby no time juvenil de Itaguaí, quando recebeu a convocação da seleção carioca, e chegou a treinar com a seleção brasileira. “O Rugby por muito anos foi o que sustentou minha vida”, revela.

Até 2019 o atleta jogou pelo Serra Gaúcha, equipe do Rio Grande do Sul. Ele morava por lá e recebia uma estrutura financeira ainda inimaginável para os padrões fluminenses: “As universidades do estado investem bastante no esporte, cheguei a ter bolsa e ajuda de custo”, explica. A pandemia veio e ele decidiu voltar pro Rio: “Foi e está sendo difícil. Jogava num altíssimo nível, mas agora sigo animado com a volta aos treinos em Itaguaí”.

TREINAMENTOS

O retorno das competições a partir de janeiro motivou o grupo a ingressar com os treinos. Os atletas treinam todas as quintas-feiras, às 20h, na área da Expo, uma estrutura que não é exatamente a ideal para a prática do esporte, por ter um gramado mais curto que pode levar os atletas a sofrerem lesões. Segundo o técnico da equipe, a escolha é mais pela localização, já que fica bem na região central de Itaguaí e facilita para quem vem de muito longe.

Antes a equipe também utilizava para os treinamentos o campus da Rural, em Seropédica, só que o local fechou por causa da pandemia. Já para as competições, o Itaguaí Rugby tinha como casa o campo do Piranema Atlético Clube, também no município da Baixada, e Sidines aposta que o time voltará a jogar lá.

O clube pretende fazer três amistosos até o início das competições, em janeiro. O próximo acontece já em outubro, os outros dois em novembro e dezembro. A ideia é que os jogos ocorram no campo do Piranema.

POUCA TRADIÇÃO

No país do fanatismo futebolístico, é no mínimo curioso descobrir de onde surgiu o interesse por um esporte com pouquíssima tradição nacional. O Rugby até chegou cedo ao Brasil, ainda no final século XIX, poucas décadas depois do próprio futebol, dizem os historiadores do esporte. Mas não vingou, e até pouco tempo era até difícil encontrar transmissões de partidas internacionais.

O esporte chega a causar muita confusão para quem não o conhece. Na categoria de 15 jogadores por time (existe outra com 7), muita gente confunde o Rugby com futebol americano, outro esporte que tem pouca tradição no Brasil. Apesar de origens (e algumas regras) semelhantes, existem muitas diferenças.

Para bom entendedor bastam as regras mais simples: o jogo é disputado em 2 tempos de 40 minutos, os passes de bola no Rugby são feitos para os lados ou para trás, apenas com as mãos, e para a frente, apenas com os pés. Outra regra importante é o tackle: só pode derrubar o jogador que estiver com a bola.

Por fim, o que realmente importa: vence a equipe que fizer mais pontos. Existem três maneiras para pontuar: o try (quando a bola passa da linha do gol – linha do “H” na linguagem rugbiana), o chute de penalidade (quando o adversário comete uma falta grave) e o drop goal (quando se chuta a bola em direção à trave, que deve passar por cima do travessão horizontal).

ITAGUAÍ RUGBY

Mesmo com essas regras complicadas, Sidines gostou do esporte e se misturou com mais gente. Ele conheceu o Rugby aleatoriamente quando assistia a um canal esportivo na TV, e começou a espalhar para os amigos. Em 2009, juntou dois grupos e começou a brincar sem muita pretensão na Praia Brava, em Mangaratiba. “Do nada recebemos um convite de um time de Nova Iguaçu para jogar”, diz ele.

Desse dia para frente tudo correu muito rápido. Em 2010 ele já disputava a série B do campeonato estadual com o Itaguaí Rugby, e se sagrava campeão invicto no mesmo ano. Entre mais altos do que baixos, a equipe seguiu por muitos anos na elite do campeonato fluminense.

Atualmente, o Itaguaí Rugby tem como principal título a conquista da Copa Rio, em 2019. Sidines conta que o gostinho de vitória ficou ainda mais doce porque eles ganharam de uma das equipes favoritas: “Ganhamos do Rio Rugby na final, que depois do Niterói, é a equipe mais forte do Rio de Janeiro”, conta o hoje treinador com orgulho.

2014: CATEGORIA FEMININA

O Itaguaí Rugby desde 2014 também passou a ter uma equipe feminina. As mulheres estão sempre entre as melhores equipes do Rio de Janeiro nas competições. No estadual de Rugby de 7, elas abocanharam o 3º lugar duas vezes, em 2015 e 2019 – último ano da competição. Desde sua criação, a equipe sempre esteve entre as quatro melhores.

A atleta do Itaguaí Rugby, Karina Carvalho, chegou no time nos primeiros meses. A jogadora de 31 anos passou por todos aqueles perrengues iniciais de montagem de equipe, mas seguiu firme e hoje é capitã do time: “Por ser um esporte de pouca tradição, não recebemos muito apoio. Praticamente todos os anos que a gente se classifica para o (campeonato) brasileiro, mas sempre falta apoio para custear as viagens”, desabafa Karina.

As duas equipes, masculina e feminina, ainda funcionam numa lógica amadora (os jogadores não recebem salários). O Itaguaí Rugby sobrevive por meio do projeto Apoie-se e de patrocínios de lojas de materiais esportivos e academias, o que torna a rotina dos atletas mais difícil. Sidines explica que quando o time chegou ao classificatório para o Campeonato Brasileiro, os jogadores precisaram tirar do próprio bolso R$ 8 mil. “Eram só dois jogos e depois a federação entraria com recursos. Mas acabou que perdemos em dois jogos disputados”.

A continuidade da vacinação e o início da retomada das competições esportivas dão ao Itaguaí Rugby uma segunda chance de ingressar no campeonato nacional. Aos poucos, a equipe que já revelou jogadores para a seleção brasileira juvenil, e também da adulta, segue o rumo das vitórias.

Redação

O Atual atua desde 2001 em Itaguaí, Mangaratiba e Seropédica com notícias, informações e demais serviços jornalísticos, digitais e audiovisuais. Além disso, aborda ocasionalmente assuntos que envolvem também a Zona Oeste da capital do Rio de Janeiro. O Atual oferece matérias e vídeos em seu site e nas suas redes sociais, com o compromisso de imprensa legítima e socialmente responsável.

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