Itaguaí: “As Bruxas de Salem” é peça imperdível, e de graça, no Teatro Municipal

Um episódio de histeria em massa nos Estados Unidos durante o século XVII cujo contexto é extremismo religioso, ódio mal disfarçado, isolacionismo e senso deturpado de justiça. Este é o objeto central da peça “As Bruxas de Salem”, do dramaturgo nova-iorquino Arthur Miller (que muita gente lembra por ter se casado com Marylin Monroe), que a mais nova turma de teatro formada no Teatro Municipal Marilu Moreira, em Itaguaí, traz de graça para os itaguaienses nesta quarta-feira (21), às 18h30.

Arthur Miller escreveu a peça em 1953, baseado em fatos reais da caça às bruxas mais mortífera da história da América do Norte colonial.

A partir de fevereiro de 1692, em Massachusetts e Connecticut, mais de duzentas pessoas foram acusadas em tribunais por bruxaria, dentre elas Elizabeth Hubbard, de apenas 19 anos (outras mais jovens também foram julgadas e condenadas). Trinta foram consideradas culpadas, vinte foram executadas (19 delas por enforcamento, 14 mulheres e cinco homens). Uma mulher idosa foi executada por esmagamento com pedras. Um outro homem, Giles Corey, foi pressionado à morte por recusar-se a confessar. Pelo menos cinco pessoas morreram na prisão.

A caça às bruxas tornou-se comum na Europa entre os anos 1300 e 1600. Acreditava-se que o diabo podia se apoderar dos corpos e das mentes das pessoas e fazê-las agir em seu benefício, com poderes sobrenaturais. Em função disso, qualquer ato ou comportamento que pudesse sugerir algo semelhante era julgado e punido em tribunais religiosos puramente subjetivos, baseados na aparência das ações, com punições severas que, não-raro, resultavam na morte do acusado.

Havia também, é claro, manipulação dos fatos ou das versões somente para incluir entre os acusados meros opositores de uma ideia, família ou condição. Ou seja, o fanatismo como princípio de manipulação social. E assim mataram-se milhares.

Os acontecimentos em Salem se dão já no final desse fenômeno na Europa, mas fora dela ainda perduraram esses conceitos e práticas por mais alguns anos.

Foram esses eventos reais na Massachusetts do século XVII que inspiraram Miller a criar um texto poderoso, capaz de evocar o quanto as pessoas podem ser cruéis e insanas sob determinadas condições. A peça, portanto, é muito apropriada para os dias em que estamos vivendo, aliás: histerias coletivas, ódios exacerbados, fanatismo, conservadorismo e julgamentos cruéis passaram a ser o dia a dia de muita gente.

FILME E FIGURINOS

Em 1996, “As Bruxas de Salem” virou um filme dirigido por Nicholas Hytner (“The Crucible”) com roteiro do próprio Arthur Miller, estrelado por Winona Ryder, Joan Allen e Daniel Day-Lewis. Foi esse filme que Alexandre Damascena, o professor-diretor, mostrou para os atores e eles se apaixonaram. Daí para a adaptação foi um pulo.

“Eles passaram a pesquisar tudo sobre a peça. A nossa adaptação se deu em função do número de pessoas na turma [são 12]. Como tínhamos poucas meninas, tivemos que transformar alguns personagens em masculinos e um aluno se oferecer para fazer um papel feminino”, conta o diretor.

Ele explica também porque a peça é importante e se mantém atual, mesmo escrita na década de 1950 sobre fatos do século XVII: “O texto levanta questões que são muito atuais ainda. A primeira são as fake news. Abigail, interessada em Proctor, inventa que a esposa dele está envolvida em bruxaria para poder separá-la do marido. E temos também a questão da forma como as pessoas eram julgadas como bruxas e condenadas apenas por convicções religiosas”.

O empenho da equipe do espetáculo foi notável, segundo Damascena. Um exemplo é o trabalho de Yagor Togni, de 23 anos, que já é ator, mas que participou dessa montagem como figurinista. Ele já havia trabalhado em figurinos em outra peça, mas nessa ele considera um trabalho “mais sério”, pois teve que pesquisar sobre a época em que se passam os fatos, a adequação de cores de acordo com os costumes sociais etc.

Yargo Togni, que fez os figurinos da peça com cortinas velhas e doações. Empenho da equipe para apresentar espetáculo depois de se apaixonarem pelo texto (Arquivo pessoal)

“Alguns figurinos já estavam prontos, outros eu só reformei para se adequarem ao personagem, outros criei do zero e assim fui fazendo”, conta o jovem, que também providenciou adereços para complementar o vestuário dos atores.

Ele trabalha no chão do quarto, com uma máquina de costura que só funciona no manual. Para “As Bruxas de Salem” ele usou cortinas velhas, algumas jaquetas e material de doações. Na foto que ilustra essa matéria, dá para perceber a excelência dos figurinos.

Outro ponto que o diretor ressalta para atrair os espectadores: “os atores estão muito bem”, avalia Alexandre Damascena. Então, tem mais gente boa nesse mercado tão competitivo e uma peça ótima para assistir em Itaguaí.

Resta também torcer para que a apresentação não seja única.

SERVIÇO

AS BRUXAS DE SALEM

ELENCO – Com: Bachour; Kaze Rangel; Sol Monteiro; Jonathan Matos; Rodrigo Santtos; Mauricio Moraes; Nina Lim; Kalel Knauer; Bibi Lima; Isabella Brito; Thiago Mabel; Glesdisthony; e Isabella Brito.

PARTICIPAÇÃO de Danielle Valente.

FIGURINOS: Yagor Togni.

CARTAZ: Amanda Hellen.

DIREÇÃO: Alexandre Damascena.

LOCAL: Teatro Marilu Moreira (Avenida Amélia Louzada, s/n – ao lado da Câmara Municipal)

INGRESSOS GRATUITOS: As pessoas que quiserem assistir devem ir ao teatro no horário comercial e colocarem seus nomes na lista.

Redação

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