Variedade, preço e até ‘linha erótica’: os trunfos de confeiteiras autônomas de Itaguaí para a Páscoa

Seja em entrevistas na TV ou em postagens nas redes sociais, é quase uma unanimidade: os preços de ovos, barras e afins às vésperas da Páscoa estão de assustar. O vilão, claro, é o chocolate, que aumentou 12% nos últimos doze meses, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) da Fundação Getúlio Vargas. Para se ter uma ideia, a elevação no índice geral foi 4,5%.

Mas para quem não é de deixar a data passar em branco, uma alternativa a supermercados, lojas de departamento e especializadas pode ser comprar no comércio do bairro. Neste caso, as confeiteiras autônomas que veem a data pascal como o momento ideal para lucrar e, muitas vezes, ganhar o que não se ganha em nenhum outro mês.

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Das que atendem em Itaguaí, o ATUAL conversou com duas representantes. Lucilene Quadros, que também atende por Luh Cakes, e Francielle Souza, a Fran, que já estão na expectativa – e no ritmo frenético – para a “chegada do coelhinho” em 2023.

Além de preços mais em conta, elas também enxergam como trunfo sobre o grande varejo um leque mais variado de opções, que vão desde as mais pedidas – os ovos de colher – às personalizadas – um controle de vídeo game para a garotada, por exemplo –, passando pelas criativas – como uma espécie de bombom que simula ovo frito, com direito a clara e gema.

Lucilene Quadros, a Luh Cakes, está no ramo há oito anos (Arquivo pessoal)

O BOLSO AGRADECE

O ovo frito de chocolate, aliás, é o que a Luh Cakes e Delícias (@luhcakesedelicias) tem de mais em conta. A guloseima custa apenas R$ 5.

O baixo preço, no entanto, não significa baixa qualidade: “Na confeitaria artesanal, o cliente encontra qualidade e preço justo em um produto feito com muita dedicação”, detalha a comerciante, que mora no bairro vizinho Campo Grande, mas atende em Itaguaí, para onde vai com frequência por motivos de trabalho (também é cuidadora de idosos) e estudo (cursa Enfermagem).

Já na Delícias da Fran (@delicias_da_fran2019) – que a empreendedora opera na própria casa, no bairro Parque Primavera – o consumidor encontra presentes com valores bem acessíveis, entre R$ 20 (150g) a R$ 65 (350g): “Temos ótimos preços”.

Ovo de colher em formato de coração e infantil estão no cardápio da Luh Cakes e Delícias (Arquivo pessoal)

E O GRANDE COMÉRCIO?

Não necessariamente para efeitos de comparação, mas apenas para atualizar o leitor sobre os valores do grande comércio, a reportagem visitou, na quinta-feira (30), os sites de quatro marcas presentes em Itaguaí.

Na Casa & Vídeo, os ovos de Páscoa, produto mais emblemático da data, estavam com preços relativamente amigáveis. Desde R$ 9,99 (Divino Vício/50g) até R$ 109,99 (Ferrero Rocher/365g), passando por outras faixas como R$ 24,99, R$ 44,99 e R$ 69,99.

Há ainda outras alternativas, como caixas de bombom – entre R$ 13,99 (Garoto) e R$ 32,99 (Ferrero Rocher) – e barras – de no máximo 12,99 (165g).

No Supermercados Guanabara, um encarte com validade até segunda (3) mostrava barras entre 80g e 90g a R$ 3,99 e caixa de bombons (250g) a R$ 8,99. Já os ovos, entre infantis e tradicionais, de marcas como Lacta, Garoto e Nestlé, de 166g a 215g, a rede preferiu não colocar os valores, somente um selo escrito “oferta especial”.

As Lojas Americanas, em processo de recuperação judicial,têm apostado (ao menos no site) em combos – talvez uma boa opção para quem pretende presentear a família toda. Por exemplo, um kit com seis ovos Ferrero Rocher custava R$ 817, enquanto um com quatro ovos Nestlê Galak saía por R$ 259,90.

Mas também havia produtos bem mais em conta, com ovos das marcas d’Elicce e Arcor, entre 45g e 80g, até R$ 25.

Já a Cacau Show, que é do ramo, apresentava uma tabela de preços de ovos que ia de R$ 12,90 (40g) a inacreditáveis R$ 1,090 (7kg). No meio-termo, chocolates a R$ 23,90 (80g), R$ 59,90 (280g), R$ 99,90 (400g) e R$ 329,90 (2kg).

Ovos de colher de diferentes estilos da Delícias da Fran (Arquivo pessoal)

PARA TODOS OS GOSTOS

Mas não se trata de preço, garantem as comerciantes independentes. Há ainda o fator diversidade de sabores, combinações e estilos – lembra do ovo frito? – que dificilmente se encontra nas lojas maiores.

Com oito anos no ramo, Luh procura não se restringir aos tradicionais ovos simples, barras e caixas de bombom. Em seu cardápio, ela reúne também trufas, além de diferentes tipos de ovos, como infantis, trufados, salgados e os de colher: “Estes são os queridinhos do momento”, destaca a empreendedora, que trabalha ainda com chocolates em formatos, por assim dizer, anatômicos.

A linha erótica, como ela chama, tinha como alvo o Dia dos Namorados, mas, pelo visto, já começa a ganhar fãs também em outra data: “Já tenho pedidos deles para essa Páscoa”, avisa.

Com um menu parecido, Fran – que vive exclusivamente da confeitaria há cinco anos – assegura que a variedade e a personalização para cada perfil de cliente fazem a diferença no negócio: “Temos uma infinita variedade de sabores, opções de casca, tamanhos… Posso afirmar que isso conta muito para um negócio. São coisas únicas, o cliente monta o ovo dele”, salienta ela, que nos infantis, envia até brinde, como kits de massinha e de colorir.

O repertório diverso da Luh Cakes: ovo frito, chocolate em formate de joystick e a linha erótica (Arquivo pessoal)

EXPECTATIVA ALTA

Com preços, repertório, dedicação e outros trunfos mais, elas se mostram preparadas para a Páscoa 2023, a data, obviamente, de maior expectativa no ano para quem empreende com chocolate: “As vendas ao longo do ano são boas. Como em todo comércio, temos altos e baixos. Mas nada se compara à Páscoa”, reconhece Fran, que tem a parceria do marido nas produções.

Na mesma linha, Luh, que trabalha sozinha, ressalta que o tempo na confeitaria a fez criar uma cartela de clientes que garantem as vendas em outros meses: “Na Páscoa, dobro o faturamento. E durante o ano, as vendas ficam mais por conta do cliente fiel, aquele que lembra de você até quando vai fazer um lanchinho com os amigos, até porque trabalho com todo tipo de bolos e doces”.

HÁBITOS PERSISTEM

Entretanto, apesar das boas perspectivas para o feriado que se aproxima – e de todas aquelas cartas na manga –, elas entendem que o hábito da população em geral de recorrer a grandes lojas na hora de comprar os chocolates de Páscoa ainda é forte.

Luh atribui a realidade a outros costumes do cliente em geral: “Acho que na correria do dia-a-dia, as pessoas buscam aquilo que é mais prático. E também porque, assim como em outras datas, deixam para comprar em cima da hora”.

Enquanto Fran atribui a questão a um “pé atrás” de potenciais fregueses: “Muita gente fica com receio pela qualidade do chocolate, de as fotos nas redes sociais serem fake”, exemplifica ela, apontando ainda um outro motivo: “Tem muitas pessoas querendo passar a perna, e, infelizmente, quem vive disso acaba prejudicado”.

ROTINA PESADA

Agora, para você que chegou aqui, uma situação é provável: estar com água na boca depois de ler tanto sobre chocolate. Já para aqueles com espírito empreendedor, é possível também que esteja passando pela cabeça a ideia de mudar de lado: de cliente a confeiteira (o).

Pois saiba que a rotina tende a ser pesada conforme a Páscoa se aproxima: “Durmo às 2h e acordo às 6h (risos). Muita correria na compra dos ingredientes, nos atendimentos…”, detalha Luh.

Os esforços, inclusive, podem demandar até renunciar aos dias que costumam ser de descanso: “Já começo a me preparar após o Carnaval. Acordo cedo, durmo tarde, não tenho fim de semana. É uma verdadeira maratona”, compara Fran, ressaltando, porém, que vê o esforço como válido: “Respiro Páscoa”.

Luiz Maurício Monteiro

Repórter com mais de 15 anos de trajetória e passagens por diferentes editorias, como Cidade, Cultura e Esportes.

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