Dona Maria (E) e Patrícia: mulheres e empreendedoras na cidade de Itaguaí (Arquivo pessoal)
O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou na semana passada novos dados do Censo 2022, que mostram 104,5 milhões de mulheres em território nacional contra 98,5 milhões de homens. E assim como no Brasil, em Itaguaí, elas também estão em maior número.
De acordo com a pesquisa, o município – com um total de 116.841 habitantes – é povoado por 59,8 mil mulheres e 57 mil homens, uma superioridade numérica que, segundo relatos, vem acompanhada da conquista de novos espaços e de mais igualdade.
O ATUAL conversou com duas itaguaienses que destacaram a área onde trabalham, o empreendedorismo, como um símbolo da força feminina. Ou seja, mulheres que abrem o próprio negócio, desafiam o incerto e provêm o próprio sustento, algo que a sociedade conferiu somente aos homens por muitos anos.
Patrícia Firmes, 43 anos, é a mente por trás do Espaço da Beleza – Sala Rosa, um estúdio de beleza na Avenida Paulo de Frontin (227/202), no Centro, voltado para venda de cosméticos e treinamento de profissionais.
Em um negócio que lida com autoestima, uma característica comumente atribuída às mulheres se torna uma trunfo diante da clientela: “Acho que a mulher consegue não ser só razão, mas também coração. Ela quer faturar, claro, mas também quer ajudar”, destaca a empreendedora, que coordena uma equipe de cerca de 80 profissionais – além do lar, onde mora com o marido e dois filhos adolescentes.
Já Dona Maria Resende, de 57 anos, comanda uma equipe de quatro parceiras (que ela não chama de funcionárias) em sua pensão no Itimirim, em Coroa Grande. No seu caso, inclusive, a determinação para empreender vem de longa data.
Isso porque, em 25 anos de cozinha, ela precisou por muitas vezes conciliar família e trabalho. Inclusive na fase em que ajudou na criação do neto: “Criei meu neto, hoje com 19 anos, embaixo do balcão. Trazia ele para a pensão às 4h e deitava ele embaixo do balcão enquanto trabalhava. Dava mamadeira e trocava fralda ali”, recorda Dona Maria, abre às 5h para servir café da manhã, almoço, bebidas e porções até as 18h.
LUGAR DE MULHER…
Além de abraçadas pelo empreendedorismo, Patrícia e Dona Maria são também testemunhas de que outros segmentos profissionais também têm sido mais acolhedores às mulheres do que em outros tempos.
Na família da própria Dona Maria, aliás, há exemplos de que mulheres podem ocupar profissões que há muito eram consideradas como tipicamente masculinas: “Tenho uma filha que pilota trator; uma técnica em segurança; e outra, soldadora. As mulheres sempre ocuparam aquelas mesmas posições, com os homens ganhando os maiores salários. Mas nós queremos igualdade”, brada.
Durante suas peregrinações em busca de novas consultoras de beleza, Patrícia também costuma observar mulheres no exercício de cargos que apenas homens ocupavam: “Antigamente, não víamos mulheres na polícia ou na limpeza urbana. Tenho muitas empresas clientes no Porto de Itaguaí. Na Nuclep, por exemplo, a maioria é feminina. Então, as mulheres hoje estão em áreas que antes não eram consideradas para elas”.
VOCAÇÃO
A propósito, Patrícia e Dona Maria são exemplos da máxima contemporânea que afirma categoricamente: “Lugar de mulher é onde ela quiser”.
No caso de Dona Maria, seu lugar até é na cozinha – versão anterior e machista da máxima. Mas ela só trabalha à beira do fogão por vocação: “É um vício. Sempre gostei de cozinha, então trabalhar com comida é ótimo. Dizem que tenho uma boa mão para comida. Graças a Deus sou bem-vista”, comemora ela, que está na Rua Braulio Rodrigues, número 5, desde 2017.
Alguns anos antes, porém, a atividade profissional com as panelas começou meio que por acaso: “Era cobradora de ônibus e entrei nessa por livre e espontânea pressão (risos). Meus sobrinhos abriram um restaurante, não puderam ficar e pediram que eu assumisse por 10 dias. Mas depois disseram que não ia ter jeito, e que eu precisaria continuar”.
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Já Patrícia – que começou como vendedora de produtos da empresa Mary Kay e hoje é diretora da marca em sua loja em Itaguaí – recorda que para trabalhar com o que ama precisou romper com uma tradição familiar. A empresária vem de uma família de trabalhadores concursados, o que a fez prestar um concurso para professora e passar.
Seu destino, porém, não viria a ser o mesmo de seus parentes: “Fui dar aula e não me adaptei. Amo dar aula, mas a rotina e o salário não eram para mim”, reconhece Patrícia, reforçando sua vocação: “Minha área lida com autoestima, e eu gosto de trabalhar esse relacionamento”.
UNIÃO
Sobre a relação entre razão e emoção que Patrícia menciona no início da reportagem, ela destaca que tal equilíbrio não vale apenas em relação às clientes, mas também dentro da própria equipe: “Muita gente acha que existe muita competição quando mulher trabalha com mulher. Mas não é bem assim. A gente ajuda uma à outra, agrega com os conhecimentos diferentes de cada uma”.
Já para Dona Maria, agregar significa ignorar até eventuais momentos em que pensa “chega!”. A empreendedora afirma que seu negócio não atravessa uma fase boa, principalmente depois da implementação do pedágio na Rio-Santos (BR-101) em março: “Estamos no vermelho. Principalmente, por causa do pedágio, que fez movimento cair 70%”, estima ela, que não pretende desistir: “Sou bem teimosa. Pego daqui, cubro ali, e assim vou… Na esperança por um 2024 melhor”.
E uma das razões que faz Dona Maria seguir com as portas abertas é a sua equipe: “Se eu desistir, sobrevivo. Mas elas ficarão desempregadas. Penso em mim e nelas. Até quando já pensei em desistir, estiveram ao meu lado. Lutamos juntas. Por isso não tenho como parar”, reforça a cozinheira.
As mulheres também não pretendem parar, Dona Maria!
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